Lú,
Fui em casa ver como está tudo. Mas volto para tomar café com você.
Beijo na boca!
Rafa
PS: me liga quando acordar.
Nem o temporal que caía lá fora, nem a lâmpada queimada do banheiro, ou – OPS! - a tábua levantada da privada. Nada iria tirar o bom humor de Lucila. Com os cabelos desgrenhados e o rosto ainda amassado, ela se achava a mulher mais poderosa da face da terra. Linda! Gostosa! Incrível!
Depois de lavar o rosto, ensaiou em voz alta um “bom dia” e ligou pra Rafa. O celular estava fora de área. Continuou a se arrumar para seu café da manhã romântico. Vestiu uma camiseta sexy, mas descontraída e prendeu o cabelo. Colocou a mesa com pratos e xícaras do mesmo jogo, que há anos não usava. Ligou novamente, mas inda estava fora da área de cobertura.
O telefone tocou e ela atendeu com a sua melhor voz. Mas era Ana, querendo falar que havia se dado conta de que seu casamento estava chegando:
- Ai Lucila! Eu fiquei meses preparando tudo e agora ta tão perto! To tão nervosa!
Lucila riu e pensou em como ficará no seu dia de noiva. Também ficaria nervosa, apesar de preferir um casamento fora do tradicional, sem tanta pompa como o de Ana. Para tranqüilizar a amiga e voltar logo para seus preparativos, disse:
- Amiga, vai ser tudo ótimo! Não tem mais com o se preocupar! Agora deixa eu desligar que preciso fazer umas coisas, tá?
Ana desligou um pouco contrariada. Sabia que estava sendo trocada por Rafa. Lucila ligou para casa de Rafa. Apesar de tanto tempo de separação, ela ainda sabia todos seus telefones de cabeça. Ninguém atendeu. Continuou se arrumando e ajeitando a casa e de dois em dois minutos repetia a ligação pra casa dele. Não queria ligar de novo para o celular e parecer afobada demais quando ele visse os avisos de ligação.
Depois de uma hora tentando, Lucila estava em pânico. Já tinha perdido a vergonha e agora ligava insistentemente para o celular, sempre desligado. O passado veio pra assombrá-la. Estava tudo ali de volta. Os sumiços começaram. Em seguida seriam as mentiras, as histórias inventadas e de novo tudo ia por água abaixo. Lucila sabia muito bem como era tudo isso e a sensação de ser enganada era algo que não pretendia sentir novamente.
Num surto de raiva, Lucila jogou no chão toda a louça da mesa posta para o café. Depois ficou parada olhando a besteira que havia feito e começou a odiar a si própria por acreditar de novo em Rafa e ainda ter que limpar todos aqueles cacos. Ela gritava e as lágrimas escorriam. Quando de repente olhou pra trás e viu Rafa parado na porta, com a chave em uma das mãos e na outra um embrulho de pão. Ele a olhou assustado e perguntou:
- Lú o que houve? Você se machucou?
Ele abaixou e a ajudou a pegar os cacos. Olhava desconfiado e Lucila então respondeu:
- Imagina que eu passei aqui e sem querer a toalha veio. Acho que esbarrei. Que susto que tomei. Fiquei tão nervosa de ter quebrado tudo. Desculpa, me descontrolei.
Mas aliviado, Rafa a beijou na testa e a acalmou:
- Deixa que eu arrumo isso. Eu trouxe pão quentinho e advinha? Mortadela! Você ainda adora mortadela? Ah. Você me empresta seu carregador? Meu celular está sem bateria.
Lucila estava nervosa, mas de vergonha. Como pode pensar todos aqueles absurdos. Rafa estava ali de volta e era dela, todo dela. Ele realmente tinha mudado.
terça-feira, 14 de abril de 2009
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Ach que é o melhor capítulo... "volto para tomar café com você" é tudo de bom!
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