sexta-feira, 17 de abril de 2009

CAPÍTULO 27

Apesar da praia e do sol, ali não era seu lugar, sua terra. A praia era outra, o clima não era o mesmo e as pessoas eram bem diferentes. Apesar de o inglês ser a língua oficial, ela ouvia vários idiomas diferentes, como o espanhol e até o português.

Sentada em um banco, saboreava um tradicional hot dog enquanto apreciava as gaivotas que traçavam rasantes no mar. Sua vida agora era bem mais calma e muito mais luxuosa do que a de antes. Era bem mais do que ela precisava, agora era suntuosa demais: carros importados, uma mansão em frente à praia, tinham jóias, obras de arte. Não queria isso tudo. Mas se sentia feliz por ter tido coragem de seguir seu coração. E era isso que importava.

Bruna acariciava sua barriga como se já acariciasse seu filho. Tinha orgulho dele, mas temia pela infância que ele teria, tão diferente da sua. Em outro país, longe da família. Ela pensava se um dia poderia levar seu filho para conhecer uma praia bem mais bonita do que a de Miami: Ipanema. Praia onde passou sua vida inteira, comendo biscoito Globo e tomando Mate Leão de galão.

O vento começou a soprar mais forte, então resolveu voltar pra casa. Logo Marcelo iria pra casa e os dois haviam combinado um cinema. Pensando nisso, Bruna esqueceu-se do medo sobre o futuro. Marcelo era tudo que ela queria. E apesar da situação diferente em que se encontravam, Bruna acreditava que ele havia se arrependido e que com o rompimento com seu pai, Waldemar Zacaro, ele não teria recaídas.

Bruna não questionava as atitudes de Marcelo e a contradição que existia entre o arrependimento e o luxo. Estava cega de amor e só via coisas boas a sua frente.

Ela entrou no seu Lexus onde o motorista a esperava na Ocean Drive. Seguiram para um dos gigantescos condomínios na Collins Avenue. Era uma mansão de cinema. Colunas gregas na entrada, jardim, piscina. Com 11 quartos, Bruna não dava conta de percorrer toda a casa. Para cuidar deste palácio, contava com um exército de empregados, todos latinos, que na realidade eram sua maior companhia. Cada um tinha uma história mais fantástica que a outra. Tinha mais afinidade com Consuelo, uma cubana que fez a travessia dentro de um galão de gasolina e agora tentava a vida em Miami.

Bruna e Consuelo estavam se tornando muito próximas. Consuelo vibrava com a gravidez da patroa, talvez por lembra - lá de seus dois filhos, que deixou pra trás. As duas tinham a mesma idade, apesar de terem tido vidas muito diferentes. Mas também tinham em comum o fato de terem abandonado uma vida para começar outra.

Marcelo ainda não tinha chegado. Ele agora cuidava de seus novos negócios em Miami. Junto com um sócio mexicano, investia no mercado de turismo. Bruna entendia que ele precisava se ocupar. Um homem que passou anos comandando o conselho de uma grande empresa não podia simplesmente calçar chinelos e se aposentar.

Enquanto coordenava com Consuelo o cardápio da semana, ele chegou. Como sempre, muito carinhoso com Bruna. Pediu uns minutos para se arrumar e logo partiriam para o cinema. Diante da cena, Consuelo comentou no seu melhor portunhol:
- Dona Bruna, a senhora tirou a sorte grande, viu? Homem como Dr. Marcelo está pra nascer. Se a senhora conhecesse meu falecido. Ahh! Aquele traste! De bom mesmo só me deu o Juan e Carmem.

Bruna sorriu. Acreditava que Consuelo estava certa. Era muito feliz. E se o preço para essa felicidade fosse abrir mão do passado, tudo bem.

Marcelo voltou de roupa trocada. Os dois se beijaram novamente e saíram no Cayenne, o carro preferido de Marcelo.

Enquanto estavam fora bateu na porta um casal procurando por Marcelo. Ela era bem mais velha do que ele, o que deixava dúvidas se realmente eram um casal. Consuelo informou que os dois não estavam e seguindo orientações do patrão, não os deixou entrar. O casal deixou um bilhete com Consuelo pedindo para que ela entregasse para Marcelo assim que ele voltasse.

Apesar de ser uma empregada exemplar, a curiosidade de Consuelo era seu ponto fraco. Não resistiu e leu o bilhete, com dificuldade em entender o português só compreendeu que se tratava de algo importante. O bilhete escrito pelo homem dizia:

Marcelo,
Precisamos conversar. O círculo está fechando. Estamos no Royal Palm Hotel. Procure-nos com urgência.
Abraços,
Antônio e Joana

Um comentário:

  1. Puxa vida, tá bom demais ! Mas sei que não sou só eu que tá curtindo, sei de gente que fica esperando sair o próximo capítulo. Beijo

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