terça-feira, 31 de março de 2009

CAPÍTULO 23

- Ela me chamou para uma conversa, se mostrando arrasada porque havia descoberto que Juca estava em um esquema criminoso com o governo, tirando vantagem financeira em contratos de fachada. Falava que era o fim do seu casamento, que havia sido enganada. Contou que havia recebido de um anônimo os documentos que comprovavam toda a fraude. Me fez ir com ela até a JAEH e apontou o dedo na cara do Juca dizendo que havia descoberto tudo. Juca ficou sem reação, certamente sem entender do que ela falava. O coitado tentou explicar, mas Bruna não deu espaço pra isso. A levei pra minha casa e cuidei dela. Ela foi embora e me deixou o bilhete e depois o recado pedindo para que eu não me preocupasse. Ela queria era sair de cena com a certeza de que eu não atrapalharia. Bruna só não contava com a coincidência de eu ter uma consulta na Dra. Renata na mesma semana que ela. Foi assim que descobri sobre a gravidez e ainda a peguei “no pulo” indo fazer um exame junto com o Marcelo. Daí pra frente ela teve que inventar aquela história absurda sobre as ameaças de Manú ao Marcelo. Na verdade, Manú nunca deve ter estado grávida. E a foto riscada que mostrou pra Ana, que parecia uma ameaça de Juca. Não acredito que ela inventou isso também. E inventou de ultima hora, hein? Porque Ana apareceu de surpresa na casa de Marcelo. Meu Deus! Bruna está deixando no chinelo os grandes vilões do cinema.

Ana interrompeu Lucila:
- Ela teve que ser rápida sim! Na hora que abordei o Marcelo saindo da garagem de casa, ele ligou pra Bruna avisando que estava subindo comigo. Cinco minutos!! Em cinco minutos ela conseguiu pensar em tudo isso, riscar a foto, escrever como se fosse o Juca e ainda fazer aquele teatro todo com direito à lágrimas e carinha de vítima! Inacreditável!

Rafa ouvia tudo que as duas falavam, enquanto folheava a pasta da Polícia Federal. Dentro da sua cabeça masculina era ainda mais difícil entender que alguém pudesse se tornar um vilão da noite pro dia só porque se apaixonou. – “Pica de ouro que esse cara tem”- - Pensou. Leu os relatórios e se virou para as duas:
- Acho que temos que nos encontrar com Juca e Manú. Principalmente você Lú. Ele deve achar que você faz parte de toda essa armação da Bruna.

Lucila arregalou os olhos. Sentia vergonha só de pensar em encarar o Juca. E Manú? Ela podia até ser inocente, mas Lucila continuava sem ir com a cara dela. Entendia agora a raiva com que Manú foi a abordar em Angra, fazendo ironias e porque ela foi tão ríspida quando Lucila perguntou sobre Bruna. Naquele momento Manú devia odiar Bruna por todas as acusações que fez. E por tabela também a odiava. Afinal, como Rafa disse, tudo fazia parecer que ela estava junto com Bruna nisso. Justificava até a ida de Juca atrás de Lucila na noite de réveillon. Em um tom nada amigável, Juca a pressionou Lucila ajudá-lo a encontrar Bruna. Mesmo contra sua vontade, Lucila concordou em ir encontrar Juca e Manú.

Rafa, que era o mais neutro na história, pegou o telefone e ligou pra Juca. Não mencionou nada sobre Lucila ou Ana. Apenas falou que gostaria de encontrá-lo, pois tinha visto na TV sobre o escândalo na JAEH. Pediu que Manú estivesse e ofereceu ajuda como amigo e advogado. A voz de Juca era calma, mas triste. Parecia estar com a cabeça longe, distante, um pouco deprimido. Ele nem achou estranho o pedido para Manú estar presente. Combinaram às oito horas e apesar de ser sábado, marcaram no escritório da JAEH. Juca explicou que estaria por lá resolvendo detalhes com a PF.

Lucila respirou fundo, pediu licença e levantou-se da mesa que estavam em uma lanchonete no Jardim Botânico para ir até o banheiro. Aproveitando a ausência da amiga, Ana imprensou Rafa:
- Rafa, é indiscutível a sua ajuda neste momento. Você realmente tem sido muito gente boa. Mas não posso fingir que não estou vendo o que está acontecendo entre você e Lucila. Você sabe muito bem que Lucila sempre foi louca por você. Não acho certo, agora que ela recuperou sua auto-estima, sua vida, você vir de novo com esse charme cafajeste pra de novo fazê-la sofrer. Pense bem no que você está fazendo! Eu não vou deixar você a fazer sofrer de novo, entendeu?

Apesar do tom de Ana ser quase ameaçador, Rafa permaneceu impassível. Depois de todo o discurso da amiga defensora, ele pegou na mão de Ana e com um sorriso insuportavelmente lindo, disse:
- Ana, eu te entendo perfeitamente. Sei muito bem que fui um canalha com a Lú. Você não sabe como me arrependo por isso. Me arrependo por ter sido tão infantil, tão imaturo e em não perceber o que agora pra mim é tão claro: Lucila é a mulher da minha vida, sempre foi. E agora que tenho a chance de tê-la de volta e compensar tudo que a fiz sofrer. Eu mudei, amadureci. E sua amiga é insubstituível e eu ainda a amo.

Lucila voltou do banheiro e viu aquela cena estranha.
- Do que vocês estão falando?

Os dois riram, disfarçaram e emendaram de novo o papo sobre a JAEH. Lucila não se convenceu. Mas sabia que alguma coisa tinha feito a amiga se soltar mais em relação ao Rafa. Agora ela se permitia rir das piadas dele, se dirigia a ele, como velhos amigos. Lucila estava feliz com isso. Diante da decepção enorme que passava com Bruna, Rafa vinha como um maravilhoso prêmio de consolação.
Os três pediram a conta e saíram. Ana se despediu dos dois e entrou no seu carro que estava estacionado na porta da lanchonete.
Lucila não estava de carro com a desculpa de que estava nervosa demais para dirigir. Mentira! Ela pensou nisso, ela planejou ser levada pra casa por Rafa. E foi o que aconteceu.

No caminho, era impossível dizer qual dos dois estava mais nervoso. Ambos tentavam disfarçar. Gargalhadas nervosas, mãos que batucavam, coceiras, ajeitadas de cabelo compulsivas. Tudo indicava a apreensão dos dois. Há anos não ficavam juntos. E os dois sabiam que isso ia acontecer. E agora. Sem precisar perguntar nada à Lucila, ele estacionou o carro em frente ao prédio dela, desligou o motor e saiu do carro. Deu a volta e abriu a porta para que ela saísse. Os dois entraram pela portaria sem dizer uma palavra. O elevador parecia estar do milésimo andar. Entraram no elevador e Lucila olhou para a câmera de segurança, como se quisesse mostrar a ele, que ali era território proibido. Lucila abriu a porta. Rafa entrou e espero que ela trancasse. Quando ela se virou não teve tempo nem pra largar a chave. Rafa a agarrou e a arrastou para o sofá. Todo nervosismo tinha desaparecido. Agora eram só os dois, com o mesmo maravilhoso entrosamento que sempre tiveram. No meio de tudo Rafa a chamou de “meu amor” e Lucila sentiu a emoção de ser amada por quem ela amava.

Nenhum comentário:

Postar um comentário