segunda-feira, 1 de junho de 2009

CAPÍTULO 39

Juca andava de um lado para o outro no quarto do hotel. Tinha medo de sair e o agente da PF telefonar informando a situação de Bruna, Marcelo e Antônio Carlos. Mas apesar de toda sua ansiedade, o agente não ligou durante todo o dia. Juca então resolveu telefonar para saber o que estava acontecendo.
- Fala seu Juca! Estamos quase com o pedido de deportação na mão. Assim que isso acontecer, levo os três delinqüentes pro Brasil, onde poderemos cuidar deles direitinho.

Juca não gostava que Bruna fosse vista como mais uma delinqüente. Mas tinha que se controlar, afinal a ultima coisa que queria agora era perder a razão. Com calma falou:
- O advogado de Bruna me informou que vai conseguir uma condição especial para ela, devido o trauma que passou e pela ajuda que deu para localizar o Marcelo.

- É verdade. A bonitinha deve ir antes pro Brasil.

Juca definitivamente não ia com a cara daquele policial. O jeito malandro com que tratava tudo e todos incomodava Juca. Especialmente quando se referia a Bruna. Irritado, Juca perguntou:
- Antes? Antes quando? Você está sabendo de alguma coisa e não quer me dizer?

O policial riu e respondeu ríspido:
- Dr. Juca, não esqueçamos que aqui eu sou a autoridade e o senhor é nada mais que um cidadão comum. Não vamos confundir o fato da PF permitir que o senhor viesse acompanhar o processo com participar do processo. Está entendido?

Juca respondeu que sim. Sabia que o agente estava certo, então tentou mais informações junto ao advogado que havia contratado para Bruna. Segundo ele, até o final da semana Bruna voltaria para o Brasil.
Depois de algumas horas, Juca não conseguia dormir, então zapeava os canais da TV. De repente o telefone do quarto tocou. Juca se assustou e atendeu correndo:
- Yes?

- Seu Juca? – disse uma voz feminina em um portunhol enrolado.

- Sim, sou eu. Quem é?

- Boa noite Seu Juca e desculpa incomodar a essa hora. Mas só agora consegui achar o senhor. Eu sou Consuelo, trabalhava para a Dona Bruna e do Seu Marcelo e gostaria de falar com o senhor. Estou aqui embaixo na frente do hotel.

Juca se vestiu e desceu. Ele e Consuelo foram para um café próximo e depois de devidamente apresentados, Consuelo começou a falar:
- Seu Juca, o que eu vou lhe contar é importante. Mas eu preciso pedir uma coisa.

- Hummm. Sabia que estava bom demais pra ser verdade. Quanto você quer?

- Assim, o senhor me ofende! Eu não quero nada! Eu só quero seu silêncio sobre uma coisa.

- Me desculpe, Consuelo. Estou de cabeça quente e tudo que tem acontecido na minha vida me faz crer que o mundo gira mesmo em torno de dinheiro. Sobre que coisa você está falando?

- Eu sou ilegal aqui em Miami. Se não fosse por isso, já tinha ido contar o que eu sei. Mas se eu for até a delegacia, eles me mandam de volta para Cuba. Eu não posso voltar. Preciso juntar dinheiro pros meus filhos.

Juca concordou em não denunciar Consuelo. Os dois combinaram que Juca consultaria o advogado para saber qual a melhor maneira de agir.

Juca pôs-se a ouvir o que a cubana falava. Enquanto ouvia, imaginava quem mais iria procurá-lo com uma prova contra Marcelo. Primeiro foi Antônio Carlos, agora Consuelo. Imaginava que com tudo isso, seria fácil manter Marcelo preso pelo resto dos seus dias.

Consuelo era educada, mas tinha um “trejeito” latino que era inegável. Falava gesticulando, às vezes aumentava a voz. Poderia se passar por uma brasileira, principalmente quando falava com emoção na voz:
- Seu Juca. Como está Dona Bruna? Ela está bem? Eu fiquei tão preocupada quando a levaram do hospital. Meu primo Ramirez, que encontrei aqui em Miami, descobriu pra mim sobre o senhor. Ele tem um amigo na policia que contou que o senhor era ex-marido da Dona Bruna e que estava aqui para ajudá-la.

Juca se assustou com o que ouviu. Como tinha passado essa percepção de que viera para Miami para ajudar Bruna? Não era verdade! Ele queria justiça! Mesmo que isso significasse prender também Bruna. Pensando rápido, Juca concluiu que o fato de ter contratado um advogado de defesa para Bruna, pudesse passar a impressão de que ele estava ajudando a ex-mulher. Mas ele sabia que não era verdade. Ele apenas contratou um advogado, nada mais.

Juca ia se defender e explicar que não veio para ajudar Bruna, mas achou que isso pudesse reprimir Consuelo e queria ouvir o que ela tinha para contar. Consuelo tomou mais um gole do seu café e disse com cara feia:
- Ôô povo que não sabe fazer um café, não é mesmo? Bom, seu Juca, o que eu tenho pra contar, eu antes contei pra esse meu primo e ele acha que pode ajudar na investigação do Dr. Marcelo. Pra falar a verdade, eu nunca fui com a cara dele. Ao contrário de Dona Bruna. Ela sim é um doce de pessoa. Não merecia passar por isso. Não mesmo!

Em um momento de extrema frieza, Juca pensou o contrário. Bruna estava pagando pelo que fizera a ele. Consuelo notou algo estranho na expressão de Juca, que disfarçou:
- Continue Dona Consuelo, por favor.

- Claro, claro. Bom, primeiro eu queria contar que a mulher do jornal, foi atrás do seu Marcelo.

- Mulher do jornal?

- É a mulher que apareceu morta. – Consuelo tirou um recorte dobrado de jornal da bolsa e mostrou e entregou para Juca. Era um jornal de quinta, especializado em atrocidades, tragédias e todo tipo de fofoca. Nele tinha a foto do corpo de Dra. Joana.

- Dra. Joana. Sim, eu sei que ela e o Dr. Antônio Carlos deixaram um bilhete, não é isso?

Antônio Carlos já havia contato isso para Juca, mas deixou a cubana continuar:
- Ah o senhor já sabe, né? Então tá bem. A segunda coisa é que eu vi o Dr. Marcelo entregando um envelope para um homem mal encarado e depois disse uma coisa muito estranha. Ele falou pro homem que era para parecer um assalto. Achei isso muito esquisito e quando vi a foto da mulher morta, achei que pudesse ter alguma ligação.

Juca se animou. Prender Marcelo também como mandante de um crime seria maravilhoso. E perguntou:
- Você seria capaz reconhecer esse homem?

Consuelo engasgou. Ela seria sim capaz de reconhecê-lo, mas não podia ir até a delegacia. Notando o desespero de Consuelo, Juca se apressou em dizer:
- Calma. Não vou pedir pra que você vá até a delegacia. Estou só pensando.

Consuelo então contou que seria capaz de reconhecer o homem. Juca se apressou em ligar para o advogado, que sugeriu negociar com a polícia o Green Card de Consuelo em troca do seu depoimento.

Consuelo se animou.

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