O porre foi enorme. Aliás, não tinha como ser diferente porque elas nem chegaram a almoçar. Estômago vazio e cerveja é um prato cheio pra bebum.
As duas gargalhavam, falavam alto. Fizeram amizade com o garçom e esqueceram completamente do mausoléu que as esperava pro feriado.
Entre um copo e outro Lucila achou que já estava vendo coisas. Ela jurava que tinha visto Manú, a assistente do Juca, passar de carro pela rua. Isso a fez lembrar-se de Bruna e lhe trouxe alguma preocupação, que aliada a várias cervejas a fez cair no choro.
Neste instante Flávio, Tadeu e Marcos chegaram. Carla já tinha avisado das condições da casa e que as duas estariam na esquina, afogando as mágoas.
Lucila soluçava e repetia sem parar:
- Minha amiga exxxtá.... está....grávida! Sabia? Grávida! E eu não sei onde ela exxxtá...está!
Sem muito alvoroço, os meninos colocaram Lucila no banco traseiro do carro e os cinco seguiram pra casa mal abandonada, ou melhor: bem abandonada.
Tinham muito trabalho pra fazer por ali. Pra entrar, já seria preciso uma bela faxina. Marcos foi até o mercado e trouxe litros de desinfetante e algumas vassouras. O mutirão havia começado e só Lucila tinha se livrado desta. Estava inconsciente no sofá. Como todos eram arquitetos, com criatividade e alguns lençóis velhos conseguiram dar alguma dignidade àquele lugar.
O que antes seria uma janela quebrada virou um simpático tampo para uma mesa de centro. Colocaram cadeiras de praia em círculos na varanda e uma toalha de mesa cobrindo uma balde, que se transformou em uma mesa de canto.
Fora isso, fizeram faxina nos banheiros, esvaziaram a piscina e tentaram insistentemente falar com o maldito corretor de imóveis, que é claro, manteve seu telefone desligado.
Quando acordou, além de uma enorme dor de cabeça, Lucila se surpreendeu com o que viu.
- Vocês realmente são talentosos, hein? Acho que vou contratar vocês! – Rindo foi até o jardim olhar o restante da casa. Reparou que a casa ao lado estava vazia, mas que havia gente na seguinte. Um FoxCross preto estacionando na entrada denunciava moradores.
- Fox Preto? – pensou em voz alta.Sabia que tinha tido uma experiência com esse carro. Algo, uma lembrança, o que era? E de repente gritou:
- Manú! Eu vi a Manú!
Certamente sua voz saiu mais alto do que esperado, pois imediatamente alguém se levantou de uma rede e olhou como se respondesse ao chamado.
Era Manú! A própria! E agora era sua vizinha de condomínio em Angra. E pelo amassado do seu rosto, era provável que estivesse dormindo quando ouviu alguém chamar seu nome. Ela se levantou apertou os olhos em direção a Lucila.
- Quem é? Está contra-luz, não consigo enxergar.
Lucila não pensou duas vezes: entrou correndo na casa e ficou a espreita, que nem uma criança quando faz arte. Se sentou na beira de um sofá coberto por lençóis esperando que ela desistisse de descobrir quem a chamara. Mas isso era ridículo. E Lucila sabia. Cedo ou tarde as duas se encontrariam e é claro Manú saberia que foi Lucila quem a chamou. Lucila respirou e saiu novamente da casa.
Manú não estava mais em seu jardim. Lucila ainda andou um pouco em direção a casa vizinha, mas não viu ninguém.
Sua cabeça voltou a doer e agora sentia uma fome anormal. Felizmente da cozinha vinha um cheiro convidativo. Flávio acabava de fazer um espaguete que foi devorado pelos cinco.
Lucila não contou nada sobre Manú, pois teria que explicar sobre as trapaças de Juca e Bruna havia lhe pedido segredo. Apesar da amiga fujona não merecer, Lucila se sentia responsável por isso. Ela e Rafa eram donos deste segredo.
Na mesa, enquanto todos comiam, Flávio perguntou:
- Que diabos que você tava falando em bebunzinha? Que amiga que ta grávida? Você ta grávida? O que é que você ficava repetindo???
Lucila engoliu o macarrão e sacudiu a cabeça dando a entender que não sabia do que Flávio estava falando. Por dentro estava apavorada, com medo de ter contado mais alguma coisa. Sentia-se cansada com essa história e ainda Manú na casa ao lado. Precisava de um apoio. Precisava muito de Rafa. Ele saberia como lidar com isso. Com certeza se Manú soubesse algo sobre o paradeiro de Bruna, ele saberia como arrancar esta informação. Mas Rafa estava na Bahia e certamente nem se lembrava dessa história, ou mesmo dela.
Lucila se sentiu deprimida. E ficou ainda mais triste por enxergar um velho e conhecido sentimento. Ela sabia, mas não queria acreditar que novamente estava envolvida por Rafa. Ela não esperava mais mudanças e sabia que ela e Rafa não dariam certo. Teve raiva em pensar porque isso estava acontecendo. Porque ela não podia sentir isso por outra pessoa? Alguém em quem pudesse realmente ter uma relação segura, séria. Será que nunca iria se livrar deste fantasma? Será que ele era tudo que a vida tinha pra ela? Um homem lindo, divertido, simpático e completamente cafajeste? Lucila merecia mais do que isso, e sabia disso. A razão e a emoção se debatiam dentro dela. O medo de que nada melhor aparecesse e de que Rafa fosse realmente sua única opção. Eram anos tentando fazer funcionar esse relacionamento. E a cada volta era pior. Mais ciúmes de Lucila, mais mentiras de Rafa. Não havia tranqüilidade. Não era isso que ela queria, mas seu coração ainda o tinha lá dentro. Só estava adormecido, o sentimento sempre esteve lá e agora acordou. Lucila chorou.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
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Babi,
ResponderExcluirADOREI a sua ideia e a história! Muito envolvente! Já li todos os capítulos e estou esperando novidades... Cadê? Cadê? Cadê? Sem pressão...
Um beijo grande,
Ju