quarta-feira, 22 de abril de 2009

CAPÍTULO 28

Lucila havia aceitado depor no processo contra Marcelo e Waldemar Zacaro. Ela iria contar para a polícia como aconteceram os fatos com Bruna, mostrar o bilhete, a gravação na secretária eletrônica e até a caixa com os documentos da investigação. Juca acreditava que isso poderia ajudar a comprovar a intenção de fuga.

Apesar de saber que estava fazendo o certo, a idéia de acusar sua melhor ou ex melhor amiga de cúmplice a deixava arrasada. Entendia que isso é necessário. Mas no fundo acreditava que Bruna estava iludida por Marcelo, cega de paixão. O que Lucila não entendia é porque surgiu esta brecha na vida de Bruna a ponto dela se apaixonar por Marcelo tendo um casamento tão feliz com Juca. Ou não seria tão feliz assim?

No dia do depoimento Lucila ligou para Juca para tirar suas últimas dúvidas. Ele sugeriu que os dois almoçassem juntos. Lucila adorou. Era um sinal de que os ressentimentos haviam realmente sumido.

Foram se encontrar em um restaurante próximo ao escritório de Lucila. Juca parecia melhor do que no dia que eles se encontraram na JAEH. Mas ainda estava bem abatido, magro e o cabelo precisava de cuidados. Ele todo precisava de cuidados. Ou melhor: de alguém para cuidar dele.

Os dois se abraçaram. Juca ainda estava visivelmente muito sensível. Lucila perguntou:
- Como você está?

Ele sorriu forçado e respondeu:
- Estou caminhando. Às vezes acho que não vou conseguir, principalmente agora sem ajuda da Manú.

Lucila arregalou os olhou. E ele continuou:
- Ela pediu pra sair da JAEH.
Lucila tinha entendido tudo. Não sabia como. Mas tinha certeza de que o que veio na sua cabeça era a verdade. Então arriscou:
- Ela é apaixonada por você, não é?

Juca se espantou. Sabia do sexto sentido feminino, mas não acreditava que fosse tão eficaz. Ou será que era tão óbvio que todos percebiam, menos ele?

Com um sorriso de sabichona, Lucila continuou:
- Quando estivemos na JAEH eu percebi uma tristeza diferente nos olhos dela. No momento achava que era pela traição de Marcelo. Mas fiquei com isso na cabeça e não estava totalmente convencida dessa teoria. Quando você disse que ela se demitiu, só podia ser por amor. Ela vivia pela empresa. Era completamente dedicada ao trabalho. Não largaria a JAEH se não fosse por algo que não tem como controlar.

Ainda espantado, mas com uma fisionomia bem mais relaxada, falou:
- É! A cabeça feminina realmente é o maior mistério da humanidade. – riu de leve e continuou – Eu jamais imaginei que Manú tivesse qualquer interesse em mim. Em algumas épocas, Bruna até tinha um pouco de ciúmes dela, mas eu achava que era somente pela proximidade necessária que tínhamos por causa dos negócios. Manú era meu braço direito e esquerdo.

Lucila concordou com a cabeça. Pensava que o coitado além de ter perdido seu patrimônio, sua esposa, agora também perdia uma importante funcionária.

Enquanto almoçaram, Juca tirou as dúvidas de Lucila e explicou que a investigação ia além da localização de Marcelo. A polícia também precisava localizar os cúmplices de Marcelo que eram o contador Dr. Antonio Carlos e a advogada Dra. Joana, que também haviam sumido depois que a bomba estourou. Os interrogatórios ao Waldemar Zacaro não levaram a polícia a nenhuma pista. E agora, ele aguardava julgamento em liberdade.

Lucila contou pra Juca que na época que ela e Rafa ainda acreditavam na inocência de Bruna, eles investigaram pra tentar descobrir o que havia motivado o sumiço dela. Explicou que eles acreditavam que a pessoa que supostamente havia enviado os documentos sobre a fraude, poderia estar envolvida. Lucila então contou que ela e Rafa já sabiam que o Dr. Antonio Carlos e Dra Joana eram as únicas pessoas, além de Juca e Manú, responsáveis pelos contratos com o governo. E que eles tinham conseguido essas informações através de um amigo de Rafa, que trabalha na JAEH.

Depois do almoço, Lucila foi até a Polícia Federal. Já tinha pedido dispensa pra Bardot, sua chefe, explicando a situação confusa que tinha se metido.

Tudo correu bem por lá. Ela até que ficou calma em seu depoimento. O que não era muito usual, pois Lucila morria medo de polícia. Mesmo sem ter absolutamente nada a dever, ela tremia toda vez que era parada numa blitz. Mas felizmente sua fobia não a atacou. Ela contou tudo, mostrou os bilhetes e a gravação. Logo depois foi liberada.

Como foi muito mais rápido do que imaginava e tinha sido liberada do trabalho a tarde toda, resolveu não desperdiçar sua tarde de folga e decidiu fazer uma surpresa para Rafa. Comprou pãezinhos de queijo e café e foi até o escritório dele o convidar para um coffe break.

Há anos não entrava naquele escritório. Muita coisa tinha mudado. Estava mais bonito, reformado e agora ocupava mais salas. Rafa tinha se dado muito bem em sua carreira. Colecionava bons clientes, que só se multiplicavam. O escritório foi fruto do rompimento de quatro advogados, entre eles, Rafa, com um famoso escritório de advocacia. Os quatro começaram com apenas um cliente que foi tão bem sucedido que virou vitrine para a conquista de novos clientes. E pelo que Lucila avaliava, desde a separação deles, os negócios prosperaram.

Lucila chegou na recepção e apesar de perceber que tinha sido reconhecida pela recepcionista, fingiu não ser quem ela pensava que ela era – “a Lucila corna” – pensou.
A recepcionista fez uma ligação e imediatamente a levou por um corredor. No caminho Lucila esbarrou com um dos sócios de Rafa. Era Gabriel. Lucila nunca morreu de amores por ele. Era um daqueles caras que faz piada de loira pra loira. Que se acha o mais machão do mundo e que adora dar a entender que tem um pinto enorme.
Mesmo tentando fingir que não o viu, ele veio falar com ela. Parou na sua frente e fez cara de “eu te conheço”. Lucila o ajudou e disse:
- Olá Gabriel. Quanto tempo, né? Eu vim dar um oi pro Rafael.

O rapaz fez cara de que tinha a reconhecido. E disparou um abraço exagerado e gritou:
- Lucilda!!!! Nossa!!!!!!!! Faz muito tempo mesmo, hein? Quer dizer que você tá de novo nadando nessas águas!!!! Ah grande Rafa!!! Garoto esperto! Não podia deixar você escapar mesmo!

Lucila pensou em corrigir seu nome, mas se isso significava ficar mais alguns minutos com aquele traste, era melhor desistir. Ela continuou andando e acenou pra ele encerrando a conversa. Quando já estava quase na sala da Rafa ainda ouviu:
- Lucilda! Grande Lucilda! AHHAHA

Respirou fundo. Ela nunca entendeu como Rafa agüentava aquela mala sem alça. Sua raiva se dissipou quando viu Rafa a esperando na porta de sua sala. Ele se virou pra recepcionista e com seu sorriso insuportavelmente lindo, disse:
- Obrigada por trazê-la. Por favor, avise que não quero ser incomodado, ok?

A recepcionista se virou e Rafa puxou Lucila com força pra dentro da sua sala. Olhou os pacotes do lanche que ela trazia, trancou a porta da sala e disse:
- Pena que vamos comer isso tudo frio.

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