terça-feira, 28 de abril de 2009

CAPÍTULO 30

Bruna e Marcelo saíram do cinema e foram jantar. Quem os olhava jamais pensaria que aquele casal era uma dupla de refugiados. A barriga de Bruna ainda reforçava o ar de família feliz. Os dois riam, eram carinhosos um com o outro. Apesar do jeito calado de Marcelo, ele a encantava. Sua sobriedade era um charme pra ela, era um toque de mistério na sua personalidade.

Depois do jantar, voltaram pra casa. Assim que entraram, Consuelo correu em direção à porta e entregou pra Marcelo o bilhete, em seguida falou:
- Dr. Marcelo eles vieram aqui, mas eu não os deixei entrar não, viu? Avisei que os senhores não estavam e ele pediram pra entregar esse bilhete.

Marcelo abriu o papel:


Marcelo,
Precisamos conversar. O círculo está fechando. Estamos no Royal Palm Hotel. Procure-nos com urgência.
Abraços,
Antônio e Joana


Depois que leu o guardou no bolso. Bruna perguntou:
- De quem é? O que é?

Ele fez um carinho na sua cabeça e respondeu com voz calma:
- Não se preocupe minha querida. São negócios.

Bruna não gostou da resposta, mas como tudo de estranho na sua vida atual, resolveu ignorar e se concentrar apenas nas coisas boas. Consuelo a olhava desconfiada, com cara de quem não entendia porque a patroa não insistia em saber o que era o tal papel.

Marcelo subiu as escadas e Bruna ficou olhando pra Consuelo, até que disse ríspida em resposta ao olhar desafiador da emprega:
- O que foi? Está precisando de mais alguma coisa? Olha, já jantamos. Quando terminar tudo pode se recolher.

Consuelo fez cara de quem não gostou. Pediu licença e foi pra cozinha. Pensava consigo mesma que por mais boazinhas que as patroas fossem na hora do aperto elas sempre descontavam nos empregados. Riu debochado como alguém que já está mais do que acostumada a ser tratada daquela forma.

Em seu escritório, Marcelo ligava para o Royal Palm Hotel. Marcou um encontro com os ex-funcionários da JAEH para o dia seguinte. Percebeu que eles estavam aflitos com o fato de que a Polícia Federal já ter os identificado como os cúmplices de Marcelo e Waldemar. Marcelo não sabia dos avanços da investigação e ficou furioso com a notícia.

Minutos depois, Bruna também subiu e o procurou no escritório:
- Oi amor, você não vem se deitar?

Marcelo estava sério, sentado em sua cadeira perdido em seus pensamentos e não gostou de ter sido interrompido. Em um lapso de raiva respondeu com grosseria:
- Você não pode se deitar sozinha um só dia?

Bruna se assustou com a reação do seu amor. Sua cara deve ter transparecido isso, pois imediatamente Marcelo tentou consertar:
- Desculpa meu amor. Estou nervoso. Já estou indo, tá bem?

Bruna assentiu com a cabeça e foi para o quarto. Dormiu antes que Marcelo aparecesse.

No dia seguinte quando acordou, Marcelo já havia saído da cama. Interfonou para cozinha e perguntou a Consuelo sobre Marcelo, que respondeu:
- Dona Bruna ele já saiu há um tempão. Tava com uma cara! Perguntei se ele queria tomar café e ele nem respondeu.

Bruna não sabia o que estava acontecendo. Mas sabia que não era algo bom que Marcelo não queria contar. Entendia que ele quisesse a poupar, afinal estava grávida.

Enquanto isso Marcelo se encontrava com Antônio e Joana. Ele não queria ser visto junto dos dois então os buscou no hotel e foram para um bistrô discreto. Chegando lá Antônio logo começou a desabafar:
- Marcelo, eles estão na nossa cola! Estão interrogando minha família, meus amigos. É uma questão de tempo para nos acharem. O que vamos fazer?

Marcelo irritado respondeu:
- Pra começar você poderia virar homem, né? Você achou o quê? Que a polícia não iria descobrir sobre vocês? E pelo jeito vocês querem mesmo se entregar. Como chegaram a Miami? Não me digam que usar seus nomes e passaportes verdadeiros?

Joana, bem mais durona do que Antônio, não deixou barato:
- Sinto muito se não somos delinqüentes como você e não temos documentos falsos, nomes falsos e tudo mais. Desculpe pela nossa ineficácia em ser falsários. Mas respondendo sua pergunta, viemos até o México de avião e até aqui de carro com um esquema para imigrantes, nem carimbaram nosso passaporte. Ninguém sabe que estamos nos EUA.

Marcelo ficou ainda mais irritado. Antônio estava apavorado e Joana estava firme e assim continuou:
- Temos um problema e como você mesmo nos garantiu, viemos aqui para que você possa resolver. Não é possível que nesta gama toda de corrupção você não conheça ninguém que possa molhar a mão pra nos livrar dessa.

Marcelo riu alto. Apesar do deboche, não sabia o que responder. Não tinha esses contatos, seu pai que tinha e agora não podia procurá-lo, certamente todas as ligações estariam grampeadas. Então pensou rápido. Precisava tirar eles de Miami.
- Vamos nos acalmar. Quando disse que vocês podiam confiar em mim, é porque podem. Temos algumas providências imediatas a tomar. Primeiro, não quero saber de ninguém aparecendo na minha casa, telefonando pra lá. Nada! Minha esposa não tem nada a ver com isso e ela está grávida. Entendido? Segundo, vocês fizeram check in nesse hotel, certo? Não vão voltar lá. Irão daqui direto pra outro estado, qualquer que seja, mais o mais longe daqui. – Tirando um bolo de dólares do bolso, entregou a Joana – isso aqui vai garantir uma viagem e uma estadia confortável a vocês até que baixe a poeira.

Joana pegou o dinheiro e colocou na bolsa. A idéia de continuar a viagem com Antônio não era das melhores. Ela não o agüentava mais vê-lo reclamar de tudo. Mas não tinha saída, também não queria ficar sozinha nesta situação. Pensava em seu marido e filhos e principalmente no que eles pensavam sobre ela. Antes que pudesse se emocionar com seu pensamentos, perguntou a Marcelo:
- E como você nos achará? Como saberemos que podemos sair da toca?

Marcelo anotou um endereço, uma caixa postal e entregou pra eles:
- Vocês vão escrever o contato de vocês e enviar para este endereço. Sem assinar, sem bilhetinhos, apenas o endereço e telefone que vocês irão estar.

Antônio ainda balbuciou algumas palavras sobre o pavor e arrependimento que sentia. Marcelo tentou tranqüilizá-lo afirmando que a PF não tem provas concretas contra eles e que quando tudo isso passasse eles seriam ricos e felizes.

Se despediram secamente. Marcelo voltou para o carro deixando os dois a procura de um transporte que os levasse para um lugar longe dali. Sabiam que não podiam levantar suspeitas, preencher fichas ou mostrar o passaporte. Os dois não tinham intimidade com esse tipo de transação. Ia ser uma tarefa difícil pra eles e Joana sabia que dependia dela conseguir o carro sem suspeitas.

Marcelo não voltou pra casa para o almoço e pela primeira vez não avisou Bruna. Ela ficou preocupadat, mas achou melhor não telefonar. Almoçou na cozinha na companhia de Consuelo, que atenta percebia o clima estranho do casal.

3 comentários:

  1. Que furada que essa Bruna se meteu... a Lucila pode até estar se enganando com o Rafa, mas é compreensível, a diversão está valendo a pena. Agora cegueira pra honestidade... é demais!!!

    Hahahaha, tô parecendo aquelas velhinhas que param o autor na rua pra comentar a novela...

    Beijos!!!

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  2. AHAHAH. Adorei, velhinha!!!!
    Beijooo

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  3. Essa Bruna vai se ferrar...

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