segunda-feira, 23 de março de 2009

CAPÍTULO 21

A volta pro escritório depois de um almoço tão longo com a chefe, gerou uma série de piadinhas e sorrisinhos pelo escritório. Lucila não percebeu, estava tão animada com a idéia de que podia fazer o que quisesse da sua vida íntima. Bardot tinha lhe mostrado como. Agora, estava em suas mãos fazer seu destino.

Logo que sentou na sua mesa, Carla avisou:
- Lú, você esqueceu seu celular em cima da mesa. Ele ficou tocando “Don’t worry, be happy”, que nem um louco. Eu desliguei o som antes que alguém saísse dançado reggae, ok?

Lucila agradeceu e viu que as ligações tinham sido de Ana. Como tinha voltado tarde do almoço, deixou pra ligar quando saísse do trabalho.

Assim que entrou no carro telefonou pra Ana. As duas decidiram se encontrar pra colocar os assuntos em dia, e é claro, falar sobre Bruna e sobre o casamento de Ana, que se aproximava.

Se encontraram numa champanheria em Botafogo. Conseguiram lugares no canto da mesa comunitária. Ana pediu espumante da marca que encomendou pro seu casamento para pedir a opinião de Lucila. Depois de muito papo furado, Lucila mudou o tom e perguntou:
- Ana você contou pra Bruna que a Manú não está grávida, não contou?


- Claro que contei.


- E ela contou pro Marcelo?

- Contou sim. Eu estava com ela no telefone quando ela falou pra ele.

- Então porque eles não denunciam o Juca?

Ana parou. Tomou um gole do seu espumante e com cara de quem ainda não tinha pensado nisso. Depois respondeu:
- Boa pergunta. Se o Marcelo descobriu que a gravidez de Manú não existe, ele não tem mais nada que o impeça de denunciar. Aliás, não entendo direito essa história da Bruna se enfiar na casa desse cara, sabia? Eu não ia falar nada, mas agora que estamos falando isso.

Lucila riu. Também já tinha pensado nisso. E no fato de ter quase absoluta certeza de que viu os dois entrarem de mãos dadas no consultório da Dra. Renata.
Com ar de sabichona, Lucila concluiu:
- Existem muitas coisas mal explicadas nesta história. Você se incomoda se eu chamar o Rafa pra vir aqui? Acho que ele pode nos ajudar nisso.

Ana levantou as sobrancelhas e acendeu um cigarro. Depois de uma longa tragada alfinetou:
- Eu? Eu não me importo. Você que deveria se importar. Não se importa?

- Não! – respondeu com firmeza e segurança. A segurança que adquiriu depois da conversa com Bardot.

Diante desta atitude, Ana apenas encolheu os ombros e apontou para o celular. Lucila imediatamente ligou pra Rafa. Depois de sussurinhos e uma conversinha mole, explicou que estava com Ana e que as duas tinham muita coisa pra contar sobre Bruna. Rafa topou ir até lá.

Não foram mais do que dez minutos até que aquele homem lindo entrasse no bar, chamando atenção da mulherada que era maioria no lugar. Lucila sentiu um pouco de orgulho, um pouco de ciúmes, mas principalmente um pouco de tesão. Há muito tempo não se permitia olhar para o Rafa sem barreiras ou conflitos. Ele era realmente muito bonito e tinha um jeito de andar, de olhar. Poucos homens conseguem ser charmosos na fila de um bar. Ele conseguia.

Assim que entrou, cumprimentou Ana com um forte abraço. Depois deu a volta na mesa e olhou Lucila dos pés a cabeça. Respirou fundo ao examiná-la, como se precisasse de fôlego diante da mulher mais linda do mundo. Pelo menos foi assim que Lucila se sentiu com aquele olhar. Ela deve vontade de beijá-lo. Ele teve vontade de tirá-la dali. Rafa a abraçou, a beijou perto do pescoço. Depois pegou uma das mãos de Lucila e de um beijo, sem tirar os olhos dos olhos dela. Só então balbuciou com uma voz mansa, macia, totalmente envolvente:
- Tudo bem?

Lucila não conseguiu fazer nada além de balançar a cabeça. Sentia o coração disparado. Por mais estranho que parecesse, ela teve vontade de chorar. Chorar de emoção. Uma emoção totalmente gerada pelo sentimento despertado. Há muito tempo não sentia nada parecido e voltar a sentir isso novamente foi como uma descarga elétrica.

Ana que a essa altura olhava pela quinta vez o cardápio, pediu mais uma taça pro novo companheiro. Ela não estava entendendo o que Lucila pretendia com aquilo. Ia começar tudo de novo e ela não estava a fim de apoiar mais uma vez um relacionamento que todos sabiam que não dava certo. Mas também sabia que aquele não era o momento para sermões Ficou na sua, mas não conseguia ser natural com Rafa e ele já tinha percebido.

No meio do climão, Lucila engoliu as borboletas que rodeavam seu estômago e caiu na real. Pra quebrar o gelo dos dois, Lucila começou a relatar para Rafa tudo que tinha acontecido: o encontro de Ana com Bruna, que estava na casa do Marcelo Zacaro; a falsa gravidez de Manu e a ameaça de Juca em Angra.

Rafa ouviu tudo calado. Lucila e Ana se mantiveram imparciais em seu relato. Quando a história acabou, Rafa perguntou:
- Vocês viram os documentos?

As duas se olharam e responderam que não. Rafa então continuou:
- Bruna até explicou o porquê foi parar na casa do Marcelo e porquê desistiram de denunciar o Juca. Tudo bem. Marcelo estava com medo que Manú abortasse. Mas se agora eles sabem que a gravidez de Manú é falsa, porque não denunciar agora? E Bruna diz que está na casa de Marcelo porque não quer ser achada por Juca. Então como ela recebeu a foto rabiscada enviada por Juca? Se ele mandou pra casa do Marcelo é porque sabe que ela está lá. Não faz sentido.

E não fazia mesmo. Os três tinham as mesmas dúvidas. E decidiram confrontar Bruna. Os três junto com Marcelo e Bruna. Se ela tinha os envolvido nessa história, precisava explicar tudo direitinho.

Minutos depois Ana foi pra casa. Sabia que não era a melhor atitude a tomar, mas precisava dormir e os dois estavam tão empolgados que não seria a presença dela que os intimidaria.

Por sorte ou por azar, a champanheria fecha a meia-noite. É apenas para happy hours. Assim, os dois tiveram que ir embora depois que as cadeiras já estavam sobre as mesas e as luzes totalmente acesas. Como Lucila também estava de carro, foi mais fácil resistir as investidas de Rafa. Aliás, fácil não, menos difícil.

Então Rafa a levou até o carro. Chegando lá de novo lançou aquele olhar. Meu Deus, como uma pessoa pode ser tão impressionantemente envolvente? Só de olhar daquele jeito pra Lucila, ela desmontava. Sem saber como começou, mas sabendo direitinho como estava bom, Rafa a beijou. Foi um beijo longo, completamente sincronizado, quente, gostoso, cheio de carinho, mas também cheio de desejo.

Enquanto se beijavam, uma moto acelerando, passou assustando os dois. Talvez só por isso os dois se largaram. Ficaram ainda uns minutos mudos, apenas se olhando. Os dois pensavam a mesma coisa: - porque nos separamos?
O celular de Lucila tocou, era uma mensagem de Ana:
Vá com calma, pra não se arrepender.
Lucila seguiu o conselho da amiga. Se dizer nada entrou no carro. Rafa também não disse nada, apenas acenou com a cabeça.

Lucila mal conseguiu dormir.

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