- Pode beijar a noiva.
Os noivos se beijaram. A cerimônia tinha sido emocionante. O nervosismo de André ao pé do altar, a emoção de Ana. As famílias não tiravam o sorriso no rosto, exceto quando as lágrimas de emoção não permitiam sorrir.
Apenas Lucila não havia se emocionado. Na verdade não ouviu absolutamente nada do que o padre havia dito. A tensão ainda não havia ido embora e ela não conseguia parar de pensar no que poderia ter acontecido de tão grave para que Rafa quase a transformasse em uma daminha. A raiva e a desconfiança se alternavam com o medo de estar sendo injusta. Agora finalmente a cerimônia havia acabado e ela saberia o que aconteceu.
Os cumprimentos foram demorados, na opinião de Lucila, é claro. E quando os padrinhos começaram a sair, Lucila quase corria pela igreja. Rafa tentava controlar seu ritmo, mas era quase impossível. Enfim, chegaram o lado de fora da igreja e Lucila continuou a correr, puxando Rafa até um canto. Quando ficaram a sós, ela perguntou incisiva:
- Então? O que aconteceu de tão importante?
Rafa, pegou sua mão com calma e sorrindo respondeu:
- Desculpa, meu amor. Realmente não queria te deixar tão nervosa. Mas depois te explico com calma, tá certo? – Com calma foi andando em direção ao estacionamento. Mas foi surpreendido por um grito histérico da namorada:
- Depois coisa nenhuma!!! Ou você me fala agora o que aconteceu ou nosso namoro acaba aqui e agora!
Rafa ficou assustando. Começou a suar. Sabia que não podia contar a verdade. Mas também tinha se prometido não mentir mais para Lucila. Se contasse o que houve, ela provavelmente terminaria com ele. Se não contasse também. Ele pensava rápido. Estava perturbado, não queria voltar a enganar a mulher da sua vida, mas Deus estava vendo que ele não tinha saída e seria só desta vez. Então respirou fundo, enxugou o suor da testa e respondeu:
- Eu sei que você vai ficar chateada com o que houve, mas prometi que não ia mais mentir pra você. Tive um problema com um processo e tive que ir ao escritório. Eu sei que tinha que prestar atenção no relógio, me desculpe. Mas acabei me envolvendo tanto que perdi a hora. Quando você me ligou ainda não tinha saído de lá e nem tinha pego meu fraque. Sei que estou errado, era importante pra você. Me perdoa, meu amor. Por favor, me perdoa.
Lucila ficou parada tentando analisar a expressão do namorado. Não sabia se acreditava naquela história, apesar de fazer sentido. Ela sabia que era comum que Rafa fosse chamado no escritório aos finais de semana. E sabia que ele esquecia da vida quando estava envolvido em seu trabalho. Ainda ficou um tempo avaliando a cara de Rafa, o que era em vão pois ela nunca soube identificar quando Rafa mentia ou não. Pensou em Ana, na festa de casamento. Pensou nela. Olhou pra Rafa e sentiu um arrepio. Não podia mais viver sem ele. E talvez ele também não pudesse mais viver sem ela. Enquanto divagava, Rafa se aproximou e disse quase chorando:
- Eu estraguei tudo de novo, não foi? Você não me merece, Lú. Você é mulher mais espetacular que eu conheço, não sei mais como ficar sem você. Me desculpa. Prometo não me distrair de novo e perder a hora de um compromisso nosso.
Ele a puxou e a abraçou. Um abraço forte, verdadeiro. Lucila sentia verdade naquele gesto. Olhou nos olhos dele e disse:
- Se você promete.
Rafa sorriu aliviado e lhe deu um beijo apaixonado. Então partiram para a festa.
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Em Miami Consuelo, com ajuda de Ramirez, conseguiu entrar no quarto para visitar Bruna. Ela estava acordada. Absurdamente abatida, olhava para o teto. Um olhar triste e sem vida. Suas mãos seguravam sua barriga, agora oca. Consuelo achou ter visto um lágrima escorrendo. Era um cena angustiante. Ela bateu na porta e entrou dizendo:
- Com licença, Dona Bruna.
Bruna a olhou sem nenhuma expressão. Era como se ninguém tivesse entrado naquele quarto branco e frio. Consuelo se aproximou. Coração apertado. Segurou a mão da patroa e disse:
- Como a senhora está?
Bruna sacudiu os ombros. Voltou a olhar para as luzes no teto. Ficou olhando por alguns minutos. Consuelo não sabia o que dizer. De repente Bruna se virou bruscamente e olhou para Consuelo. Parecia ter acordado. Seus olhos eram quase de raiva e sua expressão assustou a empregada. Bruna perguntou:
- Cadê o Marcelo? Por que ele não veio me ver?
Consuelo engoliu o ar. Pobre coitada. Havia perdido o filho e o marido tinha sumido no mundo, sem nem se preocupar com ela. Tomando coragem, falou:
- Dona Bruna, a senhora precisa ficar calma. Tem que ficar boa logo.
Bruna gritou:
- Consuelo! Eu perguntei onde está meu marido? Eu perdi meu filho! Vou ser presa, sabia? Talvez seja deportada como uma delinqüente qualquer. E o Marcelo? Onde está o Marcelo?
O desespero tomou conta de Bruna que começou a soluçar. Um choro compulsivo. Consuelo tentou a acalmar e depois contou que havia ido até a mansão buscar suas coisas e que Marcelo não estava. Com cuidado disse que ele tinha levado algumas coisas e tentou amenizar:
- Ele deve estar preocupado com a senhora, mas deve ter seus motivos para não ter aparecido, Dona Bruna.
Bruna parou de chorar.
- Ele me deixou.
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Todos os padrinhos reunidos para a foto com os noivos. Lucila tentava disfarçar, mas ainda não estava totalmente recuperada do susto. Ana, apesar de ser só alegria, em um momento notou a tensão da amiga. Ana era assim. Nada escapava dela, era intuitiva e seu palpites sempre eram certeiros. Logo que a sessão de fotos terminou, pediu um foto com sua madrinha especial. As duas sorriram. Flash. Ana se virou para Lucila:
- O que Rafa aprontou?
Lucila primeiro se fez de desentendida, mas sabia que não convenceria Ana. Achou melhor contar a verdade, ou pelo menos parte dela:
- Ah, tivemos uma discussão, mas foi besteira minha. Está tudo bem agora.
Ana não acreditou, mas se permitiu fingir que acreditava. Hoje era seu dia. Nada poderia estragar isso.
A festa estava divina. DJ excelente, decoração de primeira. Animação na pista. Com alguma taças de prosseco até Lucila tinha esquecido o pequeno mal entendido. Rafa dançava com ela, buscava bebidas, dava-lhe toda atenção do mundo. De vez em quando roubava-lhe um beijo, sempre acompanhado da frase: - Você é a mulher mais linda da festa!
Os dois dançaram até a festa acabar. Quando só os noivos estavam no salão, já com as luzes acessas, eles decidiram ir embora. Foram pra casa rindo, relembrando os bons momentos da festa. Foram para o apartamento de Rafa. Mal entraram e Rafa foi logo tirando o vestido de Lucila. Ela pediu um tempo, precisava i ao banheiro e dar um fim a calcinha bizarra de cintura alta que usava pra não marcar no vestido.
Lucila estava meio tonta, então se apoiou na pia. Derrubou alguma coisa no chão. Procurou e viu que era um anel. Um anel de mulher com uma pedra azul. Atordoada pelo álcool, não conseguia raciocinar direito. Experimentou o anel. Estava apertado no seu dedo e não queria sair. Tentou com mais força, forçou, forçou e nada. Rafa chamava por ela:
- Meu amor, vem logo!
Lucila tentou passar sabonete, hidratante e nada. O anel não saía. Rafa bateu na porta:
- Lú? Está tudo bem? O que houve?
Lucila abriu a porta puta da vida e falou:
- Esta merda de anel, que como você pode ver, não é meu, prendeu no meu dedo. A vaca dona deste anel deve ser anã, não é?
- Anel? Não sei que anel é esse. Mas... seu dedo está ficando preto. Precisamos tirar isso daí. Vou pegar manteiga.
Lucila se sentou no vaso e começou a chorar. Rafa chegou com manteiga e começou a passar no dedo. De tanta força que vez que o anel pulou e caiu no ralo do boxe. Já tinha se passado mais de uma hora desde que chegaram. Lucila estava exausta até para discutir. Se jogou na cama e disse:
- Só quero dormir! Mais nada!
Rafa entendeu o recado.
terça-feira, 12 de maio de 2009
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Porque será que tem gente que passa horas se arrumando pra uma festa, pagando uma fortuna pelo vestido, cabelo, maquiagem, pra tomar todos os proseccos do mundo, passar mal e apagar no fim da festa? Não entendo... risos
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