quarta-feira, 17 de junho de 2009

CAPÍTULO 46

Na volta para o Rio, os dois não conseguiam disfarçar. Lucila ria do nada, Cadu também. Estavam simplesmente felizes. Nenhum dos dois falou sobre o que aconteceria daqui pra frente e nem tinham vontade de falar. Parecia não ser preciso.

Bardot acompanhava o casal dissimulado, que acreditava que não estava dando nenhuma pista do que estava acontecendo. Mas era óbvio que aqueles dois tinham se divertido muito na noite anterior.

Bardot tinha dado o dia de folga para Lucila como recompensa pelo belo trabalho em Itaipava. Lucila chegou em casa e viu um casaco de Rafa sobre a mesa. Sentiu um arrepio. Sua ficha tinha caído. Ela que sempre sofreu com a infidelidade, tinha feito o que mais condenava em uma relação: a traição.

Precisava contar para Rafa. Precisava? Nestas horas só Ana poderia ajudar. Lucila ligou pra ela e contou tudo que havia acontecido. Não sabia responder quando Ana perguntou o que ela sentia por Cadu. Ana era contra Lucila contar a verdade. Se ela já estava certa de que o namoro não ia bem, bastava terminar e poupar Rafa daquela situação.

Lucila pegou o casaco de Rafa. O apertou contra o peito com culpa. Alguma coisa caiu de um dos bolsos. Era um fósforo. Um fósforo de Motel. Rafa não fumava.
Ela ficou parada olhando pro fósforo. Ao invés de raiva, sentiu alívio. Ligou pra Rafa e marcou de almoçarem juntos.

Lucila não demorou na conversa. Foi objetiva. Simplesmente disse que eles já haviam tentado o suficiente, mas não era pra dar certo e que ela não o amava mais. Ao contrário do que esperava, Rafa não tentou se defender ou fazer Lucila mudar de idéia. Ficou calado ouvindo. Sério, puto. No fim, Lucila entrou o casaco à Rafa e saiu.

Rafa pegou o casaco e achou o fósforo no bolso. Se lembrou da noite que tivera com Silvia há dois dias. - Ela era mesmo insistente. – pensou Rafa.



Juca estava nervoso. Hoje era o grande dia. O dia do julgamento de Marcelo, Bruna e Antônio Carlos. Ele iria dar seu depoimento e isso o deixava nervoso. Já tinha decido omitir a ida de Bruna a seu escritório, quando acompanhada por Lucila fingiu acreditar que ele era o ladrão da história.

Logo que chegou ao tribunal, encontrou Manú. Ela também parecia nervosa. Mas ao contrário do que pensava Juca, seu nervosismo nada tinha a ver com o julgamento. Estava nervosa por encontrar Juca, seu grande amor.

Os dois se cumprimentaram e trocaram meia dúzia de palavras. Juca se certificou que Manú realmente não iria mencionar sobre a ida d Bruna ao escritório. Ela repetiu que não diria nada, mesmo que nitidamente não concordasse com aquilo.

Enquanto esperavam, Marcelo passou escoltado por dois policiais. Ao ver Juca, parou e disse:
- Olá amigo! Saudades suas! Pena que não poderia matar essa saudade. Daqui a pouco estarei livre e não pretendo me demorar por aqui.

Juca quase voou em cima de Marcelo. Manú o segurou, pedindo calma. Marcelo entrou na sala. Juca tentava se acalmar. Manú falou:
- Eu ainda não entendendo com namorei esse merda! Esse filho da mãe me enganou direitinho. Não sei como!

- Ele é bom nisso! Conseguiu enganar Bruna também. É um dissimulado!


Manú se irritou. Ela não acreditava que Juca já estivesse amolecendo em relação à Bruna. Era realmente insustentável assistir Juca pouco a pouco arrumando justificativas para o comportamento de Bruna.

Depois de um tempo, um após o outro, foram chamados para depor. Felizmente não cruzaram novamente com Marcelo, nem com Bruna.

Todo o julgamento demorou mais de três horas. A espera era angustiante. Juca andava de um lado pro outro. Manú enrolava os cabelos, batia os pés no chão. Até que o advogado entrou na sala de espera. Juca se levantou imediatamente:
- E aí doutor?

Satisfeito o advogado falou:
- Vencemos! E Marcelo ainda será julgado por homicídio, conforme esperávamos.

Manú sorriu, correu para abraçar Juca, mas antes que o alcançasse ele perguntou:
- E Bruna? O que vai acontecer com ela, doutor?

Manú parou. Fechou a cara e esperou a resposta do advogado que disse:
- Ela foi declarada cúmplice por ter a posse dos documentos e não entregá-los à polícia. Mas cumprirá pena em liberdade, prestando serviços à comunidade.

Manú gritou:
- Em liberdade? Juca você acha isso certo?

Juca agora mais calmo disse:
- A justiça que decidiu, Manú.


Liberada pela polícia, Bruna não sabia pra onde ir. Não tinha ninguém que pudesse telefonar. Suas amigas, seus pais. Não tinha coragem depois de tudo que fizera. Andou pelos corredores até que encontrou Juca, Manu e seu advogado. Parou diante dos três, os cumprimentou com a cabeça. Virou-se pra Juca e disse:
- Mais uma vez obrigada, Juca.

Se virou e continuou andando em direção a saída. Juca correu atrás dela. Quando a alcançou perguntou:
- Bruna, pra onde você vai?
Bruna sacudiu a cabeça. Juca tirou umas chaves do bolso e entregou para Bruna que imediatamente falou:
- Não, Juca! Não! É sua casa! Não posso aceitar.

- Bruna, desde que você saiu de casa, eu nunca mais voltei pra lá. Não conseguiria ficar lá sem.... Bom, não quis voltar. A casa é sua também. Fique o tempo que precisar, depois acertamos tudo.


Bruna aceitou. Não queria, mas não tinha outra opção. Sem emprego, sem dinheiro e sem amigos, não saberia como se virar se não fosse esta ajuda.

Juca saiu do tribunal acompanhado de Manú, que furiosa, não dizia uma palavra. Juca a convidou para comer alguma coisa, mas ela negou. Virou-se pra Juca e objetiva como sempre disse:
- Eu vou embora. Tenho que voltar para meu novo emprego. Você sabe onde me achar, mas por favor só me procure quando conseguir tirar essa louca da sua cabeça. Eu ainda não consegui te esquecer, mas pelo menos, eu tento.

Saiu andando, deixando Juca mais uma vez impressionado com ela. Sem saber o que fazer, Juca ligou para Lucila.
- Oi Juca! Eu ia te ligar. E aí? Como foi o julgamento?

Juca contou as novidades. Lucila também contou sobre ela e Rafa. Apesar da confusão permanente na vida dos dois, eles se consideravam bons amigos e com freqüência se falavam. Juca na verdade gostaria de se abrir para Lucila. Contar tudo o que ainda sentia por Bruna, mas a vergonha sempre o impedia.

Lucila desligou o telefone e voltou para a sala de Bardot, sua chefe. As duas colocava em dia as pendências para as férias de Lucila. Depois do término com Rafa, Lucila achou que seria uma boa idéia tirar uns dias de folga. Ela e Marcos, seu amigo gay também do escritório, passariam uns dias em um resort na Praia do Forte, na Bahia.

Assim que acertaram as pendências, Lucila saiu da sala e deu de cara com Cadu. Logo depois da festa em Itaipava, Lucila o procurou para contar o término com Rafa. Quando ligou dizendo que queria falar sobre Rafa, Cadu foi extremamente grosseiro. Disse que estava ocupado e que depois a procuraria. Passaram uns dias e ele não ligou. Foi quando Marcos comentou que iria para a Bahia e convidou Lucila pra ir junto. Faltando um dia para a viagem, Lucila acreditava que nunca mais veria Cadu e que ele seria apenas mais um dos que não telefona no dia seguinte. Agora se deparava com ele na sua frente.
- Oi Lucila.
- Oi Cadu. Tudo bem?
- Tudo e você?
- Melhor impossível. Faltam seis horas pras minhas férias.
- Ah.. vai viajar.
- Vou pra Bahia com um amigo
- Ah... que bom.


Bardot da porta da sua sala observava os dois. Percebia sérias rusgas naquele relacionamento. Ela se sentia responsável por Lucila ter voltado para Rafa e ter sofrido ao terminar. Torcia por ela e Cadu. Ela tinha os visto juntos e na sua opinião seriam um casal maravilhoso.
Ao ver Bardot, Cadu se despediu de Lucila e foi cumprimentar Bardot, com quem tinha marcado uma reunião. Lucila nem desconfiava, mas Bardot havia oferecido um emprego pra ele no escritório.

Lucila seguiu para sua mesa e tratou de ajeitar suas coisas. Não reparou quando Cadu saiu da sala de Bardot.

Na manha seguinte, Marcos a esperava no aeroporto. Juntos partiram para a Bahia.

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