Ana acordou e não conseguia mais dormir. Na verdade mal dormiu durante a noite inteira excitada com a idéia que dentro de algumas horas seria uma mulher casada. Desistiu de rolar na cama e decidiu se levantar. Sua mãe também já estava de pé, na cozinha. Quando viu a filha, exclamou:
- Filha! Puxa você já levantou? Eu ia levar seu café na cama!
- Ai mãe, tô com olheiras? Eu mal consegui dormir.
- Não minha filha, você está linda! Ai meu Deus nem acredito! Minha pequenininha vai casar! Meu Deus! Você quer comer alguma coisa?
Ana não tinha apetite, mas não queria ficar fraca. Então se forçou a tomar café. Era muito cedo ainda. Faltavam duas horas para que ela e sua madrinha Lucila fossem para o hotel onde as duas iriam se arrumar. Era o conhecido dia da noiva. Massagens, piscina, hidromassagem, cabelo, maquiagem, tudo! E a noiva e sua madrinha estariam prontas para o grande momento.
Inicialmente Ana havia fechado uma pacote de dia da noiva para ela, Lucila e Bruna. Assim como foi no casamento de Bruna, as três passariam um dia juntas. Mas desta vez Bruna não estava. Ana não sabia nem se ela se lembraria que hoje era o dia de seu casamento. Um misto de tristeza e raiva fazia Ana ficar ainda mais agitada enquanto pensava nisso.
Não demorou muito e Lucila telefonou pra saber como estava a noiva. Combinaram a ida pro hotel e mais tarde foram pra lá.
O hotel era na beira do mar. Muitos gringos hospedados curtindo as belezas naturais e as mulatas cariocas. Lucila e Ana se divertiam em ver os branquelos à beira da piscina bêbados de caipirinha arriscando uns passos do que na cabeça deles, seria samba.
Em frente ao mar azul, a piscina e um bar. Elas sabiam que não poderiam beber. Se começassem àquela hora, a noiva certamente dormiria no altar. Ficaram com seus sucos apreciando a paisagem até dar a hora da massagem. O pai de Ana viria a buscar com o motorista às 19h. E Rafa buscaria Lucila um pouco antes.
Depois da massagem e uma rápida sauna, as duas subiram para o quarto. Era hora de tomar banho e começar a fazer maquiagem e cabelo. As duas riam por qualquer coisa, mas também com a mesma facilidade se irritavam. A cabeleireira e a maquiadora já estavam acostumadas com esse tipo de comportamento, era nervosismo natural de noiva e de sua melhor amiga.
Lucila volte e meia pensava se um dia ela vestiria um vestido como aquele pendurado no cabide. Um vestido de renda branco. Já estivera duas vezes na posição de madrinha e nas duas ocasiões sonhava com o seu casamento. E nas duas vezes sonhava em casar-se com Rafa.
Quando as duas já estavam maquiadas sentiram que precisavam de uma ajuda extra para se aclamarem. Então, o truque aprendido no dia de noiva de Bruna foi mais uma vez aplicado. Lucila ligou pra recepção e disse saber que quando os noivos chegassem da festa, teriam direito a uma garrafa de espumante. O recepcionista concordou e Lucila explicou que a noiva gostaria de receber esta garrafa agora, antes do casamento. Não foi difícil convencer o recepcionista, que ouvia os gritos da noiva que simulava uma crise nervosa. Lucila desligou o telefone e as duas rolaram de rir, se jogando na cama, pra desespero da cabelereira que temia que seus grampos se soltassem. No meio da gargalhada eufórica das amigas, Ana se virou pra Lucila e disse:
- Queria que Bruna estivesse aqui.
Lucila concordou com a cabeça. Apesar de tudo que ela fez, ainda fazia falta. Era Bruna que traria as duas para seus eixos, usando sua calma e tranqüilidade. Seria ela que ajudaria a vestir Ana, usando sua habilidade para roupas. As duas ficaram ainda um tempo deitadas olhando pro teto, até que a campainha tocou. Lucila correu para a porta e recebeu o balde de gelo com o espumante. Pegou duas taças e demorou mais do que o esperado para abrir a garrafa. Logo que conseguiu, serviu as duas e sugeriu um brinde:
- Á noiva mais linda de todos os tempos!
Ana sorriu e quase borrou a maquiagem. Uma emoção tomou conta das duas. Lucila pra desviar o foco, sentou-se ao lado de Ana e disse séria:
- Amiga, tem uma coisa que eu preciso lhe contar.
Ana preocupada fez sinal que ela continuasse. E Lucila prendendo o riso, falou:
- Não existe cegonha! – e riu alto como.
Ana gargalhou também e mais uma vez as duas tiveram um ataque de risos. Enquanto isso, a maquiadora fazia cara feia pensando nos retoques que teria que fazer naquelas duas malucas.
O tempo já passava mais rápido e o nervosismo já havia sido suavizado por algumas taças de espumante. Lucila estava pronta assistindo Ana se vestir. Ela estava linda! Quando fecharam o último botão de seu vestido, Ana parou em frente ao espelho. Parecia não acreditar no que estava vendo. Lucila correu e lhe entregou seu buquê, depois falou:
- Sra. Ana. A senhora está linda! Vamos? O fotógrafo já está lá embaixo.
As duas desceram para sessão de fotos de Ana. Fizeram fotos na escada do hotel, no jardim, na piscina. Junto com Ana haviam outras duas noivas que também posavam pelos cantos do hotel. Quando as noivas se cruzavam faziam uma espécie de cumprimento de noivas. Era engraçado ver as noivas entre os hóspedes, as pessoas as olhavam como se fossem artistas de cinema. E eram! Aliás, eram mais do que isso: eram protagonistas de seu próprio filme.
Já estava quase na hora de Rafa buscar Lucila. Então ela se lembrou de ficar com o celular na mão para quando ele ligasse. Enquanto isso acompanhava Bruna nas suas fotos. A sessão acabou e como Rafa ainda não tinha ligado, Lucila resolveu ligar. Ele custou a atender e foi logo falando em um tom baixo, quase sussurando:
- Oi Lucila, meu amor. Tive um problema. Acho melhor você ir direto pro casamento e que te encontro lá. Depois e te explico.
Lucila ficou sem ação. Duvidou primeiro da veracidade deste “problema”, mas depois achou que não era mentira e ficou preocupada. Contou a Ana que sugeriu então que Lucila fosse no mesmo carro que ela e seu pai. Lucila não aceitou, alegando que iam ficar apertados e que esse era um momento deles. Pediu na recepção que chamassem um táxi e foi sozinha para a igreja.
Lucila não estava feliz de ter que chegar sozinha ao casamento, mesmo que já tivesse feito isso inúmeras vezes em sua vida. Estava chateada e preocupada com Rafa. Logo que chegou, o procurou e não o viu. Cumprimentou a mãe de Ana e outros da família. Viu Juca sentando na ponta de um dos bancos, olhando pra cima como se nada visse. Percorreu a igreja e chegou até a sacristia onde os outros padrinhos esperavam a hora da formação. Rafa não havia chegado. Lucila estava com uma bolsa muito pequena onde nem seu celular cabia, então o carregava na mão para o caso de Rafa ligar. Avistou André e foi até ele. André logo perguntou:
- Cadê o Rafa?
Lucila não sabia se contava a verdade, mas não conseguiu inventar nada. André suspirou. Estava puto com o que tinha ouvido. Sacudiu a cabeça e virou de costas andando em direção aos outros padrinhos. Lucila conseguiu ouvi-lo praguejar:
- Se esse cara não aparecer, eu mato ele.
A reação de André a deixou ainda mais nervosa. Não tinha relógio. Perguntou às horas e faltavam dez minutos para a hora que Ana chegaria. Ligou pra Rafa. Ninguém antendeu.
Ficou andando de um lado para outro. Quando faltavam apenas três minutos, ela foi em direção a André que já a olhava com pior cara possível. Lucila sem jeito, falou:
- Temos um plano B?
André riu de nervoso. Olhou em volta e chamou a cerimonialista. A apresentou pra Lucila e disse:
- Hoje é meu casamento. Não vou me preocupar, ok? Resolvam aí vocês duas o que vão fazer já que um dos padrinhos fez o favor de ferrar com a nossa cerimônia.
Lucila teve vontade de chorar. Tentava de novo o telefone de Rafa e nada. Tocava, tocava e ele não atendia. A cerimonialista tentou a acalmar:
- Você é a melhor amiga de Ana, não é?
Lucila fez que sim. E ela continuou:
- Tenho certeza que Ana não iria me perdoar se você não estivesse no altar. Então vamos fazer o seguinte. – apontou para duas crianças que eram ajeitadas pelos pais – Está vendo o casal de dama e pajem? Você vai entrar com eles, ok? Não tem problema, não vai ficar feio ou esquisito. Vou avisar aos pais.
Lucila não acreditava que isso estivesse acontecendo. Ana odiaria a ver entrar com as crianças. Mas também sabia que a cerimonialista estava certa: Ana odiaria ainda mais não ver a amiga no altar.
Todos os padrinhos começaram a se formar junto aos seus pares seguindo a ordem da cerimonialista que dava orientações sobre qual lado do altar cada casal iria. Depois de orientar os adultos, chegou a vez das crianças. Lucila estava de mãos dadas com as crianças e ouvia as instruções em tom infantil. Pelo menos já tinha garantido um pirulito caso atravessasse a igreja bem bonitinha. Minutos antes, entregou seu celular para a cerimonialista e explicou que por favor não desligasse, pois seu namorado poderia ligar.
Padrinhos formados, Lucila com as crianças e a música começou a tocar. Ela seria a última a entrar, já que agora era uma daminha. Os casais começaram a entrar e Lucila já avistava o carro de Ana na entrada da igreja. Seu coração batia como uma bateria de escola de samba. Por uns instantes pensou que seria melhor se desmaiasse e não passasse por aquele mico. O penúltimo casal entrou e daminha resolveu se jogar no chão. Desesperada Lucila pediu ajuda. Não tinha o menor jeito com crianças. A mãe apareceu e fez uma chantagem qualquer com a menina. Deu certo. A criança parecia de novo um anjo. Lucila aguardava o sinal para entrar quando sentiu uma mão em sua cintura. Era Rafa:
- Me atrasei?
Pegando Lucila pela mão, os dois caminharam pelo tapete vermelho. Só na metade do percurso Lucila, orientada por um dos fotógrafos, conseguiu sorrir. Ela não sabia o quanto se arrependeria de não ter relaxado. Sua imagem no vídeo e nas fotos não seria das melhores.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
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Ai socooooorrrooooo!!!! Meu coração quase foi a boca e voltou nesse capítulo! Meu Deus, o que terá acontecido com Rafa??????? Eu matava ele!
ResponderExcluirBeijo!
Gostei...boa ideia para o casamento do Fabinho....arruma uma desculpa qualquer, e eu fico de pajem do casal....AHAHAHAHAHAHA
ResponderExcluirBEIJO TE AMO TINO