sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

CAPÍTULO 13

Era Natal e Lucila teria que fazer sua via sacra de todos os anos: se dividir entre as festas de natal de sua mãe e de seu pai, que agora tinham cada um, uma nova família. Mesmo a moral de ser filha única do casal, nunca valeu pra convencer um dos dois em abrir mão em comemorar o Natal na noite do dia 24. Então ela todos os anos jantava duas vezes, abria presentes duas vezes e ainda tinha que agüentar a pressão vinda das duas famílias sobre arrumar um namorado, casar, filhos, etc.

Lucila odiava a noite de natal, a não ser pela sua irmãzinha por parte de pai, que hoje tinha oito anos e adorava Lucila. Mariana era uma criança muito engraçada, falante, espevitada. Apesar da pouca idade, adorava bijuterias, vestidos, sapatos e já contava historias sobre seus namoradinhos de colégio. A irmã mais velha adorava ouvir. Era como se lembrasse de si mesma aos oito anos e toda a ingenuidade do amor eterno, das paixões fulminantes. Era tudo tão simples naquela época.
Comprou um estojo de maquiagem pra irmã, que claro adorou e logo foi usando todas as sombras, batons, esmaltes. Nela e em Lucila, que a certa altura, parecia uma palhaça de tantas cores que tinha em seu rosto. Mas ela não se incomodava. De tudo que tinha que passar naquela confusa noite, Mariana era seu melhor momento.

Depois do jantar, seu pai sentou-se ao seu lado e começaram aquele papo tradicional sobre o escritório, o apartamento, etc. Quando Lucila achou que ele iria perguntar sobre as “paqueras”, surpreendentemente ele comentou:
- Encontrei com o Rafa há uns dias. Ele comentou que tem estado com você. – Rindo, deu duas palmadinhas na perna da filha como quem quer ser cúmplice de alguma coisa.
Lucila se limitou a sorrir, chegou a pegar ar pra se defender, mas desistiu. Já estava mesmo na hora de ir para sua segunda festa.

A festa na casa da sua mãe era uma apoteose. Todos os enfeites de Natal possíveis e imaginários estavam no apartamento. Papai Noéis que cantavam, dançava, balançavam sininhos, andavam de motocicleta. Grandes, médios e pequenos. Renas e Anjos de todas as cores e tamanhos. Luzes coloridas em todo o terraço, guirlandas, dois grandes presépios e é claro, uma imensa árvore de Natal. Dona Lena era aficionada por Natal, passava o ano todo comprado besteirinhas, enfeites e todos itens natalinos que existissem. Na noite de Natal, até o papel higiênico é decorado com pequenos trenós.
- Que triste fim para Papai Noel. – falou sozinha no banheiro, tirando alguns resquícios de maquiagem colorida.

Sua família por parte de mãe, além de ser maior, era muito mais “envolvente”. Bom, deixando metáforas de lado, os Souza eram o maior nível de intrometimento e fofoca possível em uma família. Qualquer movimento, era discutido, julgado e decidido ali mesmo, na mesa de jantar. Por isso mesmo, Lucila tinha pavor de abrir a boca em alguma destas reuniões. Qualquer descuido, qualquer palavra a mais gerava um discurso coletivo de sua mãe, suas tias Margarida e Ivone e de seu padrasto.

- Lucila!!!!!!! Meu amor, você está tão amarrotada. Foi a pivetinha da sua irmãzinha que te deixou assim, né? – abraçando Lucila, sua mãe continuava com seu discurso, quase um monólogo, já que a resposta da filha era o que menos interessava.


Depois, começou sua via sacra: cumprimentar a todos e responder dezenas de vezes as mesmas perguntas: “- Não! Não estou namorando”, “- Não estou sendo exigente”, “- Não! Não quero conhecer o primo do irmão do cara que trabalha com você!”

Se alguém também perguntasse sobre sua carreira, poderia explanar obre seu novo projeto e a responsabilidade enorme de assumir este desafio. Iria explicar seus planos, como conduziria o projeto, como sua chefe apostava nela, etc. Mas ninguém perguntou sobre isso. Era mais interessante contar que a filha da prima Néia estava de caso com um homem casado ou que o tio Lino agora saiu do armário e se assumiu como Lina Joyce.

A cabeça doía e Lucila já não conseguia se concentrar em nenhum assunto. Simplesmente começou a fazer mentalmente uma lista do que iria levar pra sua viagem. Sem perceber adormeceu no meio daquela confusão. Quando acordou já estava em clima de fim de festa. A maioria já tinha ido embora. Estava apenas seu padrasto, que meio bêbado dissertava sobre o sexo dos anjos, sua mãe recolhendo os pratos e suas tias cochilando no sofá. Aproveitando esse clima, Lucila louca pra ir pra casa, saiu à francesa.

O Natal passou e o escritório entrou em férias coletivas. Lucila, Carla, Flavio, Tadeu e Marcos estavam com tudo pronto pra partir para Angra. Já haviam combinado horários, quem iria no carro de quem, comprado comidinhas, bebidinhas, etc.

Lucila foi em seu carro junto com Carla. As duas tinham muito assunto, apesar do pouco tempo de amizade. Carla era pessoa fisicamente e ideologicamente mais próxima de Lucila. Elas tinham o mesmo ritmo de vida, era mais fácil se fazer entender. A viagem passou rapidinho.

Chegando lá, a casa ainda estava fechada. Elas foram as primeiras a chegar. Mas tiveram uma terrível surpresa. Elas não acreditavam no que viam. A casa estava toda quebrada, destruída, velha. Lucila e Carla não conseguiam entender de qual ângulo as fotos que estavam no site de locação foram tiradas. Realmente era uma casa grande, com vários quartos e banheiros. Mas estava completamente abandonada. A piscina um dia deve ter sido um lugar bem agradável, mas hoje apresentava uma água verde e lodosa.

O desespero tomou conta das duas. Que sem ação, simplesmente voltaram pro carro e foram beber no bar da esquina. Nada como uma cerveja gelada pra relaxar.

5 comentários:

  1. Adorei "Lina Joyce"....

    Mas... e a Bruna hein ?????

    bjs. MH

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  2. Oba! Adorei o perfil da Mariana "o melhor momento de Lucila".

    A Mariana aqui agradece, não só pelo nome, mas principalmente porque criança é sempre um dos melhores e mais sinceros momentos na vida da gente. Isto é, quando a criança ainda não está infectada com as maldades e burrices dos adultos a sua volta, claro...

    Tô curiosa! :)
    Bjs,
    Mari

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  3. Vou te dizer que já passei um Natal muuuito parecido com esse! Família é família, só muda de endereço... risos.

    Mas realmente... apesar dos pesares... nada como uma cerveja gelada para relaxar!

    Beijos, Livits

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  4. Tem ceteza que o nome da mãe da Lucila não é D. Milú?

    O certo é isso: vamos tomar uma cerveja, depois disso, dormir no carro passa a ser uma ótima pedida...hehehe

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  5. A inspiração da decoração de natal não tem como negar da onde veio, né?

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