CAP 8
Lucila estava tensa. Sabia que Bruna perdoaria até um caso de Juca, mas nunca uma tramóia que prejudica a população do Rio. Bruna era politicamente correta, certinha, a pessoa mais honesta que Lucila conhecia.
Particularmente Lucila tinha um pé atrás com Malu, a assistente de Juca, mas não podia afirmar que eles tinham algo mais além de serem cúmplices nos golpes com o governo.
Lucila já não sabia mais onde procurá-la. Tinha ligado pros pais de Bruna, pra Ana, pras amigas da academia. Ninguém sabia dela. O celular sempre desligado. Lucila estava muito preocupada. Foi quando teve uma idéia. Já era quase meia-noite, mas mesmo assim resolveu ligar.
- Alô? Rafael? Oi Rafa, é Lucila. Desculpa te ligar esta hora, não ligaria se não fosse importante. Você estava dormindo?
Depois de alguns segundos de silêncio, respondeu com uma voz meio desconfiada:
- Oi Lucila. Não estava dormindo, infelizmente. Ainda estou trabalhando. Tenho uma audiência importante em dois dias, precisava adiantar algumas coisas. Mas o que houve? Está tudo bem? Você parece nervosa?
- Ahhh e estou. Aconteceram muitas coisas nas últimas 24 horas envolvendo a Bruna. Preciso de sua ajuda.
- A Bruna? Ela está bem?
- Rafa, espero que sim. Mas não dá pra explicar por telefone. Posso ir até ai?
- Não. É tarde. Já estou de saída. Eu passo aí. Em vinte minutos eu chego. Tudo bem?
- Tudo ótimo. Ainda sabe o caminho?
- Nunca esqueci.
Vinte minutos depois, Rafael estava na casa de Lucila. Apesar da situação tensa, Lucila se preocupou mais do que deveria com sua aparência. Retocou a maquiagem, calçou e descalçou sandálias até que decidiu ficar descalça. Arrumou as almofadas e borrifou colônia.
Tinha sido uma decisão difícil pedir ajuda ao Rafa. Mesmo sabendo que ele ajudaria com boa vontade. Aliás, talvez por saber disso, Lucila ficou apreensiva. Eles não se viam há muito tempo. Certamente há mais de dois anos nem se esbarravam. A última vez que realmente estiveram juntos foi quando foram padrinhos do casamento de Bruna e Juca.
Rafa e Lucila namoraram por muitos anos, com muitos términos, idas e vindas. Sempre que acabava Lucila jurava que seria pra sempre. Mas era só encontrar-se com Rafa por acaso, que os dois já ficavam juntos novamente. Rafa era o tipo do cara que fazia sucesso com suas amigas. Ele era divertido, comunicativo, além de ser muito bonito. Mas o que tinha de divertido, tinha de galinha. Não conseguia se manter longe de armações com outras mulheres, mentia com uma facilidade incrível e sem nunca perder o charme. Eles terminaram de vez na festa de casamento de Bruna e Juca. Quando Rafa se superou.
Que Rafa era infiel, era impossível desmentir, mas ninguém podia imaginar tamanha cara de pau. Simplesmente Rafa estava saindo com uma das madrinhas de Juca. Uma prima de Brasília, que ele furtava beijos atrás de pilastras ou no banheiro masculino. Tudo isso ali, com Lucila há poucos metros e comemorando o dia mais feliz da vida de uma de suas grandes amigas, e já sonhando no momento do buquê. Durante toda a festa Rafa dava suas escapadinhas, até que para azar dele, foi flagrado por Ana.
Sem nenhuma dúvida, Ana correu pra contar o que viu à amiga. Na hora que conversavam, André, namorado de Ana, confessou já ter visto ele com a menina em outros momentos da festa. Lucila não podia acreditar. Ele realmente chegara a um ponto inacreditável, imperdoável.
Desta vez, diferente das outras, Lucila não gritou, não se defendeu, nem mesmo justificou o motivo do término. Simplesmente falou:
- Acabou. É pra valer. Eu não quero ser nem sua amiga. Por favor, nunca mais me
procure.
Rafael tentou se defender. Falava em vão, Lucila não ouvia nada. Ela não estava chorando, nem lamentando. Era uma tristeza pior, mais profunda. Era a certeza de que tantos anos de relacionamento não mudaram em nada Rafael. “Ninguém Muda”- pensava agora com toda certeza do mundo.
Depois deste dia, Rafael ainda tentou falar com ela algumas vezes, mas também desistiu. Eles se cruzaram poucas vezes em aniversários de amigos em comum, ou na noite do Rio. Sempre sem mais do que se cumprimentar, de preferência de longe. Era estranho, mas tinha que ser assim. Lucila sabia que não podia ficar perto de Rafael, que com o tempo iria minimizar todos seus erros, e acabar cedendo a seus encantos, como sempre.
E agora ela mesma tinha ligado pra ele. Não tinha alternativa. Nenhum outro advogado que conhecia poderia entender essa história maluca e ainda assim ser discreto.
Além disso, ele conhecia Bruna e Juca muito bem. Talvez ainda tivesse laços com o casal, Lucila não saberia. Ela mesma havia pedido pra não saber notícias de Rafa. Certamente Bruna não contaria se ainda tivesse contato com Rafael.
Lucila estava nervosa em revê-lo. Não queria. Ou queria? Não interessava agora. Pensava que tinha feito a coisa certa. Tinha que pensar primeiro em Bruna.
Então, a campainha tocou.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
CAPÍTULO 7
Na manhã daquele mesmo dia Bruna tinha recebido em sua casa um envelope com provas de todas as armações do seu marido. Eram cópias de vários documentos como comprovantes de depósitos, orçamentos falsos, notas fiscais. Tudo assinado por ele. Ela não tinha idéia de quem pudesse ter enviado aqueles documentos, mas tinha certeza da veracidade deles. Ainda mais depois de se confrontar com Juca, não havia mais nenhuma dúvida.
Bruna não se contentaria apenas em pedir o divórcio, tinha a intenção de entregar os documentos à polícia e permitir que assim, se fizesse justiça. Bruna não seria conivente com tanta sujeira.
Ainda atordoada com a confusão na JAEH, Lucila também parecia exausta. Não via a hora de ir pra casa. Bruna, a convite da amiga, ficaria alguns dias na casa de Lucila.
Chegaram em casa, e se jogaram no sofá. Antes mesmo de começarem a se arrumar pra jantar ou tomar banho, ambas desmaiaram de cansaço e só acordaram no dia seguinte, com o barulho da porta.
- Bom dia Dona Lucila! – gritava feliz Jandira, a faxineira. Sempre bem-humorada, já chegou empurrando móveis e enrolando tapetes.
Em um susto, acordou Bruna, que ainda meio zonza foi para o banheiro. Então Lucila explicou:
- Jandira, a Bruna vai ficar uns dias aqui. A roupa e a bagunça devem aumentar um pouco, mas a gente acerta uma diferença, ok?
- Sem problemas, D. Lucila, casa sem homem é sempre mais fácil.
Jandira adorava essa frase “casa sem homem é sempre mais fácil”. - Fácil pra quem? Pensava Lucila. Tudo o que ela queria era uma casa bem difícil! Mas com homem dentro! Mas, agora, ela tinha uma hóspede e não podia perder tempo pensando nisso. Correu pro quarto, pois já estava na hora de ir pro escritório.
As duas tomaram café e Lucila saiu, deixando Bruna abatida e monossilábica. Hoje ela iria encontrar seu advogado, apresentar tudo o que tinha nas mãos e saber como prosseguir.
Lucila seguiu para o escritório. Chegando lá deu de cara com Carla que perguntou:
- Achou o vestido? Menina, to tensa! Não acho nada em lugar nenhum – sempre fazendo várias coisas ao mesmo tempo, Carla parecia ligada na tomada. Muitas vezes chegava a ser antipática com esse seu jeito de perguntar e não escutar a resposta.
Sabendo que Carla não ficaria para ouvir a resposta à sua pergunta, Lucila continuou caminhando em direção a sua mesa. Com um suspiro, colocou a bolsa sobre a cadeira e ligou seu computador.
Lucila estava com trabalho atrasado. Não imaginava que ontem sairia pra almoçar e não voltaria. Mas com os acontecimentos com Bruna, ligou explicando que se tratava de uma emergência familiar. E por causa disso, Clô se sentiu a vontade em perguntar:
- Alguém doente na família? É grave? O que é? Está internado? Onde? – como boa hipocondríaca, poderia sugerir um milhão e meio de doenças e ainda explicar o tratamento de qualquer uma delas.
Lucila se limitou a responder:
- Não é problema de saúde. Mas obrigada pela preocupação. – Pegando o fone do telefone, a fim de encerrar a conversa.
Lucila mergulhou no trabalhou. Quando percebeu já eram quase nove da noite e se lembrou de Bruna. Fechou suas coisas e voltou pra casa. Talvez pudessem sair pra comer alguma coisa ou até ir ao cinema. Ou qualquer programa que aliviasse a cabeça da amiga.
Chegando em casa se surpreendeu com a escuridão. Bruna não estava em casa. Deixou apenas um bilhete:
Lú,
Obrigada por tudo, mas precisei ir embora. Por favor, não conte a ninguém sobre os documentos.
Mais uma vez obrigada pelo carinho e pela ajuda.
Um beijo, Bruna.
Lucila releu o bilhete e continuava sem entender. Pra onde Bruna teria ido? E por quê?
Bruna não se contentaria apenas em pedir o divórcio, tinha a intenção de entregar os documentos à polícia e permitir que assim, se fizesse justiça. Bruna não seria conivente com tanta sujeira.
Ainda atordoada com a confusão na JAEH, Lucila também parecia exausta. Não via a hora de ir pra casa. Bruna, a convite da amiga, ficaria alguns dias na casa de Lucila.
Chegaram em casa, e se jogaram no sofá. Antes mesmo de começarem a se arrumar pra jantar ou tomar banho, ambas desmaiaram de cansaço e só acordaram no dia seguinte, com o barulho da porta.
- Bom dia Dona Lucila! – gritava feliz Jandira, a faxineira. Sempre bem-humorada, já chegou empurrando móveis e enrolando tapetes.
Em um susto, acordou Bruna, que ainda meio zonza foi para o banheiro. Então Lucila explicou:
- Jandira, a Bruna vai ficar uns dias aqui. A roupa e a bagunça devem aumentar um pouco, mas a gente acerta uma diferença, ok?
- Sem problemas, D. Lucila, casa sem homem é sempre mais fácil.
Jandira adorava essa frase “casa sem homem é sempre mais fácil”. - Fácil pra quem? Pensava Lucila. Tudo o que ela queria era uma casa bem difícil! Mas com homem dentro! Mas, agora, ela tinha uma hóspede e não podia perder tempo pensando nisso. Correu pro quarto, pois já estava na hora de ir pro escritório.
As duas tomaram café e Lucila saiu, deixando Bruna abatida e monossilábica. Hoje ela iria encontrar seu advogado, apresentar tudo o que tinha nas mãos e saber como prosseguir.
Lucila seguiu para o escritório. Chegando lá deu de cara com Carla que perguntou:
- Achou o vestido? Menina, to tensa! Não acho nada em lugar nenhum – sempre fazendo várias coisas ao mesmo tempo, Carla parecia ligada na tomada. Muitas vezes chegava a ser antipática com esse seu jeito de perguntar e não escutar a resposta.
Sabendo que Carla não ficaria para ouvir a resposta à sua pergunta, Lucila continuou caminhando em direção a sua mesa. Com um suspiro, colocou a bolsa sobre a cadeira e ligou seu computador.
Lucila estava com trabalho atrasado. Não imaginava que ontem sairia pra almoçar e não voltaria. Mas com os acontecimentos com Bruna, ligou explicando que se tratava de uma emergência familiar. E por causa disso, Clô se sentiu a vontade em perguntar:
- Alguém doente na família? É grave? O que é? Está internado? Onde? – como boa hipocondríaca, poderia sugerir um milhão e meio de doenças e ainda explicar o tratamento de qualquer uma delas.
Lucila se limitou a responder:
- Não é problema de saúde. Mas obrigada pela preocupação. – Pegando o fone do telefone, a fim de encerrar a conversa.
Lucila mergulhou no trabalhou. Quando percebeu já eram quase nove da noite e se lembrou de Bruna. Fechou suas coisas e voltou pra casa. Talvez pudessem sair pra comer alguma coisa ou até ir ao cinema. Ou qualquer programa que aliviasse a cabeça da amiga.
Chegando em casa se surpreendeu com a escuridão. Bruna não estava em casa. Deixou apenas um bilhete:
Lú,
Obrigada por tudo, mas precisei ir embora. Por favor, não conte a ninguém sobre os documentos.
Mais uma vez obrigada pelo carinho e pela ajuda.
Um beijo, Bruna.
Lucila releu o bilhete e continuava sem entender. Pra onde Bruna teria ido? E por quê?
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
CAPÍTULO 6
O prédio não era imponente como era de se esperar. Na verdade, era bem mais simples do que o tamanho da empresa pedia. Isso não impediu Bruna em pensar que tudo aquilo pertencia a um homem sem nenhum caráter.
As duas pegaram crachás, mas é claro, sem necessidade de serem anunciadas. Todos os funcionários sabiam que Bruna era a primeira dama da JAEH. Pegaram o elevador até o décimo quinto andar, onde seguiram por um corredor até a recepção. A recepcionista sorriu pra Bruna e disse que seu marido estava na sala. Bruna não respondeu e decidida marchou até a sala de Juca.
Pra surpresa das duas, quem estava em pé ao lado da cadeira de Juca, era a tal assistente Manoela. Manú, como ela gostava de se apresentar. Os dois olhavam alguma coisa na tela do computador. O clima de cumplicidade era indiscutível e ressaltava a intimidade que um tinha com o outro.
Bruna parou por um instante para observar a cena. Lucila ficou logo atrás. Não demorou muito para que Juca as notasse na porta. Levantando da cadeira de pressa, quase deu um empurrão em Manú. Ele sorriu e abriu os braços em direção de Bruna
- Meu amor! Que surpresa maravilhosa! Lucila, que bom te ver!
Bruna se esquivou e entrou na sala. Quando Manú, com um falso ar tímido falou:
- Bom vou deixar vocês a sós. Com licença.
Com a mão estendida, Bruna a parou e disse:
- Você fica! – olhando pra porta fez sinal com a cabeça para que Lucila entrasse.
Lucila entrou e fechou a porta atrás dela. Ficaram os quatro na sala de pé. Juca fazia cara de interrogação, enquanto Manú procurava uma posição em cima do salto alto. Bruna andava de um lado pra outro, como se procurasse as melhores palavras. Mas não havia boas palavras nesse momento. Então olhou pra Juca e quase chorando disse:
- Juca, ao longo da minha vida, já havia conhecido muitos canalhas. Homens fracos, idiotas, mentirosos. Passei por cima de todas essas decepções acreditando que iria encontrar um homem correto, que me fizesse feliz. E eu achei que tinha encontrado. Aliás, todo mundo achou que eu era uma garota de muita sorte. – Bruna estava ficando vermelha, como se a raiva subisse pelo seu pescoço. – Mas eu não tive sorte nenhuma. Tudo que eu acreditava era um sonho. Ou seria um pesadelo?
Com os olhos arregalados, já suando, Juca balbuciou:
- Bruninha, do que você está falando, meu amor?
- Meu amor? Que amor Juca? Quem ama não mente, não esconde, não finge ser o que não é! Quem ama não engana desta maneira! Você é mau caráter, um canalha, um asqueroso que consegui se passar por um homem bom. Me enganou. Eu cai que nem um patinho! Todo esse tempo! Meu Deus! Mudei minha vida em função de um homem que é um blefe.
- Bruna...eu....não sei... – tentou mais uma vez, Juca.
Mas Bruna imediatamente o cortou:
- Cala a boca, Juca! Não tenta falar nada! Vai ser pior! Eu sei de tudo. Sei de tudo que você e essa mulherzinha aí andam aprontando. Nunca imaginei, juro! Mas já era! A farsa acabou e eu quero divórcio. E quero agora!
- Bruna, não se precipite, eu posso explicar. Não sei como você ficou sabendo, mas tudo tem uma explicação. Fiz algumas besteiras! Foi um erro! Me deixe pelo menos tentar explicar, meu amor. Eu te amo! Só você que eu amo!Não posso te perder.
Manú, que acompanhava tudo atenta, não parecia nervosa. Em alguns momentos até podia-se pensar que ela estava gostando do que via. Porém ao ouvir de Juca que ele tinha cometido um erro, ela arregalou as sobrancelhas e fechou a cara.
Lucila se escorava na porta, preocupada com as veias que saltavam no rosto da amiga, que agora gritava:
- Não fala mais nada Juca! Eu sei que você é um nojento! Um mentiroso! Como eu pude dormir ao lado de um homem sem ética como você? - Bruna precisou se apoiar em uma estante para continuar – Você me enganou! Mas o pior é que eu sou a menos prejudicada dessa história.
Juca se sentou. Apoiando a cabeça com as mãos parecia que o mundo caía sobre a sua cabeça. Bruna não se conteve apesar da insuportável dor de cabeça que sentia. Falando mais pausadamente e olhando fixamente pro marido, continuou:
- Você pode imaginar quantas pessoas morreram por sua causa? Quantas pessoas têm seqüelas graves por falta de tratamento adequado? Quantas famílias foram destruídas? Não! Você não pensa nisso. Você só pensa no dinheiro. Em fazer a empresa crescer, fazer cada vez mais contratos obscuros. Quantos contratos com o governo? Um atrás do outro, não é? Todos de fachada. Vendia equipamentos hospitalares superfaturados e ainda assim não os entregava. Milhões de dólares em falcatruas. Quantos colarinhos brancos você sustenta, Juca?
Bruna se mostrava cansada, a cada minuto fazia mais força pra falar. Mas precisava terminar:
- É Juca . E você ainda posa de empresário preocupado, lançando projetos de sustentabilidade e de apoio à pesquisas da universidade. Que palhaçada! E essa vadia? Assistente de um merda! Está aprendendo direitinho a ser corrupta, hein? Parabéns!
Lucila passou mão na cintura de Bruna e sussurrou:
- Chega Bruna, vamos embora.
Bruna não reagiu, olhou mais uma vez pros dois e disse:
- Vou mandar pegar minhas coisas. Meu advogado vai te procurar. E não se preocupe, pois eu não quero um tostão deste dinheiro imundo.
Lucila a puxou e as duas saíram do escritório.
As duas pegaram crachás, mas é claro, sem necessidade de serem anunciadas. Todos os funcionários sabiam que Bruna era a primeira dama da JAEH. Pegaram o elevador até o décimo quinto andar, onde seguiram por um corredor até a recepção. A recepcionista sorriu pra Bruna e disse que seu marido estava na sala. Bruna não respondeu e decidida marchou até a sala de Juca.
Pra surpresa das duas, quem estava em pé ao lado da cadeira de Juca, era a tal assistente Manoela. Manú, como ela gostava de se apresentar. Os dois olhavam alguma coisa na tela do computador. O clima de cumplicidade era indiscutível e ressaltava a intimidade que um tinha com o outro.
Bruna parou por um instante para observar a cena. Lucila ficou logo atrás. Não demorou muito para que Juca as notasse na porta. Levantando da cadeira de pressa, quase deu um empurrão em Manú. Ele sorriu e abriu os braços em direção de Bruna
- Meu amor! Que surpresa maravilhosa! Lucila, que bom te ver!
Bruna se esquivou e entrou na sala. Quando Manú, com um falso ar tímido falou:
- Bom vou deixar vocês a sós. Com licença.
Com a mão estendida, Bruna a parou e disse:
- Você fica! – olhando pra porta fez sinal com a cabeça para que Lucila entrasse.
Lucila entrou e fechou a porta atrás dela. Ficaram os quatro na sala de pé. Juca fazia cara de interrogação, enquanto Manú procurava uma posição em cima do salto alto. Bruna andava de um lado pra outro, como se procurasse as melhores palavras. Mas não havia boas palavras nesse momento. Então olhou pra Juca e quase chorando disse:
- Juca, ao longo da minha vida, já havia conhecido muitos canalhas. Homens fracos, idiotas, mentirosos. Passei por cima de todas essas decepções acreditando que iria encontrar um homem correto, que me fizesse feliz. E eu achei que tinha encontrado. Aliás, todo mundo achou que eu era uma garota de muita sorte. – Bruna estava ficando vermelha, como se a raiva subisse pelo seu pescoço. – Mas eu não tive sorte nenhuma. Tudo que eu acreditava era um sonho. Ou seria um pesadelo?
Com os olhos arregalados, já suando, Juca balbuciou:
- Bruninha, do que você está falando, meu amor?
- Meu amor? Que amor Juca? Quem ama não mente, não esconde, não finge ser o que não é! Quem ama não engana desta maneira! Você é mau caráter, um canalha, um asqueroso que consegui se passar por um homem bom. Me enganou. Eu cai que nem um patinho! Todo esse tempo! Meu Deus! Mudei minha vida em função de um homem que é um blefe.
- Bruna...eu....não sei... – tentou mais uma vez, Juca.
Mas Bruna imediatamente o cortou:
- Cala a boca, Juca! Não tenta falar nada! Vai ser pior! Eu sei de tudo. Sei de tudo que você e essa mulherzinha aí andam aprontando. Nunca imaginei, juro! Mas já era! A farsa acabou e eu quero divórcio. E quero agora!
- Bruna, não se precipite, eu posso explicar. Não sei como você ficou sabendo, mas tudo tem uma explicação. Fiz algumas besteiras! Foi um erro! Me deixe pelo menos tentar explicar, meu amor. Eu te amo! Só você que eu amo!Não posso te perder.
Manú, que acompanhava tudo atenta, não parecia nervosa. Em alguns momentos até podia-se pensar que ela estava gostando do que via. Porém ao ouvir de Juca que ele tinha cometido um erro, ela arregalou as sobrancelhas e fechou a cara.
Lucila se escorava na porta, preocupada com as veias que saltavam no rosto da amiga, que agora gritava:
- Não fala mais nada Juca! Eu sei que você é um nojento! Um mentiroso! Como eu pude dormir ao lado de um homem sem ética como você? - Bruna precisou se apoiar em uma estante para continuar – Você me enganou! Mas o pior é que eu sou a menos prejudicada dessa história.
Juca se sentou. Apoiando a cabeça com as mãos parecia que o mundo caía sobre a sua cabeça. Bruna não se conteve apesar da insuportável dor de cabeça que sentia. Falando mais pausadamente e olhando fixamente pro marido, continuou:
- Você pode imaginar quantas pessoas morreram por sua causa? Quantas pessoas têm seqüelas graves por falta de tratamento adequado? Quantas famílias foram destruídas? Não! Você não pensa nisso. Você só pensa no dinheiro. Em fazer a empresa crescer, fazer cada vez mais contratos obscuros. Quantos contratos com o governo? Um atrás do outro, não é? Todos de fachada. Vendia equipamentos hospitalares superfaturados e ainda assim não os entregava. Milhões de dólares em falcatruas. Quantos colarinhos brancos você sustenta, Juca?
Bruna se mostrava cansada, a cada minuto fazia mais força pra falar. Mas precisava terminar:
- É Juca . E você ainda posa de empresário preocupado, lançando projetos de sustentabilidade e de apoio à pesquisas da universidade. Que palhaçada! E essa vadia? Assistente de um merda! Está aprendendo direitinho a ser corrupta, hein? Parabéns!
Lucila passou mão na cintura de Bruna e sussurrou:
- Chega Bruna, vamos embora.
Bruna não reagiu, olhou mais uma vez pros dois e disse:
- Vou mandar pegar minhas coisas. Meu advogado vai te procurar. E não se preocupe, pois eu não quero um tostão deste dinheiro imundo.
Lucila a puxou e as duas saíram do escritório.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
CAPÍTULO 5
O que se sabia é que Juca comandava várias empresas ligadas à equipamentos hospitalares. A principal era a JAEH - Juca Andrade Equipamentos Hospitalares, onde ele e Bruna se conheceram.
Bruna era formada em comunicação social e trabalhava como assessora de imprensa. Depois de trabalhar anos para uma empresa de aviação, pediu demissão ao descobrir que grande parte das informações que Bruna tinha que encaminhar à mídia, era falsa. Pouco tempo depois a empresa foi desmascarada, os donos foram indiciados e foi um grande escândalo noticiado pela TV e jornais.
Não só por esse episódio, mas também pelo caráter indiscutível de Bruna, que ela custou a achar um novo emprego que combinasse com o que ela esperava e com o que esperavam dela como profissional.
Foi quando surgiu a vaga na JAEH, uma empresa nacional, em ascensão na importação de equipamentos hospitalares. De origem familiar, havia sido comprada pelo empresário Juca Andrade, que transformou a pequena empresa em uma das mais importantes do mercado. A JAEH importava tecnologia hospitalar de ponta e também apoiava estudos para novos equipamentos, através de um incentivo à universidade estadual.
Ano após ano, tinha a empresa tinha aumento de faturamento e conseqüentemente aumentava também sua estrutura. Por isso a demanda de um novo profissional para dirigir o departamento de assessoria de imprensa.
Logo que soube da vaga, Bruna pesquisou sobre a empresa e de cara achou muito interessante o apoio às pesquisas da universidade estadual, principalmente para um segmento tão relevante como o da saúde. Interessada pelo emprego, caprichou no visual no dia da entrevista. Decorou algumas frases de efeito, intensificou as aulas de yoga para garantir uma aparência tranqüila e apostou no seu bom humor como aliado.
Foi recebida por Joana, diretora de RH, que após uma rápida entrevista anunciou que agora ela iria conversar com o dono da empresa, que fazia questão de estar à frente desta contratação. Bruna sentiu um friozinho na barriga. Conhecia Juca Andrade pelo nome, pelas conquistas e até por alguma vaidade publicada em uma ou outra coluna social. Nunca imaginaria a importância deste cargo para o próprio Juca, que sem ao menos pedir um filtro, falaria com todos os candidatos.
Mas não tiveram mais candidatos. A sinergia dos dois foi perfeita. Sem perceber, ficaram duas horas conversando, trocando experiências e é claro, Bruna respondeu de pronto a todas as perguntas da entrevista. Quando levantaram da mesa com sorrisos nos rostos, Juca pediu que Bruna voltasse com seus documentos para oficializar sua contratação.
Em dois meses Bruna já era muito próxima de Juca. Com freqüência almoçavam juntos ou tomavam um chope depois do expediente. Diferente do que Bruna normalmente sentiria, ela não estava preocupada com os comentários dos outros funcionários sobre o possível romance dos dois. Nem com os olhares desconfiados dos outros diretores, que se julgavam passados pra trás por um belo par de pernas.
Porém, apesar das fofocas nos corredores da empresa, o romance só começou no aniversário de 30 anos de Bruna.
Ela comemorou na parte fechada de um bar no Jardim Botânico. Foi uma festa animada, regada a cerveja e música ao vivo. Um amigo vocalista de uma banda de pop rock presenteou a mais nova balzaquiana, com um showzinho particular que embalou os convidados até altas horas da madrugada. Juca assim como outros funcionários da JAEH estavam presentes. Mas ninguém se fazia mais presente do Juca, que não tirava os olhos de Bruna e com um sorriso apaixonado a fitava cada vez que ela voltava para o seu lado. Bruna também parecia estar mais interessada em sua companhia do que qualquer outro na festa. Os dois riam e se tocavam. Dançavam, bebiam. Depois de certa hora, era impossível não notar o jogo de sedução dos dois. Sempre que tinha oportunidade Juca puxava Bruna pela cintura. Ela dissimulada, ria alto e abaixava a cabeça fugindo de qualquer tentativa de um beijo.
Porém a meia noite, depois de cantar os parabéns, o vocalista anunciou ao microfone que lhe haviam feito um pedido para tocar uma música. Lendo algo escrito em um guardanapo de papel, continuou:
- Não sei bem cantar essa, mas quem me pediu escreveu aqui que é dedicada para a aniversariante e esta música é uma forma que ele achou de dizer tudo o que está sentindo agora por ela. Ihhh o cara é bom, hein Bruna? Então vamos lá!!!!!
Todos aplaudiram. As mulheres soltaram gritinhos histéricos. A banda começou a tocar, quando no primeiro acorde, veio a letra de Marisa Monte: “Deixa eu dizer que te amo. Deixa eu gostar de você. “ – Mais gritinhos histéricos das meninas – “Amor, I Love you.”. Bruna estava sem palavras, sorrindo, mas com um medinho. Queria muito que fosse de Juca esta declaração e a idéia de não ser a apavorava. Mas essa agonia não demorou muito. Do fundo do palco surge com uma rosa na mão o próprio Juca, que se juntou ao vocalista e improvisou no refrão – “Amor, I Love you.”. – Olhando fixamente pra Bruna, que tremia, assim como ele. Os dois se uniram ninguém sabe bem como. Mas num piscar de olhos, Bruna e Juca se beijavam como se não houvesse mais ninguém presente.
A platéia, despercebida pelo casal, gritava, aplaudia e comemorava o final romântico da noitada.
Lucila e Ana vibravam juntas. Adoravam Juca e torciam muito pra esta história terminar bem. E terminou. Pelo menos era o que parecia.
Mas agora Bruna tinha sido traída pelo marido. Mentiras, sujeira, decepção. Nada disso combinava com o Juca que cantou pra ela.
Bruna e Lucila estavam próximas do edifício da JAHE. Lucila parou a amiga e disse:
- Você tem certeza que quer fazer isso?
Bruna respondeu quase ríspida:
- Nunca estive tão certa em toda a minha vida.
Sendo assim, seguiram em frente e entraram no prédio.
Bruna era formada em comunicação social e trabalhava como assessora de imprensa. Depois de trabalhar anos para uma empresa de aviação, pediu demissão ao descobrir que grande parte das informações que Bruna tinha que encaminhar à mídia, era falsa. Pouco tempo depois a empresa foi desmascarada, os donos foram indiciados e foi um grande escândalo noticiado pela TV e jornais.
Não só por esse episódio, mas também pelo caráter indiscutível de Bruna, que ela custou a achar um novo emprego que combinasse com o que ela esperava e com o que esperavam dela como profissional.
Foi quando surgiu a vaga na JAEH, uma empresa nacional, em ascensão na importação de equipamentos hospitalares. De origem familiar, havia sido comprada pelo empresário Juca Andrade, que transformou a pequena empresa em uma das mais importantes do mercado. A JAEH importava tecnologia hospitalar de ponta e também apoiava estudos para novos equipamentos, através de um incentivo à universidade estadual.
Ano após ano, tinha a empresa tinha aumento de faturamento e conseqüentemente aumentava também sua estrutura. Por isso a demanda de um novo profissional para dirigir o departamento de assessoria de imprensa.
Logo que soube da vaga, Bruna pesquisou sobre a empresa e de cara achou muito interessante o apoio às pesquisas da universidade estadual, principalmente para um segmento tão relevante como o da saúde. Interessada pelo emprego, caprichou no visual no dia da entrevista. Decorou algumas frases de efeito, intensificou as aulas de yoga para garantir uma aparência tranqüila e apostou no seu bom humor como aliado.
Foi recebida por Joana, diretora de RH, que após uma rápida entrevista anunciou que agora ela iria conversar com o dono da empresa, que fazia questão de estar à frente desta contratação. Bruna sentiu um friozinho na barriga. Conhecia Juca Andrade pelo nome, pelas conquistas e até por alguma vaidade publicada em uma ou outra coluna social. Nunca imaginaria a importância deste cargo para o próprio Juca, que sem ao menos pedir um filtro, falaria com todos os candidatos.
Mas não tiveram mais candidatos. A sinergia dos dois foi perfeita. Sem perceber, ficaram duas horas conversando, trocando experiências e é claro, Bruna respondeu de pronto a todas as perguntas da entrevista. Quando levantaram da mesa com sorrisos nos rostos, Juca pediu que Bruna voltasse com seus documentos para oficializar sua contratação.
Em dois meses Bruna já era muito próxima de Juca. Com freqüência almoçavam juntos ou tomavam um chope depois do expediente. Diferente do que Bruna normalmente sentiria, ela não estava preocupada com os comentários dos outros funcionários sobre o possível romance dos dois. Nem com os olhares desconfiados dos outros diretores, que se julgavam passados pra trás por um belo par de pernas.
Porém, apesar das fofocas nos corredores da empresa, o romance só começou no aniversário de 30 anos de Bruna.
Ela comemorou na parte fechada de um bar no Jardim Botânico. Foi uma festa animada, regada a cerveja e música ao vivo. Um amigo vocalista de uma banda de pop rock presenteou a mais nova balzaquiana, com um showzinho particular que embalou os convidados até altas horas da madrugada. Juca assim como outros funcionários da JAEH estavam presentes. Mas ninguém se fazia mais presente do Juca, que não tirava os olhos de Bruna e com um sorriso apaixonado a fitava cada vez que ela voltava para o seu lado. Bruna também parecia estar mais interessada em sua companhia do que qualquer outro na festa. Os dois riam e se tocavam. Dançavam, bebiam. Depois de certa hora, era impossível não notar o jogo de sedução dos dois. Sempre que tinha oportunidade Juca puxava Bruna pela cintura. Ela dissimulada, ria alto e abaixava a cabeça fugindo de qualquer tentativa de um beijo.
Porém a meia noite, depois de cantar os parabéns, o vocalista anunciou ao microfone que lhe haviam feito um pedido para tocar uma música. Lendo algo escrito em um guardanapo de papel, continuou:
- Não sei bem cantar essa, mas quem me pediu escreveu aqui que é dedicada para a aniversariante e esta música é uma forma que ele achou de dizer tudo o que está sentindo agora por ela. Ihhh o cara é bom, hein Bruna? Então vamos lá!!!!!
Todos aplaudiram. As mulheres soltaram gritinhos histéricos. A banda começou a tocar, quando no primeiro acorde, veio a letra de Marisa Monte: “Deixa eu dizer que te amo. Deixa eu gostar de você. “ – Mais gritinhos histéricos das meninas – “Amor, I Love you.”. Bruna estava sem palavras, sorrindo, mas com um medinho. Queria muito que fosse de Juca esta declaração e a idéia de não ser a apavorava. Mas essa agonia não demorou muito. Do fundo do palco surge com uma rosa na mão o próprio Juca, que se juntou ao vocalista e improvisou no refrão – “Amor, I Love you.”. – Olhando fixamente pra Bruna, que tremia, assim como ele. Os dois se uniram ninguém sabe bem como. Mas num piscar de olhos, Bruna e Juca se beijavam como se não houvesse mais ninguém presente.
A platéia, despercebida pelo casal, gritava, aplaudia e comemorava o final romântico da noitada.
Lucila e Ana vibravam juntas. Adoravam Juca e torciam muito pra esta história terminar bem. E terminou. Pelo menos era o que parecia.
Mas agora Bruna tinha sido traída pelo marido. Mentiras, sujeira, decepção. Nada disso combinava com o Juca que cantou pra ela.
Bruna e Lucila estavam próximas do edifício da JAHE. Lucila parou a amiga e disse:
- Você tem certeza que quer fazer isso?
Bruna respondeu quase ríspida:
- Nunca estive tão certa em toda a minha vida.
Sendo assim, seguiram em frente e entraram no prédio.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
CAPÍTULO 4
Bruna era uma mulher muito interessante. Alta, magra, tinha um corpo atlético, moldado por anos de dança e yoga. Era aficionada por boa alimentação e tinha um consumismo que se chocava com sua personalidade quase natureba. Se existisse hippie de shopping, seria a Bruna. Sempre falava baixo, com calma e muita classe. Mas apesar da sua habitual tranqüilidade, hoje ela estava nitidamente agitada.
As duas amigas se encontraram na porta do prédio e logo depois seguiram para o Cafeína Café, na esquina.
Pediram dois cafés, o de Bruna, descafeinado, o que Lucila até achou bom, pois se a amiga ficasse ainda mais agitada, ia ter um “treco” ali mesmo. Lucila preferiu um cappuccino, afinal, chocolate sempre conforta nos momentos difíceis.
Antes mesmo dos cafés chegarem, sem rodeios, Bruna despejou:
- Vou me separar!– disse com convicção, apesar da voz trêmula – Não posso mais ficar casada com um homem como o Juca. Ele não é nada do que parece! Ele um mentiroso! Uma farsa!
Seus olhos foram ficando avermelhados e suas mãos inquietas, gesticulavam sem parar. Lucila colocou suas mãos sobre a da amiga e tentando uma voz tranqüila, disse:
- Calma Bruna! Como ele é uma farsa? O Juca? Amiga, casamento é assim mesmo. É só uma crise, vai passar. Nós sabemos que homem fiel realmente é peça raríssima. Eu apostava no Juca, juro! Mas calma, que tudo dá pra se resolver conversando.
- Não tem conversa! Ele errou! Ele mentiu e me enganou todo esse tempo. Tudo que construímos é nada, é pó, é sujo – gritou Bruna, que nesse momento sem perceber, se tornou a atração dos clientes do café. E em seguida caiu aos prantos.
Lucila que sem saber o que falar, pediu uma água pro garçom e acariciava a mão da amiga. Depois do copo d’água, Bruna conseguiu se controlar e voltar a respirar. Lucila então pediu que contasse o que estava acontecendo. Bruna respirou fundo e contou tudo o que havia descoberto sobre o marido.
O marido de Bruna realmente era um cretino, um mentiroso. Era terrível pensar como ele pode enganar todo mundo, por tanto tempo. E principalmente fazer tudo isso, ali, na cara da própria esposa, que cega de amor, não desconfiou de nada.
Ao ouvir a história Lucila sentiu uma tristeza enorme e um grande medo de confirmar que realmente não existe nenhum homem correto no mundo. Nem mesmo o Juca, que conquistou a todos com seu bom humor, seu sorriso largo e principalmente pelo esbanjador carinho com que tratava Bruna. Era tudo fingimento, agora nada mais valia. E neste momento Lucila precisava ser forte e o pior: concordar e apoiar a decisão da amiga em se separar. O que Juca fez realmente não tinha perdão.
As duas ainda ficaram um tempo caminhando por Ipanema. Apesar da preocupação em achar seu vestido, Lucila sabia que não era o momento para isso. Apenas acompanhou a amiga segurando na sua mão.
Andaram ainda mais um pouco até que Bruna falou:
- Descobri tudo isso hoje de manhã. Foi um choque. Saí de casa e tentei manter minha rotina..Vim pra aula de feng shui, mas no caminho pensei pra quê eu queria aprender feng shui se nem casa eu tenho mais? Foi aí que te liguei
- Claro que tem casa! Ou você vai deixar o Juca no apartamento? A casa é sua também! Você tem direitos, sabia?
- Eu sei, Lú. Mas não quero nada dele. Não consigo imaginar entrar naquela casa de novo. Ali era um lar e hoje descobri que é falso, que foi construído em cima de mentiras. Daqui vou pro escritório do Juca dizer tudo que está entalado na minha garganta! Pra ele e pra vaca da assistente dele. Manoela! Cheia de sorrisos, de boas intenções....uma mentirosa, que nem ele!
- Bruna, você não deveria ir agora. Vai lá pra casa, você se acalma, pensa. Toma um banho, pedimos uma pizza. Sorvete! Que tal? Amanhã você procura o Juca. Não é melhor? Vai acabar perdendo a razão fazendo um barraco na empresa dele.
- Mas é justamente um belo barraco que eu quero fazer! E vai ser agora. Vamos comigo?
Lucila não tinha como negar. E na verdade, nem queria. Já que essa era a decisão de Bruna, ela não perderia esta cena por nada. Ver Bruna gritar com alguém já seria inédito. Mas vê-la gritar com Juca e com a tal assistente, também lhe daria um enorme conforto. Apesar de saber que não era a atitude mais correta, entendia Bruna e possivelmente teria a mesma reação.
Então, foram as duas para o escritório de Juca.
As duas amigas se encontraram na porta do prédio e logo depois seguiram para o Cafeína Café, na esquina.
Pediram dois cafés, o de Bruna, descafeinado, o que Lucila até achou bom, pois se a amiga ficasse ainda mais agitada, ia ter um “treco” ali mesmo. Lucila preferiu um cappuccino, afinal, chocolate sempre conforta nos momentos difíceis.
Antes mesmo dos cafés chegarem, sem rodeios, Bruna despejou:
- Vou me separar!– disse com convicção, apesar da voz trêmula – Não posso mais ficar casada com um homem como o Juca. Ele não é nada do que parece! Ele um mentiroso! Uma farsa!
Seus olhos foram ficando avermelhados e suas mãos inquietas, gesticulavam sem parar. Lucila colocou suas mãos sobre a da amiga e tentando uma voz tranqüila, disse:
- Calma Bruna! Como ele é uma farsa? O Juca? Amiga, casamento é assim mesmo. É só uma crise, vai passar. Nós sabemos que homem fiel realmente é peça raríssima. Eu apostava no Juca, juro! Mas calma, que tudo dá pra se resolver conversando.
- Não tem conversa! Ele errou! Ele mentiu e me enganou todo esse tempo. Tudo que construímos é nada, é pó, é sujo – gritou Bruna, que nesse momento sem perceber, se tornou a atração dos clientes do café. E em seguida caiu aos prantos.
Lucila que sem saber o que falar, pediu uma água pro garçom e acariciava a mão da amiga. Depois do copo d’água, Bruna conseguiu se controlar e voltar a respirar. Lucila então pediu que contasse o que estava acontecendo. Bruna respirou fundo e contou tudo o que havia descoberto sobre o marido.
O marido de Bruna realmente era um cretino, um mentiroso. Era terrível pensar como ele pode enganar todo mundo, por tanto tempo. E principalmente fazer tudo isso, ali, na cara da própria esposa, que cega de amor, não desconfiou de nada.
Ao ouvir a história Lucila sentiu uma tristeza enorme e um grande medo de confirmar que realmente não existe nenhum homem correto no mundo. Nem mesmo o Juca, que conquistou a todos com seu bom humor, seu sorriso largo e principalmente pelo esbanjador carinho com que tratava Bruna. Era tudo fingimento, agora nada mais valia. E neste momento Lucila precisava ser forte e o pior: concordar e apoiar a decisão da amiga em se separar. O que Juca fez realmente não tinha perdão.
As duas ainda ficaram um tempo caminhando por Ipanema. Apesar da preocupação em achar seu vestido, Lucila sabia que não era o momento para isso. Apenas acompanhou a amiga segurando na sua mão.
Andaram ainda mais um pouco até que Bruna falou:
- Descobri tudo isso hoje de manhã. Foi um choque. Saí de casa e tentei manter minha rotina..Vim pra aula de feng shui, mas no caminho pensei pra quê eu queria aprender feng shui se nem casa eu tenho mais? Foi aí que te liguei
- Claro que tem casa! Ou você vai deixar o Juca no apartamento? A casa é sua também! Você tem direitos, sabia?
- Eu sei, Lú. Mas não quero nada dele. Não consigo imaginar entrar naquela casa de novo. Ali era um lar e hoje descobri que é falso, que foi construído em cima de mentiras. Daqui vou pro escritório do Juca dizer tudo que está entalado na minha garganta! Pra ele e pra vaca da assistente dele. Manoela! Cheia de sorrisos, de boas intenções....uma mentirosa, que nem ele!
- Bruna, você não deveria ir agora. Vai lá pra casa, você se acalma, pensa. Toma um banho, pedimos uma pizza. Sorvete! Que tal? Amanhã você procura o Juca. Não é melhor? Vai acabar perdendo a razão fazendo um barraco na empresa dele.
- Mas é justamente um belo barraco que eu quero fazer! E vai ser agora. Vamos comigo?
Lucila não tinha como negar. E na verdade, nem queria. Já que essa era a decisão de Bruna, ela não perderia esta cena por nada. Ver Bruna gritar com alguém já seria inédito. Mas vê-la gritar com Juca e com a tal assistente, também lhe daria um enorme conforto. Apesar de saber que não era a atitude mais correta, entendia Bruna e possivelmente teria a mesma reação.
Então, foram as duas para o escritório de Juca.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
CAPÍTULO 3
Lucila adora seu trabalho em um badalado escritório de arquitetura. O ambiente não poderia ser melhor e sua carreira ia bem. Cada vez pega projetos mais importantes. Bardot, a dona, aposta em Lucila como a grande revelação da sua empresa. Os clientes a adoram e sempre a elogiam para Bardot, que orgulhosa, cuida de seus funcionários como uma grande mãe. Ou uma grande tia coruja e engraçada.
O que Bardot tem de bom gosto para seus projetos, tem de mau gosto para suas roupas e acessórios espalhafatosos que vão desde bandanas de cetim estampado à sapatos coloridos que nunca combinam com o restante. Apesar desse seu jeito, era uma empresária de sucesso. Começou como recepcionista em uma empresa de decoração de interiores, fez faculdade, se dividiu entre o estágio e a recepção, até que foi contratada como assistente. Aos poucos conseguiu fazer diversos outros cursos, inclusive fora do país. Paralelamente ao escritório, começou a fazer projetos por conta própria. Primeiro para amigos e depois para os amigos dos amigos. Assim, junto com seu amigo Luis Antônio, abriu sua própria empresa.
Depois de sete anos como sócios, a empresa ia de vento em popa e Bardot e Luis Antônio não tinham tempo para mais nada além do trabalho. Foi quando Bardot resolveu parar. Já tinha 40 anos e decidiu repensar sua vida. Passou um tempo viajando, estudou história da arte, filosofia e depois de tudo isso percebeu que precisava retomar o que pra ela realmente fazia sentido: seu trabalho.
Aos 50 anos, Bardot é dona de um pequeno escritório de arquitetura que tem como objetivo trabalhar com uma seleta e limitada carteira de clientes. O lema não é quantidade e sim qualidade. E é claro, somente com os clientes mais “parrudos”. Bardot é o xodó das socialites cariocas, mas não gosta de badalação e nem de bajulação. Faz seu trabalho com absoluto profissionalismo e talvez até com certa dose de dureza. Talvez por isso seja tão respeitada.
Junto com Lucila trabalham três mulheres e cinco homens, aliás, cinco gays. O escritório fervilha a purpurina e bom humor. Exceto em relação à Clô, a secretária de Bardot, que consegue reunir em uma única pessoa características como mau humor, pessimismo e o fato de ser uma incontrolável hipocondríaca. Clô apesar de tudo isso, é vista como uma personagem exótica da empresa. Todos aprenderam a não dar muita importância as suas rabugices e paranóias em relação a sua saúde. Todos os dias aparece com uma doença diferente, faltando com freqüência alegando consultas em seu cardiologista, fisioterapeuta, pneumologista, alergista e uma lista infindável de profissionais de que se tornou totalmente dependente.
Quem sofre com as ausências de Clô é Carla, que freqüentemente precisa se desdobrar na sua e na função de Clô para colocar o escritório em ordem.
Marcos, Flavinho e Tadeu completavam o time. Tornaram-se bons amigos de Lucila, que agora era figurinha fácil na noite simpatizante GLS do Rio de Janeiro. Apesar da desconfiança de que não seria ali que conheceria o homem da sua vida, sair com este trio era diversão garantida. E era com eles, Carla e mais um grupo de amigos que ela ira iria viajar no réveillon, sob a promessa de que a festa não seria só de gays.
Depois de rodar por várias lojinhas e não encontrar o que queria, Lucila foi encontrar Bruna na saída da sua aula de feng shui para um café e um papinho a mais. Talvez Bruna conseguisse ajudar na compra do seu modelito de Ano Novo. Mas na verdade, o vestido foi o último assunto que elas colocaram em pauta. Bruna tinha uma bomba nas mãos e precisava desesperadamente da ajuda de Lucila.
O que Bardot tem de bom gosto para seus projetos, tem de mau gosto para suas roupas e acessórios espalhafatosos que vão desde bandanas de cetim estampado à sapatos coloridos que nunca combinam com o restante. Apesar desse seu jeito, era uma empresária de sucesso. Começou como recepcionista em uma empresa de decoração de interiores, fez faculdade, se dividiu entre o estágio e a recepção, até que foi contratada como assistente. Aos poucos conseguiu fazer diversos outros cursos, inclusive fora do país. Paralelamente ao escritório, começou a fazer projetos por conta própria. Primeiro para amigos e depois para os amigos dos amigos. Assim, junto com seu amigo Luis Antônio, abriu sua própria empresa.
Depois de sete anos como sócios, a empresa ia de vento em popa e Bardot e Luis Antônio não tinham tempo para mais nada além do trabalho. Foi quando Bardot resolveu parar. Já tinha 40 anos e decidiu repensar sua vida. Passou um tempo viajando, estudou história da arte, filosofia e depois de tudo isso percebeu que precisava retomar o que pra ela realmente fazia sentido: seu trabalho.
Aos 50 anos, Bardot é dona de um pequeno escritório de arquitetura que tem como objetivo trabalhar com uma seleta e limitada carteira de clientes. O lema não é quantidade e sim qualidade. E é claro, somente com os clientes mais “parrudos”. Bardot é o xodó das socialites cariocas, mas não gosta de badalação e nem de bajulação. Faz seu trabalho com absoluto profissionalismo e talvez até com certa dose de dureza. Talvez por isso seja tão respeitada.
Junto com Lucila trabalham três mulheres e cinco homens, aliás, cinco gays. O escritório fervilha a purpurina e bom humor. Exceto em relação à Clô, a secretária de Bardot, que consegue reunir em uma única pessoa características como mau humor, pessimismo e o fato de ser uma incontrolável hipocondríaca. Clô apesar de tudo isso, é vista como uma personagem exótica da empresa. Todos aprenderam a não dar muita importância as suas rabugices e paranóias em relação a sua saúde. Todos os dias aparece com uma doença diferente, faltando com freqüência alegando consultas em seu cardiologista, fisioterapeuta, pneumologista, alergista e uma lista infindável de profissionais de que se tornou totalmente dependente.
Quem sofre com as ausências de Clô é Carla, que freqüentemente precisa se desdobrar na sua e na função de Clô para colocar o escritório em ordem.
Marcos, Flavinho e Tadeu completavam o time. Tornaram-se bons amigos de Lucila, que agora era figurinha fácil na noite simpatizante GLS do Rio de Janeiro. Apesar da desconfiança de que não seria ali que conheceria o homem da sua vida, sair com este trio era diversão garantida. E era com eles, Carla e mais um grupo de amigos que ela ira iria viajar no réveillon, sob a promessa de que a festa não seria só de gays.
Depois de rodar por várias lojinhas e não encontrar o que queria, Lucila foi encontrar Bruna na saída da sua aula de feng shui para um café e um papinho a mais. Talvez Bruna conseguisse ajudar na compra do seu modelito de Ano Novo. Mas na verdade, o vestido foi o último assunto que elas colocaram em pauta. Bruna tinha uma bomba nas mãos e precisava desesperadamente da ajuda de Lucila.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
CAPÍTULO 2
Madrinha. Lucila não ficaria pra titia pois era filha única, mas “pra madrinha” ela já tinha ficado. Era madrinha de casamento de Bruna, sua outra melhor amiga, que casou com chefe do escritório onde trabalhava, largou a profissão e hoje é uma perua de carteirinha que passa o dia entre o shopping e a academia.
Bruna sempre foi a mais comportada das três, sempre assumiu sem pudor seu desejo de se casar, de ter filhos e de parar de trabalhar. Fora a maternidade, parece que tudo ia bem com seus projetos.
Como tinha tempo livre, Bruna sempre estava pronta para ouvir as lamentações e decepções de Lucila, se colocando como sua principal confidente. As duas até brincavam que Bruna era uma espécie de “free terapy”.
Por causa dos atuais relacionamentos de suas amigas e da total ausência de um relacionamento amoroso, era muito difícil reunir as três, a sós, como antigamente. Mas com o casamento de Ana, provavelmente as três voltariam a se reunir com freqüência para dividir dúvidas e opiniões sobre a cerimônia, festa, vestido e todos os preparativos, etc. Assim como foi no casamento de Bruna.
Apesar de sentir falta de suas amigas, mais do que desejar a presença delas, Lucila desejava um futuro como o delas. Um amor, alguém que preenchesse o vazio que as baladas cariocas não conseguiam, nem de longe, ocupar.
E agora lá estava ela, passeando pelas lojinhas de Ipanema com uma listinha do que precisava comprar para sua viagem de réveillon. O vestido que era o item mais importante, também parecia o mais difícil. Sem o vestido não tinha como pensar na sandália, que precisava ser sem salto, já que ia pra casa de uns amigos do trabalho em Angra.
Bruna sempre foi a mais comportada das três, sempre assumiu sem pudor seu desejo de se casar, de ter filhos e de parar de trabalhar. Fora a maternidade, parece que tudo ia bem com seus projetos.
Como tinha tempo livre, Bruna sempre estava pronta para ouvir as lamentações e decepções de Lucila, se colocando como sua principal confidente. As duas até brincavam que Bruna era uma espécie de “free terapy”.
Por causa dos atuais relacionamentos de suas amigas e da total ausência de um relacionamento amoroso, era muito difícil reunir as três, a sós, como antigamente. Mas com o casamento de Ana, provavelmente as três voltariam a se reunir com freqüência para dividir dúvidas e opiniões sobre a cerimônia, festa, vestido e todos os preparativos, etc. Assim como foi no casamento de Bruna.
Apesar de sentir falta de suas amigas, mais do que desejar a presença delas, Lucila desejava um futuro como o delas. Um amor, alguém que preenchesse o vazio que as baladas cariocas não conseguiam, nem de longe, ocupar.
E agora lá estava ela, passeando pelas lojinhas de Ipanema com uma listinha do que precisava comprar para sua viagem de réveillon. O vestido que era o item mais importante, também parecia o mais difícil. Sem o vestido não tinha como pensar na sandália, que precisava ser sem salto, já que ia pra casa de uns amigos do trabalho em Angra.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
CAPÍTULO 1
Todo ano Lucila seguia a mesma rotina. Procurar um vestido branco com detalhes em vermelho. Mas, este ano estava cogitando a possibilidade de usar um vestido vermelho com detalhes em branco. Aos 33 anos, acreditava que na virada do ano, precisava de uma forcinha extra de todos os santos para garantir que seu principal desejo para o próximo ano se concretizasse: encontrar o amor da sua vida.
Este ano, como nos dois últimos, não passaria a noite de réveillon com suas melhores amigas Ana e Bruna.
Ana ia passar a noite de ano novo na casa do namorado, ao lado de sua futura sogra e sua futura família. Seria um réveillon diferente dos anteriores, já que este seria o primeiro que Ana desfilaria com sua linda aliança de noivado pesando em sua mão direita. Ela estava nas nuvens.
Lucila vibrava pela amiga e acreditava que realmente o amor transformava as pessoas.
Afinal, dois anos antes, as duas se acabaram na noite de réveillon competindo pelos beijos na boca, na praia de Arraial da Ajuda, ao som de axé e regadas a muito “capeta”. Foi uma das melhores viagens das duas, que aproveitaram até o último minuto. Elas pareciam acreditar realmente que aquele réveillon significava uma despedida de solteira. E foi. Mas somente para Ana, que conheceu André duas semanas depois no Baixo Gávea. Lucila estava com ela e também saiu acompanhada do Braseiro, com um amigo de André, o Rodolfo.
Rodolfo era uma graça. Mais velho (mais velho significa ter mais de 30, visto 80% dos homens solteiros que se conhece tem entre 22 e 28 anos), advogado, morava sozinho, com carro. Parecia perfeito e de acordo com o a encomenda que Lucila acabava de fazer para Iemanjá, nas águas da Bahia – e na Bahia o pedido valia mais!
As duas amigas estavam radiantes! Que maravilha! Voltar da Bahia e de cara arrumar namorados lindos e ainda melhores amigos. Os quatro poderiam ir ao cinema juntos, sair pra jantar e no futuro – num breve futuro - iriam se freqüentar, porque, claro, seriam compadres e comadres felizes. Os filhos estudariam na mesma escola e elas planejariam juntas as viagem das férias escolares. Ou seja, dividiriam todos os prazeres da vida a dois.
Dois encontros após se conhecerem, os quatro foram jantar em um restaurante japonês. Lucila estava preparada, depilada e pronta para conhecer o apê do seu novo pretendente. E assim foi. Depois do jantar, os casais se separaram e Rodolfo a levou para sua casa. O apartamento era ótimo, mas precisava de um toque feminino. Lucila já tinha idéias para resolver pequenos desajustes na decoração. Coisas simples, que tornaria o seu mais novo ninho de amor, um lugar encantador.
A noite terminou tão boa quanto começou. Rodolfo realmente era tudo o que ela sempre sonhou. Delicado, amoroso e com um papo incrível. Ela não acreditava que isso pudesse estar acontecendo. Estava realmente muito feliz. E foi envolvida por toda essa alegria que adormeceu nos braços dele. No dia seguinte após um maravilhoso café da manhã, ele a deixou em casa e ficou de ligar mais tarde.
Por algum motivo naquele domingo, ele não ligou. E nem na segunda e nem nunca mais.
Lucila não conseguia ter notícias de Rodolfo nem por Ana. Segundo ela, nem André sabia dele. O que as duas não acreditavam, mas fingiam em prol da relação de Ana.
Alguns meses depois, quando André e Ana já estavam firmes no namoro, Lucila encontrou Rodolfo em um bar na zona sul. Ao contrário do que ela esperava, ele não parecia nada constrangido com a situação. Foi simpático, a abraçou e disse:
- Puxa menina, porque você sumiu?
A vontade era de explicar o porquê. Lembrá-lo que talvez ela tenha sumido porque ele nunca atendeu a nenhuma ligação dela. Nunca respondeu nenhum torpedo, e-mail ou scrap enviado. Talvez por isso, ela tenha “sumido”. Mas ao invés disso, calejada, Lucila simplesmente sorriu e responde:
- Muito trabalho, Rodolfo.
E agora sua melhor amiga ia casar com o melhor amigo dele e ambos seriam padrinhos, como ela havia planejado. A diferença é que Rodolfo iria ao lado de sua linda namorada de 22 anos e Lucila ao lado do primo punk de Ana.
Este ano, como nos dois últimos, não passaria a noite de réveillon com suas melhores amigas Ana e Bruna.
Ana ia passar a noite de ano novo na casa do namorado, ao lado de sua futura sogra e sua futura família. Seria um réveillon diferente dos anteriores, já que este seria o primeiro que Ana desfilaria com sua linda aliança de noivado pesando em sua mão direita. Ela estava nas nuvens.
Lucila vibrava pela amiga e acreditava que realmente o amor transformava as pessoas.
Afinal, dois anos antes, as duas se acabaram na noite de réveillon competindo pelos beijos na boca, na praia de Arraial da Ajuda, ao som de axé e regadas a muito “capeta”. Foi uma das melhores viagens das duas, que aproveitaram até o último minuto. Elas pareciam acreditar realmente que aquele réveillon significava uma despedida de solteira. E foi. Mas somente para Ana, que conheceu André duas semanas depois no Baixo Gávea. Lucila estava com ela e também saiu acompanhada do Braseiro, com um amigo de André, o Rodolfo.
Rodolfo era uma graça. Mais velho (mais velho significa ter mais de 30, visto 80% dos homens solteiros que se conhece tem entre 22 e 28 anos), advogado, morava sozinho, com carro. Parecia perfeito e de acordo com o a encomenda que Lucila acabava de fazer para Iemanjá, nas águas da Bahia – e na Bahia o pedido valia mais!
As duas amigas estavam radiantes! Que maravilha! Voltar da Bahia e de cara arrumar namorados lindos e ainda melhores amigos. Os quatro poderiam ir ao cinema juntos, sair pra jantar e no futuro – num breve futuro - iriam se freqüentar, porque, claro, seriam compadres e comadres felizes. Os filhos estudariam na mesma escola e elas planejariam juntas as viagem das férias escolares. Ou seja, dividiriam todos os prazeres da vida a dois.
Dois encontros após se conhecerem, os quatro foram jantar em um restaurante japonês. Lucila estava preparada, depilada e pronta para conhecer o apê do seu novo pretendente. E assim foi. Depois do jantar, os casais se separaram e Rodolfo a levou para sua casa. O apartamento era ótimo, mas precisava de um toque feminino. Lucila já tinha idéias para resolver pequenos desajustes na decoração. Coisas simples, que tornaria o seu mais novo ninho de amor, um lugar encantador.
A noite terminou tão boa quanto começou. Rodolfo realmente era tudo o que ela sempre sonhou. Delicado, amoroso e com um papo incrível. Ela não acreditava que isso pudesse estar acontecendo. Estava realmente muito feliz. E foi envolvida por toda essa alegria que adormeceu nos braços dele. No dia seguinte após um maravilhoso café da manhã, ele a deixou em casa e ficou de ligar mais tarde.
Por algum motivo naquele domingo, ele não ligou. E nem na segunda e nem nunca mais.
Lucila não conseguia ter notícias de Rodolfo nem por Ana. Segundo ela, nem André sabia dele. O que as duas não acreditavam, mas fingiam em prol da relação de Ana.
Alguns meses depois, quando André e Ana já estavam firmes no namoro, Lucila encontrou Rodolfo em um bar na zona sul. Ao contrário do que ela esperava, ele não parecia nada constrangido com a situação. Foi simpático, a abraçou e disse:
- Puxa menina, porque você sumiu?
A vontade era de explicar o porquê. Lembrá-lo que talvez ela tenha sumido porque ele nunca atendeu a nenhuma ligação dela. Nunca respondeu nenhum torpedo, e-mail ou scrap enviado. Talvez por isso, ela tenha “sumido”. Mas ao invés disso, calejada, Lucila simplesmente sorriu e responde:
- Muito trabalho, Rodolfo.
E agora sua melhor amiga ia casar com o melhor amigo dele e ambos seriam padrinhos, como ela havia planejado. A diferença é que Rodolfo iria ao lado de sua linda namorada de 22 anos e Lucila ao lado do primo punk de Ana.
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