sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

CAPÍTULO 1

Todo ano Lucila seguia a mesma rotina. Procurar um vestido branco com detalhes em vermelho. Mas, este ano estava cogitando a possibilidade de usar um vestido vermelho com detalhes em branco. Aos 33 anos, acreditava que na virada do ano, precisava de uma forcinha extra de todos os santos para garantir que seu principal desejo para o próximo ano se concretizasse: encontrar o amor da sua vida.

Este ano, como nos dois últimos, não passaria a noite de réveillon com suas melhores amigas Ana e Bruna.

Ana ia passar a noite de ano novo na casa do namorado, ao lado de sua futura sogra e sua futura família. Seria um réveillon diferente dos anteriores, já que este seria o primeiro que Ana desfilaria com sua linda aliança de noivado pesando em sua mão direita. Ela estava nas nuvens.

Lucila vibrava pela amiga e acreditava que realmente o amor transformava as pessoas.
Afinal, dois anos antes, as duas se acabaram na noite de réveillon competindo pelos beijos na boca, na praia de Arraial da Ajuda, ao som de axé e regadas a muito “capeta”. Foi uma das melhores viagens das duas, que aproveitaram até o último minuto. Elas pareciam acreditar realmente que aquele réveillon significava uma despedida de solteira. E foi. Mas somente para Ana, que conheceu André duas semanas depois no Baixo Gávea. Lucila estava com ela e também saiu acompanhada do Braseiro, com um amigo de André, o Rodolfo.

Rodolfo era uma graça. Mais velho (mais velho significa ter mais de 30, visto 80% dos homens solteiros que se conhece tem entre 22 e 28 anos), advogado, morava sozinho, com carro. Parecia perfeito e de acordo com o a encomenda que Lucila acabava de fazer para Iemanjá, nas águas da Bahia – e na Bahia o pedido valia mais!
As duas amigas estavam radiantes! Que maravilha! Voltar da Bahia e de cara arrumar namorados lindos e ainda melhores amigos. Os quatro poderiam ir ao cinema juntos, sair pra jantar e no futuro – num breve futuro - iriam se freqüentar, porque, claro, seriam compadres e comadres felizes. Os filhos estudariam na mesma escola e elas planejariam juntas as viagem das férias escolares. Ou seja, dividiriam todos os prazeres da vida a dois.

Dois encontros após se conhecerem, os quatro foram jantar em um restaurante japonês. Lucila estava preparada, depilada e pronta para conhecer o apê do seu novo pretendente. E assim foi. Depois do jantar, os casais se separaram e Rodolfo a levou para sua casa. O apartamento era ótimo, mas precisava de um toque feminino. Lucila já tinha idéias para resolver pequenos desajustes na decoração. Coisas simples, que tornaria o seu mais novo ninho de amor, um lugar encantador.

A noite terminou tão boa quanto começou. Rodolfo realmente era tudo o que ela sempre sonhou. Delicado, amoroso e com um papo incrível. Ela não acreditava que isso pudesse estar acontecendo. Estava realmente muito feliz. E foi envolvida por toda essa alegria que adormeceu nos braços dele. No dia seguinte após um maravilhoso café da manhã, ele a deixou em casa e ficou de ligar mais tarde.
Por algum motivo naquele domingo, ele não ligou. E nem na segunda e nem nunca mais.

Lucila não conseguia ter notícias de Rodolfo nem por Ana. Segundo ela, nem André sabia dele. O que as duas não acreditavam, mas fingiam em prol da relação de Ana.

Alguns meses depois, quando André e Ana já estavam firmes no namoro, Lucila encontrou Rodolfo em um bar na zona sul. Ao contrário do que ela esperava, ele não parecia nada constrangido com a situação. Foi simpático, a abraçou e disse:
- Puxa menina, porque você sumiu?

A vontade era de explicar o porquê. Lembrá-lo que talvez ela tenha sumido porque ele nunca atendeu a nenhuma ligação dela. Nunca respondeu nenhum torpedo, e-mail ou scrap enviado. Talvez por isso, ela tenha “sumido”. Mas ao invés disso, calejada, Lucila simplesmente sorriu e responde:
- Muito trabalho, Rodolfo.

E agora sua melhor amiga ia casar com o melhor amigo dele e ambos seriam padrinhos, como ela havia planejado. A diferença é que Rodolfo iria ao lado de sua linda namorada de 22 anos e Lucila ao lado do primo punk de Ana.

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