segunda-feira, 6 de abril de 2009

CAPÍTULO 24

Os dois passaram a tarde na cama. Já eram quase sete da noite e eles precisavam sair pra ir até a JAEH conversar com Juca. Então, Rafa se levantou:
- Lú, porque você não vai tomando banho enquanto eu arrumo alguma coisa pra gente comer? Posso invadir sua cozinha?

Com um sorriso permanente no rosto, Lucila respondeu:
- Claro. Mas a cozinha continua daquele jeito. Cheia! Cheia de espaço vazio.

Os dois riram como se fosse a piada mais engraçada do mundo. Mais um beijo e Rafa foi pra cozinha. Ele andava pela casa enrolado em um lençol. Lucila o espiava e pensava como ele combinava com seu lençol, com sua casa, com ela.

Como se adivinhasse que Lucila estaria perdida em seus pensamentos, Rafa gritou da cozinha:
- Lú, vai pro banho! Olha a hora, meu amor!

Lucila riu e pensou – Claro, meu amor.

Quarenta minutos depois, Ana ligou dizendo que já estava no caminho. Pediu pra encontrá-los na portaria. Não queria subir sozinha.
Logo depois, Rafa e Lucila chegaram de mãos dadas. Ana riu dos dois. Lucila deu uma piscadinha pra amiga que não tinha nada a fazer além se conformar com aquele novo velho casal. Os três subiram para a sala de Juca.

Logo no hall se depararam com Manú, que furiosa foi em direção a Lucila:
- O que você está fazendo aqui?

Rafa a segurou e pediu calma:
- Manú, Lucila e Ana são tão vítimas como você. Bruna as enganou também. Por isso viemos aqui falar com vocês. Juca está na sala?

Meio contrariada, Manú respondeu que sim. E indicou a porta para Rafa, que foi o primeiro a entrar. A cena era deprimente. Milhões de papéis espalhados pela mesa, pelo chão. Juca sentando olhando fixamente para a janela. Vestido com roupas surradas, barba por fazer, cabelos em desalinho. Em nada se parecia com o vigoroso empresário que conheciam. Estava tão longe em seus pensamentos e nem ouviu Rafa entrar.

- Juca? Podemos entrar? – Perguntou Rafa com certo receio.

Juca sacudiu a cabeça, dizendo que sim. Se levantou com dificuldade e foi até Rafa:
- Entra aí. Desculpa a bagunça da sala, aliás da minha vida.

Lucila e Ana entraram na sala logo depois. As duas estavam nitidamente nervosas. Manú entrou marchando atrás delas e com um tom de ironia falou:
- As visitas querem um café? Uma água?

As duas recusaram. Juca olhava pra Lucila sem entender a presença dela. Rafa precisou explicar:
- Juca, Lucila e Ana também foram enganadas por Bruna. Por isso elas vieram aqui comigo. Precisamos contar pra vocês tudo o que aconteceu. Não queremos deixar nenhum mal entendido, ok?

Juca fez sinal para que os visitantes se sentassem, depois falou:
- Lucila. Acho que não preciso explicar pra você o quanto é difícil pra mim te receber aqui, não é? Nunca vou me esquecer daquele dia, que encorajada por você, Bruna veio aqui me acusar de crimes que não cometi.

Lucila se arrependeu de não ter aceitado uma água. Sua garganta estava seca e suas mãos trêmulas. Rafa pegou sua mão e pediu para Juca ouvisse o que Lucila tinha pra contar. Ela respirou fundo e relatou tudo, desde o dia que Bruna a pediu que a encontrasse até os relatórios que havia recebido e as cartas. Ana também contou sobre a ida à casa de Marcelo e a foto riscada que Bruna mostrou. Rafa entregou a ele o relatório e as cartas. Juca olhou tudo, incrédulo. Manú não conseguiu se segurar e arrancou a carta das mãos de Juca e depois de uma gargalhada debochada falou:
- Por amor pode tudo, né? Ah Juca essa sua mulherzinha, me desculpe, mas é uma biscate! Se é verdade o que esses aí estão dizendo, ela é muito pior do que eu imaginava!

No meio da emoção Manú contou que enquanto namorava Marcelo, desconfiou que ele e o pai tramavam algo na JAEH. Começou a juntar provas e contou tudo ao Juca. A partir daí, Juca e Manú já tinham indícios suficientes para que a PF começasse uma investigação. Nesse meio tempo, o namoro de Manú e Marcelo não tinha como continuar e eles pararam de se falar.

O relato de Manú era emocionante e cheio de novidades. Aos olhos de Lucila, Manú deixava de ser vilã pra ser a verdadeira heroína da história. Com isso, um certo desconforto pairava no ar, mas Rafa conseguiu amenizar a situação. Com calma pegou um copo de água pra Manú e usou sua lábia para concluir aquele difícil encontro:
- Juca e Manú, não adianta mais julgarmos a Bruna. Nenhum de nós concorda com o que ela fez. Ela envolveu Lucila, envolveu a Ana. Mentiu e agora está esperando um filho de um foragido da Polícia Federal. Só viemos aqui para nos colocarmos à disposição para o que vocês precisarem e para explicar que também fomos enganados.

Lucila se orgulhou dele e teve força enfrentar Manú:
- Queria me desculpar com você Manú. Em Angra acho que fomos meio ríspidas uma com a outra.

Manú consentiu com um gesto e pela primeira vez pareceu se desarmar.
Todos se levantaram e Juca abraçou Lucila e Ana e prendeu o choro. Lucila também teve vontade de chorar. Antes de saírem da sala, Juca falou para os três:
- Eu tenho certeza que vou reerguer minha empresa e minha reputação. Mas não sei se vou conseguir superar a traição de Bruna. Ainda dói muito.

Os três sentiram a dor de Juca. Era um homem apaixonado com seu coração destruído. Foram saindo da sala, Manú foi levá-los até o elevador. Por uns instantes ela e Lucila se olharam. Neste momento Lucila achava entender tudo o que se passava na cabeça dela. Ela também havia sido traída. Marcelo era seu namorado. Diante disso, Lucila sorriu para Manú. Ela retribuiu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário