segunda-feira, 15 de junho de 2009

CAPÍTULO 45

De roupa nova e já pronta, Lucila esperava pela ligação de Cadu. Eram amigos, então é claro, ele não iria a buscar em casa. Não era um encontro romântico! Era apenas um jantar de bons amigos.

Cadu ligou dizendo que já estava indo para o restaurante. Lucila saiu de casa logo depois. Os dois chegaram na mesma hora. Cadu elogiou Lucila, que retribuiu o elogio. E não era mentira. Cadu estava mesmo bonito. Claro, que de novo vestia uma calça jeans e uma camiseta branca, seguindo outra vez o conselho de Lucila. Mas estava com um novo ar, algo diferente que nem Lucila conseguia identificar o que era.

Os dois pareciam se conhecer há muito tempo. Ambos falaram de suas vidas com muita tranqüilidade. Até as piadinhas de Cadu não atrapalhavam a conversa. Os dois conversaram a noite inteira e por fim Cadu perguntou a Lucila:
- Então amanhã você vai conversar com Rafa?

- Vou. Não sei como, mas não estou nervosa. E pra falar a verdade, nem sei o que vou dizer.

- Seja sincera. Conte a ele o que você está sentindo.

- É eu farei isso. Acho que nossa relação recomeçará muito mais forte se eu for sincera com ele como ele foi comigo.


Cadu engasgou:
- Recomeçará? Eu entendi que você tinha descoberto que não gostava mais dele.

- É, mas eu acho que eu e Rafa merecemos tentar. São muitos anos, muita história. Você acha que eu estou errada?


- Não. Se é o que você quer...


Cadu saiu do jantar menos animado. Não tinha percebido o quanto a idéia de Lucila continuar seu namoro tinha o abatido. Mas ao mesmo tempo estava feliz em ter tido uma noite tão agradável. Lucila era um delicioso presente. Uma mulher incrível. Uma excelente amiga. Ficaria feliz a vendo feliz. Ela merecia.

Mesmo descumprindo o combinado, Rafa ligou pra Lucila quando ela chegava em casa.
- Oi amor. Eu sei que não era pra eu ligar, mas estou com saudade.

- Tudo bem Rafa. Já estou chegando em casa. Amanhã nos vemos, certo?

- Não pode ser agora?


Quando Lucila saiu do carro viu Rafa parado na garagem. Trazia um buquê de rosas vermelhas. Lucila agradeceu. Tinha gostado da surpresa. Mas há poucos dias, teria se sentido a mulher mais feliz do mundo. Agora, ela apenas tinha gostado.

Os dois subiram. Lucila não queria transar com Rafa antes de conversarem. Queria ser honesta, abrir o jogo. Disfarçou pegando um copo de água na cozinha enquanto pensava no que fazer. Rafa se aproximou, bem mais tímido do que usual. Lucila o parou:
- Rafa, calma. Na verdade, eu não pretendia te ver hoje. Eu queria conversar com você amanhã, mas também não acho justo ficar fazendo mistério.

Os dois se sentaram na mesa da cozinha. Lucila não se lembrava de estar tão calma sobre um assunto tão sério, em anos. Rafa estava tenso. Mas Lucila conduziu como se falasse com uma criança. Falou por muito tempo sem nenhuma interrupção do namorado:

- Rafa, acho que não preciso te dizer que desde que me entendo por gente fui apaixonada por você. No nosso primeiro namoro éramos muito novos, vinte anos. Por quase todo o tempo não percebia nada de errado em nosso namoro, até que amadureci. Então percebi que nem tudo era tão bonito quanto parecia. Tentamos, nos separamos, voltamos. Acreditei que você tivesse amadurecido até que no casamento de Bruna...bom, você sabe. Achei que não podia mais me submeter a um relacionamento onde não havia confiança, sinceridade. Até que por causa da confusão de Bruna, nos reencontramos.E apesar do seu deslize, acho que acertamos a mão. Aliás, você acertou. Fez a coisa certa, foi sincero. E eu me senti dona da situação, sentia orgulho em te ver tão, tão... tão meu. Meu como nunca senti que fosse. Por sorte, percebi a tempo que estava sendo uma babaca contigo. Dominando você, usando o sentimento que você teve coragem de me mostrar. Mas junto com isso também percebi que meu sentimento por você não era mais o mesmo. Não é mais o mesmo.

- Lú, a gente se ama.

- Não sei, Rafa. Acho que não. Mas, não estou aqui pra terminar com você. Eu quero que dê certo. Quero me apaixonar de novo por você. Tenho certeza de que com a maturidade que você agora tem, vai dar certo, você vai ver.


Lucila não tinha esta certeza, mas não sabia como continuar aquela conversa. Então abraçou Rafa, que ainda atordoado com tudo que tinha ouvido, mal correspondeu. Os dois apenas dormiram juntos, abraçados.


Alguns dias se passaram e a rotina dos dois era sempre a mesma. Se encontravam depois do trabalho, às vezes jantavam fora, outras iam ao cinema. Rafa nitidamente se empenhava para reconquistar a namorada e Lucila também fazia o que podia pra sentir aquela paixão, que agora teimava em se esconder.

O trabalho no escritório seguia bem. Lucila e Cadu se encontravam com freqüência e os dois faziam uma bela dupla. Cadu não perguntava mais sobre o relacionamento de Lucila. O que era ótimo, pois ela também não tinha vontade de falar. Era como se Cadu e Lucila retrocedessem em sua amizade e tivessem voltado a ser apenas bons colegas de trabalho.

Na inauguração da casa de Itaipava, o cliente decidiu oferecer uma festa na própria casa para seus amigos e claro, para a equipe envolvida. Lucila, Cadu e Bardot eram os convidados de honra. Os três reservaram uma pousada e foram juntos para Itaipava.

Como era esperado, a festa estava deslumbrante. Lucila e Cadu estavam muito orgulhosos de seu trabalho. Beberam, dançaram, comemoraram. Talvez por conta da bebida voltaram a se tratar como aqueles amigos que jantaram juntos numa noite. Lucila ria das piadas sem graça de Cadu e mais uma vez achava ele bastante atraente.

Em momento da noite, Bardot se aproximou de Lucila e disse:
- Lucila, Lucila! Há tempo não te vejo tão brilhante, hein? Sabia que você e Cadu fazem um belo casal? Uma dupla do barulho! No trabalho, no amor....

- Que isso, Bardot! Imagina! Somos só amigos e eu tenho namorado, você sabe.

- Sei, sei. O famoso Rafa. Tá feliz?


Lucila não respondeu. Cadu chegou em seguida e a puxou pra dançar. Primeiro Lucila tentou escapar, mas depois, embalada pela música, se deixou levar.

Já eram altas horas da madrugada. Bardot já tinha ido embora. Cadu e Lucila estavam cansados e resolveram ir para a pousada. No caminho conversavam sem parar, nem eles entendiam como podiam ter tanto assunto e ser sempre tão bom. Quando chegaram na pousada, cada um foi para seu quarto. Lucila não sabia bem porque, mas achou melhor se despedir de longe.

Lucila entrou em seu quarto e ficou relembrando os bons momentos da sua noite. Alguém bateu na porta. Lucila abriu. Era Cadu que a puxou e lhe deu um beijo na boca. O beijo era meio desajeitado, molhado demais, mas Lucila não se importou.

Os dois se entregaram ao tesão. Um tesão completamente inesperado, imprevisível. Cadu era cuidadoso, romântico, atencioso. Não era um furacão como Rafa, mas era doce, meigo e tinha sua pegada. Eles se entrosaram tão bem na cama como nas conversas.

Quando terminaram, Cadu olhou Lucila nos olhos e disse:
- Você é uma mulher apaixonante.

Lucila respondeu:
- Você também.

Um comentário:

  1. Sei lá... esse Cadu me parece meio chatinho...será que vai dar certo ?????

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