Chegou o último dia do ano e Bruna gostaria que todos seus problemas ficassem pra trás e que o próximo fosse feito exclusivamente de coisas boas, maravilhosas, como o filho que esperava. Passando a mão na pequena barriga, era capaz de esquecer o inferno que a rodeava. Seu filho era o que lhe dava força para enfrentar qualquer coisa ou pessoa.
Ainda era muito cedo, mas Bruna não conseguia mais dormir. Continuou deitada, olhando o minúsculo raio de sol que entrava pela janela coberta por jornais. Como gostaria de sentir o sol e mostrar para seu filhote como é delicioso o calor da manhã. Mas ela não podia.
Logo depois Marcelo entrou no quarto com uma bandeja. Ele sempre vinha trazer seu café e também o jantar. Sempre perguntava sobre como ela se sentia, como estava o bebê. Vez ou outra, apesar de certo desconforto, colocava sua mão sobre a barriga. Os dois se davam bem, existia um carinho, uma cumplicidade. Bruna sabia que podia contar com ele, caso ela ou o bebê precisassem de alguma coisa.
Assim que terminou seu café, ele pegou a bandeja e levou pra fora do quarto. Minutos depois veio se despedir de Bruna. Precisava ir para a JAEH tocar seu trabalho como sócio-diretor.
Em Angra todos já estavam de pé. Tinham muito a fazer para preparar a festa de réveillon. Os meninos corriam de um lado pro outro listando tarefas para todos. Tentando se esquivar de ganhar uma tarefa, Lucila pegou o celular e resolveu ligar pra Ana, que atendeu ao telefone sussurrando:
- Oi Lú. Não posso falar muito. Estou na porta da casa do tal Marcelo Zacaro. Assim que ele sair do prédio, vou falar com ele.
- Ana e se ele for violento? Se tentar te intimidar? Cuidado amiga. Olha lá o que você vai fazer. Cuidado!
- Pode deixar. Estou equipada com meu laquê de cabelo. Qualquer coisa, espirro laquê na cara dele.
Só Ana poderia ter uma idéia como essa. Usar laquê como arma. E quem nos tempos atuais teria laquê em casa? Era melhor nem saber o porquê que ela tinha um.
Ana parecia uma detetive de campana. Marcelo morava em um prédio muito elegante em Ipanema. Ana também descobriu que Marcelo tinha uma BMW prata e que sairia de carro, então se posicionou com seu Corsa perto da saída da garagem. Assim que avistasse a BMW prata, a fecharia com seu carro.
Não demorou muito e a sinaleta da garagem começou a tocar. Ana passou a primeira e se preparou para o ataque. Era a BMW. Ana como um perfeito Kamikaze fechou o carro. Imediatamente Marcelo abriu o vidro xingando a motorista aparentemente desatenta. Foi quando Ana saiu do carro e se aproximou da janela do motorista e disse:
- Marcelo Zacaro? – ele concordou atônito, balançando a cabeça - Temos muito o que conversar ou você acha que vou ficar sem notícias de uma das minha melhores amigas. Quero que você me diga agora o que fez com Bruna! – quase gritando, Ana estava vermelha. Apesar da segurança com que encarava seu adversário, estava tremendo por dentro.
Marcelo pediu um instante fez uma ligação no celular. Ana não conseguia ouvir o que era e por isso imaginou milhares de coisas terríveis como que ele estava chamando seus capangas que lhe dariam uma surra ou que estava autorizando seus comparsas a darem um fim em Bruna. Ana se arrependeu de ter assistido a tantos filmes de ação. Nada que pensasse era melhor do que uma surra, um tiro, uma bomba. Aflita em suas fantasias, quase gritou quando Marcelo pegou sua mão.
- Calma. Está tudo bem. Vamos subir, Bruna está lá em cima e quer falar com você.
Quer falar? Ou pode falar? Ela não está amordaçada e amarrada em uma cadeira? Era ela no telefone? Ah ela tem telefone, mas não quis ligar. Que ótimo! – estes pensamentos mudaram o foco da raiva de Ana que começou a questionar Bruna.
Depois de estacionar o carro, Ana subiu com Marcelo. Chegando lá os dois entraram em uma grande sala. Era bonita, decorada. Apesar de ainda não ter cortinas. Bruna veio caminhando pelo corredor. Vestia camisola e chinelos e parecia cansada. Mas nem de longe parecia uma refém. Era claro que estava ali por livre e espontânea vontade.
A alegria de ver a amiga conflitava com a idéia de que ela não havia se preocupado com ela ou com Lucila.
As duas ficaram uns instantes se olhando, até que se abraçaram. Foi um abraço frio, meio temeroso, mas era o que a cena esperava. Marcelo olhou pra Bruna e disse:
- Bom. Acho que posso ir e deixar você a sós, certo? – dito isso com um aceno de cabeça se despediu e fechou a porta.
O constrangimento de Bruna era tão evidente, que Ana teve pena. Para descontrair perguntou sobre o bebê e pediu para sentir sua barriga. Bruna destilou peso, medidas, semanas e todos os dados sobre o bebê. que uma mãe sabe de cor.
Quebrado o gelo, Ana, que tinha como característica marcante sua objetividade, perguntou:
- O que está acontecendo de tão grave que você não pode nos contar?
Era possível ver uma lágrima querendo sair dos olhos de Bruna. Ana imediatamente se sentiu culpada pelo tom com que fez a pergunta, mas a amiga respirou, ajeitou o rabo-de-cavalo e falou:
- Você deve saber sobre Juca, não é? Pois bem, quando recebi em casa os documentos que comprovavam o grande corrupto que meu marido era, não tive dúvidas sobre denunciá-lo. Estava certa disso. Porém, quando estava na casa de Lucila, um homem me ligou dizendo que ele era a pessoa que havia mandando os documentos. Era o Marcelo. Nos encontramos e ele me fez um pedido.
- Pedido? Que pedido?
- Pediu para que eu esperasse alguns dias antes de denunciar o esquema.
- Mas por quê?
- Por que ele e Manú eram namorados e ela suspeitava que estivesse grávida. Ele é, ou era, não sei, completamente apaixonado por ela. Mas suspeitou que não era correspondido e que estava sendo traído. Foi quando começou a ouvir suas conversas telefônicas, a fuçar papéis, até que achou uma pasta com os documentos. Os documentos que me enviou.
- E Manú está grávida?
- Quando questionou Manú sobre o esquema ela terminou com ele. Foi quando ele me enviou os documentos. Porém, dias depois Manú contou que esperava um filho dele e ele me procurou pedindo para esperar. O assunto gravidez me fez reparar que eu estava com minha menstruação atrasada. Ainda na casa da Lú, fiz um exame de farmácia e deu positivo. Eu não sabia o que fazer. – fez um suspiro e com cara de desaprovação continuou – eu pensei em abortar, você acredita?
Ana chegou perto da amiga e segurou na sua mão. Bruna com um sorriso agradeceu o carinho e continuou seu relato:
- Eu estava tão apavorada que a única pessoa que sabia que ia entender totalmente o que eu estava sentindo era Marcelo. Afinal, ele estava passando exatamente por isso. Então eu o procurei e vim pra cá pra colocar a cabeça em ordem.
- E porque você não podia nos contar isso?
- Dias depois, Manú procurou Marcelo dizendo que se ele prosseguisse com a denúncia ela iria abortar o filho deles. E avisou que ela e Juca já sabiam que eu estava junto com Marcelo nisso. Não sabíamos como eles tinham descoberto. Então fiquei com muito medo. Foi quando mandei minha ultima mensagem pra Lucila. Não queria colocar vocês em risco. Você não tem idéia dos bilhetes com ameaças que Manú coloca na mesa do Marcelo. Coisa de psicopata. E eu tenho pavor do que Juca pode fazer quando descobrir que estou grávida. E se ele me ameaçar assim como Manú está fazendo com Marcelo?
- Mas você acredita mesmo que Juca faria alguma coisa contra você?
Bruna se levantou e pegou um papel e entregou para Ana. Era uma foto dos dois. O rosto de Bruna estava todo riscado e no verso uma frase:
Minha Pequena, existem assuntos que devem ser esquecidos. Siga meu conselho.
Beijo do seu Juca.
Ana tremeu ao ver a foto rabiscada. Era ameaçadora. As duas se abraçaram por alguns instantes e Bruna continuou:
- Marcelo está usando seu poder no conselho para garantir minha segurança. Juca sabe que não pode tirá-lo do cargo sem levantar suspeitas. É um briga de nervos. Manú ameaça Marcelo e Marcelo ameaça não aprovar no conselho os assunto de interesse de Juca.
Ana se lembrou que Lucila havia se encontrado com Manú. Imediatamente ligou pra Lucila:
-Lu. Ana tudo bem? Me responde uma coisa: Manú parecia grávida?
- Oi Ana. Grávida? Do que você está falando? Tá maluca? Onde você está?
- Estou com Bruna. Mas me reponde. Ela parecia grávida?
- Bruna? Onde ela está? Como ela está? Tá tudo bem? O que aconteceu?
- Calma eu vou te explicar tudo. Ela está bem. Mas me responde.
- Manú grávida? Não! Ela estava bebendo todas e, além disso, estava usando um vestido ultra-mega justo. Ela é muito vulgar, né? E cafona. Você acredita que ela estava de vestido de cotton. Cotton? Quem usa cotton hoje em dia?
Ana repetiu pra Bruna o que Lucila dizia. Depois explicou o que havia acontecido. Lucila conversou uns minutos com Bruna e ficaram de manter contato. Bruna fez Lucila prometer que ficaria longe de Manú. Lucila prometeu, mas sabia que não iria cumprir.
domingo, 1 de março de 2009
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Garanto que esse Marcelo é que é maluco... como é que a Bruna vai parar na casa de uma pessoa que ela nem conhece??? Endoidou também...
ResponderExcluirBeeeeijos!!!