terça-feira, 23 de junho de 2009

CAPÍTULO 48

Bruna entrou no apartamento e sentiu algo que há muito tempo não sentia: se sentia em casa. Nem no apartamento de Marcelo ou na mansão em Miami conseguia ficar tão a vontade como estava agora. Aquela era sua casa. Ou tinha sido. Lá havia passado ótimos momentos. Momentos com Juca, com ela mesma, com os amigos.

Amigos. Não tinha mais amigos, não tinha coragem nem de tentar reconquistá-los. Traíra a confiança de suas melhores amigas. Usou Lucila, sabia disso.
No momento em que tudo aconteceu, não percebia o tamanho da sua própria traição. Não percebeu como foi baixa, dissimulada, cruel. Agora tinha vergonha de si mesma e aceitava estar sozinha sob pena de seus próprios erros.

Sentou-se na beirada da cama. Apesar de sentir em casa, não se sentia livre para se esparramar naquela cama. Voltou pra sala, onde as lembranças eram mais amenas. Pegou um porta-retrato com uma foto de seu casamento. Ela e Juca lindos, felizes, olhos brilhantes, caras rosadas, cheios de amor. “- Acabou” – pensou em sua certeza.

Estava cansada e com fome. Resolveu tomar um banho e preparar algo para comer. Ainda enrolada na toalha, foi até a cozinha ver o que encontrava. Encontrou Juca. Sentando na mesa, cabeça baixa, parecia não saber direito que estava fazendo. E não sabia.

Bruna se assustou, mas logo ficou calma. A presença de Juca lhe dava muita paz. Como se eles tivessem voltado ao passado, Bruna caminhou tranqüilamente até a dispensa e perguntou:
- Está com fome?

Juca entrou no mesmo clima. Sacudiu a cabeça dizendo que sim. E os dois juntos, sem explicarem nada, começaram a preparar o almoço. Conversaram amenidades, riram, arrumaram a mesa. Comeram juntos com uma conversa gostosa, sem pretensões. Nenhum dos dois sabia como e porque isso acontecia, mas deixaram fluir. Juca que não tinha certeza de como tinha ido parar ali, agora tirava os sapatos. Estava em sua casa, com alguém que se parecia com sua esposa. Não houve carícias de casal. Na verdade nem se tocaram. Apenas conversaram e também dividiram o mesmo silêncio. Ficaram a tarde juntos e a noite também. Dormiram no sofá da sala com a TV ligada. Era tudo muito tranqüilo, muito normal. Parecia que nada havia mudado.

No dia seguinte, os dois seguiram sua rotina, ignorando os últimos meses. Bruna tentou por algumas vezes falar com Juca sobre o que estava acontecendo. Ele sempre mudava de assunto. Quando estava pronto para ir para a JAEH, Bruna insistiu mais uma vez:
- Juca, não podemos fingir que nada aconteceu. Precisamos conversar.

Juca se irritou, respondeu ríspido:
- Quem foi o lesado da situação fui eu não foi? Então eu decido quando quero conversar, Bruna.

Bruna também gritou:
- Eu te fiz mal. Muito mal. O maior mal que eu poderia de fazer, eu sei disso! Mas eu também sofri, também levei meu troco. Me apaixonei por um canalha, perdi um filho, perdi meus amigos, minhas referências, minha ética. Agora estou aqui recebendo seu carinho. Um carinho de que preciso, mas sei que não mereço. Sinto o mesmo amor por você que sentia há meses, mas ele tem marcas, tem cicatrizes. Você sabe disso e não podemos fingir que nada aconteceu. Como você vai passar por cima de tudo que eu te fiz passar?

Juca se sentou novamente, largou sua pasta. Começou a chorar. Sabia que Bruna estava certa. Podia fingir que nada aconteceu apenas por alguns dias. Certamente em algum momento, alguma palavra, algum gesto, alguma coisa o lembraria de Marcelo, dos dois juntos, da dor. Ele amava Bruna, mas não conseguia perdoá-la.

Bruna interpretava o choro de Juca:
- Você não me perdoou, não é? Eu sei. Eu entendo e acho que também não conseguiria passar por cima de tudo. Eu quero voltar a nossa vida. Quero muito! Mais do que tudo! Mas não posso! A culpa, o sentimento de remorso e a falta do seu perdão, não vão nos permitir sermos felizes de novo.

Juca desabou, mas soluçando falou:
- Eu não entendo. O que aconteceu? Porque você fez isso comigo? Eu sei que não merecia. Éramos felizes, não éramos?

- Éramos muito felizes, Juca. Não me faltava nada, nem material, nem amor, nem nada. Nunca esperei que nosso casamento fosse uma eterna história romântica, sabia que um dia as coisas iam esfriar. Estava pronta pra isso, teria seu companheirismo, sua amizade e nosso amor. Já seria suficiente. Mas me enganei. Quando vi a possibilidade de transbordar novamente romantismo e paixão em minha vida, não resisti. Marcelo apareceu, se mostrou mais presente, mais apaixonado, mais disponível. Eu me encantei por ele. Fui manipulada em meu romantismo.

Juca nunca imaginou compreender Bruna. Mas compreendeu. A conhecia tão bem, que sabia o quanto era romântica, o quanto precisava disso. Foi assim que a conquistou, com o mais puro romantismo. Entendia o que havia acontecido, se culpava por ter deixado acontecer, mas também sabia que o casamento chegaria a ter dias mais amenos e também não achava isso ruim. Se perguntava se perdoaria Bruna algum dia. Se conseguiria confiar nela novamente.

Os dois ficaram um tempo em silêncio. Não havia mais nada pra ser dito. Juca reafirmou que o apartamento seria dela. Ele voltaria a seu flat.

Antes de sair, Juca a olhou pra Bruna com ternura. Bruna retribuiu e disse:
- Quando quiser, se quiser, como quiser. Podemos tentar.
Juca balançou a cabeça e saiu.

Nos dias que seguiram, eles se falavam por telefone. Depois começaram a almoçar juntos em um ou outro restaurante. Foram ao cinema. Eram bons amigos.



Na Bahia outro casal também adormeceu junto. Mas dormiram exaustos, cansados de se sentirem felizes, de se amarem. Lucila recuperou suas forças e também as extinguiu nos braços de Cadu. Os dois não conversaram, não acertaram os pontos. Não houve DR*, apenas seguiram seus instintos, exatamente como na primeira noite que ficaram juntos.

O dia acordou ensolarado, como se espera de um dia na Bahia. Os dois se olharam amassados, riram com a intimidade de quem nunca acordou junto. Se abraçaram, se beijaram e se amaram novamente. Lucila em alguns momentos achava que ia acordar, que tudo não passava de um sonho.

No seu íntimo confundia Cadú com outra pessoa. Não sabia direito quem ele era. Mas o Cadú piadista, às vezes sem graça, descombinado, largado não era o mesmo Cadu que a puxava pelos cabelos, que a beijava com delicadeza. Era difícil entender que eles eram um só. Lucila sabia, em sua experiência, que entre quatro paredes as pessoas se revelam novas pessoas. Mas também conhecia o Cadú que a consolou no calçadão de Copacabana, que foi seu amigo. O Cadú companheiro de trabalho, inteligente, esperto, ativo e que duplava com ela como ninguém. Todos esses “cadus” eram aquele homem que estava ao seu lado agora. Não era um príncipe encantado, não era perfeito, nem lindo, nem o melhor amante do mundo. Era o homem que ela queria agora. Pra agora e pra sempre. Ou para quanto o sempre durasse.


* discutir a relação

3 comentários:

  1. Melhor capítulo ! Melhor texto, melhor tudo, parabéns amiga !!!

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  2. O Juca é um cara foda. Só isso que tenho pra falar...
    Bjos!

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  3. Juca é legal demais... Cadu é muitos em um.. mas ... e o ex-sacana, charmoso, apaixonado Rafa ?????????
    bjs

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