terça-feira, 26 de maio de 2009

CAPÍTULO 37

Apesar da ansiedade em encontrar Marcelo Zacaro, Juca estava preocupado. Não entendia o que estava acontecendo consigo, mas sentia algo parecido com ciúmes e talvez por isso não quisesse que Marcelo aparecesse.

Juca e o agente da PF estavam sentados no escritório da Polícia Especial de Miami. O agente fazia ligações, acessava o computador, falava num inglês precário pelo rádio. Juca apenas observava. Não tinha muito o que fazer, a não ser esperar. Sempre que tinha autorização ia até a cela de Bruna. Eles conversavam, normalmente sobre o processo. Mas nunca tinham muito tempo. O permitido era no máximo vinte minutos.

Enquanto observava toda a agitação do lugar, notou um entusiasmo exacerbado do agente brasileiro, que imediatamente correu até Juca e disse:
- Pegamos o filho da puta!

Juca não comemorou. Estava com todos aqueles sentimentos confusos. Apenas sorriu e bateu nas costas do policial, o cumprimentado pela vitória. Logo depois perguntou:
- Posso contar à Bruna?

O agente quase se ofendeu:
- Não! Aliás, ninguém fala com a garota até segunda ordem!

O agente saiu e passou a orientação para os demais. Bruna ficaria um tempo sem receber visitas. A sua idéia era confrontá-los em testemunho, pois ao contrário de Juca, o agente desconfiava da inocência de Bruna.

Horas depois, Juca ainda esperava o retorno da equipe. Mas já tinha sido avisado que também não teria acesso à Marcelo. Então, resolveu sair da delegacia. Foi caminhando até o hotel, pediu indicação de um barbeiro e cortou os cabelos que estavam em total descuido. Fez a barba, comprou um casaco novo e de banho tomado, o vestiu. De novo parecia o antigo Juca: alinhado, charmoso, um gentleman.

Ao invés de voltar para delegacia, apenas ligou para saber se poderia ser útil. Não seria. Apenas o advogado de Bruna poderia participar das averiguações. Diante disso, saiu novamente do hotel afim de procurar um bom restaurante para comer. Assim que saiu do hotel foi interceptado por Antônio Carlos, seu antigo funcionário que junto com Dra. Joana se tornaram cúmplices de Marcelo e Waldemar Zacaro no esquema dos hospitais. Juca se assustou quando viu Antônio Carlos:
- Juca? Me desculpe, não queria te assustar.

- Mas assustou. O que você está fazendo aqui seu filho da mãe! ? – alterado, ficou vermelho e parecia querer agredir Antônio Carlos. Este, deu passou para trás e disse nitidamente apavorado:
- Desculpa! Me desculpe! Eu vim aqui para falar com você. Preciso da sua ajuda!

Juca riu debochado.
- Da minha ajuda? E porque você acha que eu iria ajudá-lo? Você é um desgraçado e por causa da sua ambição, acabou com a minha vida!

- Eu sei! Mas por favor, me escute! Eu vou me entregar! Eu conto tudo o que precisarem! Mas preciso de proteção.
- Proteção?

Antônio Carlos claramente tinha entrado no esquema de gaiato. Era óbvia a sua não vocação para este tipo de golpe. Era medroso, covarde e agora se parecia com uma criança assuntada. Gaguejando e olhando para os lados como se precisasse se certificar de que não era seguido, falou:
- Marcelo contratou um homem para nos matar. Ele matou Joana! Ela está morta. Morta!

Juca entendendo a gravidade da situação, o fez entrar no hotel. Subiram para o quarto. Juca lhe deu copo d’água e pediu para que ele se acalmasse. Depois falou:
- Agora me conta tudo desde o começo.

Antônio Carlos contou que quando o esquema fora descoberto e Waldemar preso, ele e Joana não conseguiam mais contato com Marcelo. Depois de um tempo foragidos, conseguiram localizar Marcelo em Miami. Ele também contou do acordo que os três fizeram e sobre o pedido de Marcelo para que eles saíssem de Miami e enviassem seus novos endereços para uma caixa postal. Dias depois do envio do endereço, Joana e Antônio Carlos tiveram a impressão de estarem sendo seguidos. Estavam certos. Um dia pela manhã, diferente de sua rotina habitual, Antonio Carlos acordou antes de Joana e resolveu ir até a padaria. Foi a sua sorte, pois quando voltou Joana já estava morta e seu assassino o esperava. Mas Antonio conseguiu fugir.

Juca ouvia tudo apavorado. Pensava em Bruna e que talvez ele tivesse sido agressivo com ela. Mas conseguiu retomar seu foco para o problema principal: o que fazer com Antônio Carlos? Tentou ligar para o agente da PF, mas não conseguiu falar. Ele deveria estar na apreensão de Marcelo. Juca então, decidiu que Antônio passaria a noite no hotel com ele. No dia seguinte ele mesmo o levaria para a delegacia.

Antônio estava tão cansado que depois do banho e de vestir as roupas emprestadas por Juca, desmaiou na cama. Arrependimento era mais do que uma palavra para descrever aquele homem que agora tinha medo da morte.

No dia seguinte, logo cedo, Juca contou ao agente o que havia acontecido. Foram para a delegacia. Antônio iria depor também. Mas desta vez, Juca não providenciaria nenhum advogado. Enquanto explicava isso ao agente, Marcelo entrou algemado e escoltado por dois policiais. Ele passou pelo corredor lateral da sala onde Juca estava. Cabeça erguida, andar imponente, nem parecia estar sendo preso.

Ele e Juca trocaram olhares e Marcelo ainda teve a empáfia de cumprimentá-lo com um balançar de cabeça. Juca se controlou para não voar em cima dele.

Logo depois, Juca voltou ao hotel a pedido do agente , que prometia ter respostas sobre a deportação dos três em poucos dias.

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