quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

CAPÍTULO 10

Lucila mal entrou no escritório e Bardot, sua chefe, a recebeu com um milhão de papéis na mão. Falava sem parar sobre o projeto que acabara de conquistar e queria que Lucila tocasse junto com ela. Era um projeto para uma joalheria que seria inaugurada em alguns meses. “Pouco tempo” – pensou Lucila, mas ainda assim, vibrava com a possibilidade de tocar um job como este ao lado de Bardot.

Com a entrada deste novo cliente, Bardot havia remanejado os projetos de Lucila entre Flávio e Tadeu. Ela precisaria de tempo para se dedicar à joalheria.

Empolgada, Lucila deu pulinhos em direção à sua mesa. Imediatamente começou a ler entusiasmada os papéis que Bardot lhe entregara. Podia se esquecer do mundo lá fora. E foi o que aconteceu. Só percebeu a hora quando o escritório foi ficando escuro e vazio. Já eram quase dez horas da noite, a barriga dava sinais de vazia, precisava ir embora.
Mais uma vez os planos de ir ao shopping tiveram que ser adiados e mais uma vez havia esquecido a consulta com sua ginecologista. Amanhã tentaria remarcar.

A caminho de casa passou em um posto e comprou dois sanduíches naturais e um suco em garrafa. Sabia que em casa a geladeira estaria vazia. Mas isso não era problema. Ela não era uma dona de casa. Era uma profissional atribulada.

Lucila como uma boa geminiana, era totalmente inconstante, qualquer coisa poderia mudar seu humor e seu modo de ver a própria vida. Neste momento, empolgada com seu novo projeto, se sentia uma profissional de sucesso. Dirigia se sentindo importante, fazia planos sobre sua carreira e podia se imaginar daqui a poucos anos em seu próprio escritório atendendo seu clientes e dando entrevistas a revistas especializadas. Ela era um sucesso! Pelo menos naquele instante. Afinal, há poucos dias Lucila se arrastava pro trabalho e duvidava da sua aptidão profissional. Se sentia sozinha, incompetente, feia e gorda. Era a pior das mulheres. Mas isso passou! Agora pra quê homens? Era uma executiva brilhante e como tal iria se preocupar com sua carreira.

Chegando em casa a secretária eletrônica avisava uma mensagem. Era Bruna:
- Amiga, sei que você pode estar preocupada comigo, mas liguei pra dizer que estou bem. Não se preocupe. Assim que puder volto a dar notícias. E por favor, não conte a ninguém sobre os documentos. Estou bem, ok? Beijo!

Tão envolvida em seu novo estado de espírito, que se esqueceu completamente de Bruna, Juca, Rafa e toda aquela confusão. Bruna, mais uma vez não dava nenhuma pista do que estava acontecendo, mas parecia bem. Pensou em ligar pra Rafa, mas desistiu.

No dia seguinte, conseguiu remarcar sua ginecologista e na hora do almoço foi até lá em um horário encaixado. A Dra. Renata era sempre muito simpática, a não ser pelo fato de sempre começar a consulta com a mesma pergunta:
- Namorando? Ficando? Como estamos com esta vidinha amorosa?

Nas últimas consultas, a resposta tinha sido a mesma: - Nada. - E nesta não seria diferente. Depois da pergunta habitué, Dra Renata complementou seu discurso constrangedor:
- Olha lá, hein Lucila? Não vai ficar pra titia cuidando dos filhos das amigas, hein? Precisa arrumar um amiguinho pra brincar com filho da Bruna!

Filho da Bruna? Como assim? Sua amiga Bruna também era paciente da Dra. Renata, mas ela estava foragida e não grávida? Ou estava?

Com vergonha de revelar que não sabia que sua melhor amiga estava grávida, jogou verde:
- É pois é, né? Mas tem tempo. De quantos meses mesmo a Bruna está?

- Dez semanas. Já marcamos a ultra pra próxima quarta.

- Próxima quarta? Ah que ótimo! Ela está muito feliz não está?

- Olha, Lú, parece assustada. Acho que não esperava engravidar tão rápido. Mas logo, logo ela e o marido começarão a curtir a gravidez, saber o sexo, comprar roupinhas. É assim mesmo.

- Juca veio com ela? – disse Lucila com um tom de surpresa, que logo tentou corrigir, assumindo uma postura mais calma: - É quer dizer. Ele é tão ocupado com os negócios.

- Não pode vir, acredito que seja por isso mesmo. Mas apaixonado do jeito que ele é, já já vai se tornar um pai babão.

Completamente atordoada, mas tentando disfarçar, Lucila concordou com a cabeça. Bruna estava grávida e estava no Rio, pois havia marcado uma ultra pra próxima quarta-feira. Porque ela não contou? Será que foi isso que a fez desistir de denunciar o Juca? Será que Juca sabe sobre a gravidez?

A caminho do escritório ligou pra Rafa. Precisava contar o que acabava de saber. Mas ele não estava. Deixou recado.
Então resolveu ligar para Ana, talvez soubesse da gravidez de Bruna. As três nunca escondiam nada uma das outras. Ana estava também em sua hora de almoço, provando docinhos para seu casamento. Apesar da boca cheia, ouviu Lucila e também ficou surpresa. Ela também não sabia de nada e ficou revoltada com o fato de Bruna não ter se preocupado em ligar ou mandar qualquer mensagem pra ela.
Ana era muito ciumenta, Bruna e Lucila sempre tinham que balancear as conversas, presentes e qualquer atitude para que a amiga não se sentisse rejeitada. Era o que acontecia agora. Ela não aceitava que Bruna só tivesse mandado recados pra Lucila e nada pra ela. Nem mesmo contou sobre a separação ou sobre o escândalo da JAEH.
Lucila tentava amenizar dizendo que certamente Bruna contaria mais tarde, mas que alguma coisa estranha havia acontecido pra ela sumir e aparentemente desistir de denunciar o ex- marido. As duas ainda ficaram alguns minutos chutando possibilidades, mas desistiram.

Lucila precisava voltar ao trabalho, afinal era uma arquiteta responsável e com um grande projeto em suas mãos. Depois cuidaria deste assunto.

3 comentários:

  1. Hmmm.... sei não... acho que o filho da Bruna não é do marido...

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  2. Acho que ela vai desistir de denunciar o maridão ladrão...

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  3. Aaaaahhhhh! Dra. Renata! Amei!

    Coitada da Dra! Quando a Lucila falta a consulta ela fica lá esperando, sabia? rsrsrsrs

    Bj

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