Já eram quase duas horas da manhã, quando Bruna ouviu um barulho na porta. Correu até o pé da escada e viu que era Marcelo entrando trôpego. Bruna não acreditou. Primeiro voltou pro quarto e pensou em fingir que dormia. Mas o sangue quente não a deixou engolir as horas de preocupação, de ligações não antendidas, que Marcelo tinha a feito passar.
Bruna desceu a escada determinana, marchando. Logo que Marcelo olhou pra cima, ela falou:
- Não acredito que você não podia me dar ao menos um telefonema.
Marcelo sacodiu a cabeça como alguém que não queria ouvir toda aquela ladainha. Estava bêbado, o que dificultava sua fala, mas mesmo assim puxou ar dos pulmões e falou. Ou melhor gritou:
- Pode parar! Bruna! Bruna! Bruna! Pára! Eu durmo no sofá, é isso? Sem bronca! Não tenho saco pra isso não! Tá ouvindo? Saco... exxxposa. É isso! Dá nisso!
Apesar de enrolar a língua, sua voz era enfática, calaria qualquer um. Principalmente Bruna. Ela olhava e não entendia a cena, a voz, a atitude não era do homem da sua vida, do seu grande amor. Então um enjôo tomou conta de Bruna. Sua vista começou a escurecer. Se segurou com força no corrimão, no alto da escada. Suas mãos estavam frias e suadas. Lá embaixo só enxergava o vulto de Marcelo. Não conseguiu falar nada. Apenas desmaiou.
Todos os vizinhos olhavam das suas varandas o tumulto da casa 9. Carros de polícia, ambulância. Isso sem falar na fuga de todos os empregados pela janela dos fundos quando descobriram que o carro da polícia estava vindo pra casa 9. Todos eles eram ilegais e morriam de medo de serem deportados. Consuelo, apesar do pavor em ser deportada, não conseguiu fugir e deixar sua querida patroa sozinha ali no chão. Marcelo estava bêbado demais pra fazer qualquer coisa, por isso, sem pensar, ligou para ambulância.
Quando os paramédicos entraram, Bruna ainda estava desacordada. Marcelo sentando no último degrau da escada, cabeça baixa apoiada pelos braços. Estava tonto e agora sentia vontade de vomitar. Olhava para os paramédicos e via que eles perguntavam alguma coisa. Não conseguia entender. Consuelo entrou e respondeu todas as perguntas em seu inglês confuso.
A polícia entrou e Consuelo respirou fundo. Olhou para Marcelo que agora tentava se levantar. Uma dupla de policiais se apresentou a Marcelo que os olhava com cara de quem nada entendia. Um dos dois olhou para Consuelo e perguntou:
- Ele é o dono da casa?
Consuelo respondeu que sim e informou que ele acabava de chegar de uma festa e que quando chegou encontrou a esposa no chão e logo ligou chamando ajuda.
O policial mais alto fazia cara de quem não acreditava na história e olhava fixamente para aquele homem bêbado. Ele o conhecia de algum lugar. Seu parceiro, mais atencioso ouvia atentamente a história de Consuelo. Enquanto isso, Bruna era erguida em uma maca. Consuelo correu e perguntou:
- Pra onde vocês vão a levar? Seu Marcelo, pelo amor de Deus. O senhor precisa ir com ela. Dona Bruna não pode ir sozinha.
O policial bonzinho permitiu que Consuelo acompanhasse Bruna na ambulância. Sabia que o marido não tinha condições de ajudar em nada. Insistiu em ver os documentos de Marcelo que só apontou para o alto da escada. O policial bonzinho riu e achou melhor deixar pra lá. O outro não gostou. Pediu um minuto e subiu as escadas. Não achou a carteira de Marcelo, apenas a de Bruna.
- Brasileira? E pelo jeito ilegal.
Desceu com o documento na mão. Procurou em toda a sala os documentos de Marcelo, e nada. Queria deter Marcelo até que ele apresentasse alguma identificação. Mas seu parceiro recebeu uma emergência pelo rádio e saíram da casa ameaçando voltar.
O porre de Marcelo era maior do que a preocupação no retorno dos policiais. Marcelo se jogou no sofá e dormiu.
A ambulância voava na Ocean Drive. Consuelo segurava a mão da patroa e rezava. Rezava por ela, por Bruna e até por Marcelo. Tinha medo de ser deportada. Mas tinha ainda mais medo do sangue que manchava a camisola de Bruna.
Antes de chegarem ao hospital, Bruna acordou. Sentia dores e olhou com desespero para Consuelo que tentou a acalmar:
- Calma! Calma Dona Bruna. Está tudo bem, os doutores já vão cuidar da senhora, viu? Tá cheio de médico bacana aqui.
Bruna tentou falar, mas sentia uma pontada em sua barriga. Passava a mão sobre ela como se pudesse se certificar que estava tudo bem com o seu bebê. Mas não podia. Olhou em volta e não viu Marcelo. Então, veio a cabeça a última cena de que se lembrava: Marcelo bêbado e gritando com ela.
Chegaram ao hospital e Bruna foi levada. Consuelo respirou fundo. Sabia que não podia entrar. Enquanto ensaiava sua fuga, viu que era observada por um dos enfermeiros. Disfarçou mexendo na bolsa. O rapaz se aproximou e disse em bom castelhano:
- Olá! A senhora que é a acompanhante da gestante que foi para emergência?
Consuelo não sabia o que responder. O rapaz com sua prancheta na mão, prosseguiu:
- O hospital exige que se preencha uma ficha com os dados do paciente e acompanhante. A senhora trabalha pra ela?
Consuelo respondeu que sim. Ainda muito assustada prestava atenção no rapaz:
- Sei. Isso é exigido se a pessoa tiver um acompanhante. Como a senhora veio junto na ambulância não tenho como dizer na ficha dela que ela não tem acompanhante. A senhora me entende?
Mais um vez Consuelo respondeu que sim, sacudindo a cabeça. O rapaz colocou a mão no seu ombro e disse sorrindo:
- Mas os paramédicos são meus amigos. A gente dá um jeitinho. Só tem uma condição.
Consuelo se agitou e respondeu:
- Meu filho, eu tÔ aqui pra ganhar a vida. Você acha que se eu tivesse algum dinheiro estaria aqui?
O rapaz riu e a interrompeu:
- A condição não é essa, Dona Consuelo.
Consuelo se perguntou se havia tido seu nome àquele rapaz.
- A condição é que a senhora me dê um abraço. Não está me reconhecendo? Sou eu Ramirez, filho da sua prima Maria.
Consuelo não acreditou. Era muita sorte encontrar um parente querido, ainda mais numa situação como esta. Os dois se abraçaram e Ramirez conseguiu omitir a presença da prima nos relatórios do hospital. Consuelo permaneceu por perto e sabia noticiais da patroa pelo primo.
Umas duas horas depois, Ramirez apareceu com uma cara não muito boa. Consuelo sabia o que isso significava e logo perguntou:
- É o bebê? Ela perdeu o bebê?
Ramirez com um tom fúnebre respondeu que sim e disse:
- Sinto muito. Mas não é só isso prima. A sua patroa e o marido são procurados pela polícia do Brasil. A senhora sabia? Ela vai ser presa, assim que tiver alta. Acho melhor a senhora não ficar por perto. Sem Green Card e a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, né?
- Meu Deus. Pobre Dona Bruna. Ela tava tão feliz com seu bebê. Eu achava que tinha alguma coisa errada, mas não achava que era tão grave. Ramirez, vou até a casa tentar buscar minhas coisas. Já estou com seu telefone. Eu te ligo pra saber notícia da moça, tudo bem?
- A senhora vai pra onde? Tem onde ficar? Pode ficar lá em casa, prima. Vou te dar o endereço e avisar a minha esposa.
Consuelo foi até a mansão e levou um susto. A casa estava revirada e nenhum sinal de Marcelo. Ela subiu até o quarto do casal e o closet de Marcelo estava praticamente vazio, assim como não haviam quase papéis sobre a escrivaninha. Consuelo pegou suas coisas e saiu. Sabia que não veria mais o Dr. Marcelo.
quinta-feira, 7 de maio de 2009
CAPÍTULO 32
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Não me surpreende !!!! risos.... Vindo de quem veio....
ResponderExcluirExcelente capítulo, amei !
Adorei esse capítulo... Tá muito bom ! Pra falar a verdade, nem tenho pena da Bruna. Sempre achei que ela era bobona ...
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