Depois de uma exaustiva viagem ouvindo Carlos Eduardo tagarelar pela estrada, eles finalmente chegaram em Araras. Antes passaram na pousada para deixar as malas e depois seguiram para a obra.
A casa era realmente magnífica. Lucila tinha que reconhecer que o que aquele engenheiro tinha de chato, tinha também de talentoso. Era impossível não se empolgar em trabalhar num projeto como aquele.
Carlos Eduardo ou Cadu – como pediu pra ser chamado - mostrou todo o imóvel e fez suas considerações a respeito de cada ambiente. Lucila se surpreendeu com sua competência, ele realmente sabia o que estava falando e tinha idéias incríveis. Valeria a pena agüentar aquele hippie chato, se fosse pra fazer um bom trabalho.
Os dois discutiram idéias, fizeram anotações, tiraram fotos. A hora passou e nenhum dos dois percebeu. Então, foram almoçar em um restaurante bem charmoso próximo a casa.
Se não fosse pelo senso de humor duvidoso, Cadu seria uma boa companhia. Mas sua mania insuportável de fazer piada com absolutamente tudo, irritava Lucila. Eram trocadilhos sem graça, piadas batidas. Só ele mesmo achava graça. No início, Lucila pra ser simpática, ainda sorria. Com o passar do tempo, preferia fingir não ter ouvido. Mas isso não inibia Cadu, que inventava logo uma nova piada.
Enquanto almoçavam, o celular de Lucila tocou. Era Rafa. Ela não atendeu. Não queria falar com ele naquele momento. Logo depois foi o telefone de Cadu que tocou. Ele atendeu:
- Oie minha bijujujuca!!!!!!!!!
"Bijujujuca”???? - Lucila prendeu o riso e fingiu não prestar atenção na conversa em tom infantil que seu colega tinha ao telefone. Lucila pensava quem poderia ser essa “bijujujuca” que agüentava essa voz irritante e ainda encarava esse modelito descombinado de Cadú? Ele desligou e falou:
- Desculpa, não podia deixar de atender.
Lucila falou que tudo bem e voltou ao assunto do projeto. Como se a ignorasse, Cadu, voltou no assunto anterior. Ele queria falar sobre sua bijujujuca. Era importante pra ele. Interrompendo Lucila, disse:
- Desculpa te interromper, mas custo a voltar ao meu normal quando falo com essa mulher. A mulher da minha vida. Você entende?
Lucila arregalou os olhos e balançou a cabeça concordando, apesar de que não tinha a menor idéia do que Cadú estivesse falando. Ele continuou:
- Eu falo com ela e perco o foco. Me desculpe. Ahh... quem manda ter uma namorada tão especial, não é? Você tem namorado?
Lucila sem graça, não esperava ter que dividir detalhes da sua vida particular com aquele chato. Respondeu secamente:
- Tenho. Mas voltando ao projeto, Cadu. Eu pensei em esquadrias de alumínio. O que você acha?
Cadu demorou um tempo para voltar ao normal. Como ele mesmo havia dito, falar com sua namorada parecia mesmo o tirar do sério.
O almoço acabou e os dois pediram a conta. Voltariam para a casa para fechar mais alguns detalhes. Tinham pouco tempo pra decidir tudo.
Enquanto isso, Rafa estacionava seu carro em frente a um prédio na Barra da Tijuca. Não precisou se anunciar, o porteiro parecia o conhecer. Ele subiu e abriu a porta com sua própria chave. Não havia ninguém em casa, então apenas colocou o anel sobre a mesa. Pensou em aproveitar para deixar também as chaves, mas desistiu.
No caminho de volta para o escritório, tentou mais uma vez ligar para Lucila, que de novo não atendeu. Deixou um recado simpático, apesar de já estar de saco cheio daquela situação. Sabia que tinha que agüentar. Por sorte Lucila nem se lembraria do anel. Estava bêbada, talvez as lembranças estivessem confusas. Rafa torcia para isso. Não saberia explicar como o anel de Silvia estava na sua casa.
Silvia era mais velha que Rafa. A relação dos dois sempre foi tranqüila, nenhum dos dois esperava mais do que o outro poderia dar. Porém, um pouco depois de Rafa reencontrar Lucila, Silvia contou que havia se separado. A partir daí a relação dos dois mudou. Silvia não queria apenas exclusividade, queria começar uma nova vida com Rafa. Ela o culpava pelo fim do seu casamento, se dizia apaixonada e que não podia mais manter a relação com seu marido. Rafa pulou fora. Não era mais do jeito que ele queria. Ainda mais quando começou a namorar Lucila, queria fazer tudo direito. Lucila merecia isso.
Porém, Silvia parecia uma pedra no sapato de Rafa. Quase arruinou tudo quando o fez perder a hora justo no dia do casamento de Ana. Rafa acreditava que não tinha culpa, foi vítima da situação.
Ele já havia rompido com Silvia. Pelo menos na cabeça dele, o fato de não atender mais as ligações de Silvia, deixava claro que ele não queria mais nada com ela. No dia do casamento de Ana e André, era quase hora do almoço e Rafa desceu pra comprar alguma coisa pra comer. Quando voltou encontrou Silvia no corredor do prédio. Ela chorava, gritava. Estava totalmente descontrolada. Rafa, desesperado a colocou para dentro. Foi buscar um pouco d’água e quando voltou Silvia estava só de calcinha deitada no seu sofá.
Como Silvia estava com objetivo claro de ter Rafa de volta, a "brincadeira" foi até tarde. Rafa só se deu conta da hora quando Lucila telefonou várias vezes. Nas primeiras vezes, ele não pôde atender, mas depois percebeu a fria que havia se metido. Correu para se arrumar, pedindo que Silvia fosse embora. Ela se negava. Depois de muito tempo e de uma certa agressividade, Rafa conseguiu sair vestindo seu fraque e levando Silvia pra fora do apartamento.
No caminho para a igreja Rafa até se arrependeu. Mas sabia que não podia se cobrar tanto. Pois ele não teve culpa. Foi obrigado a ceder aos seus desejos animais de macho reprodutor, nada além disso.
Já de volta ao escritório, Rafa tentou mais uma vez falar com Lucila. Desta vez, ela atendeu:
- Oi Rafa.
- Oie meu amor. Estou louco de saudades. Quando você volta?
- Acho que até amanhã conseguiremos terminar tudo.
- Conseguiremos?
- Sim. Estou eu e o Cadú.
- Cadú?
-É! O engenheiro do cliente. Gente boa ele.
- Ah.. gente boa? Que bom, que bom.
- Bom, estamos indo tomar um banho pra jantar. Amanhã te ligo.
- Tá bem, meu amor. Te adoro, viu?
Lucila desligou. Ainda não conseguia fazer declarações de amor. Entrou no chuveiro e resolveu arrumar mentalmente tudo que precisava pensar. Lembrava do anel. Lembrava do atraso de Rafa e a sua justificativa de ter trabalhado no sábado. Então decidiu que desta vez iria pôr tudo em pratos limpos. Precisava saber se Rafa estava ou não falando a verdade.
Logo que saiu do banho, pegou o celular e ligou para o escritório de Rafa. Falseando a voz pediu para falar com Gabriel, o sócio de Rafa que ela odiava especialmente por ele só a chamar de Lucilda. Gabriel atendeu:
- Eu!
- Oi Gabriel, é Lucila. Tudo bem?
- Lucilda!!!!!!!!!! Olá gatona! Tudo bem? Quer falar com o varão do seu namorado?
- Não! Não precisa. Na verdade quero uma ajuda. Eu emprestei meu carro pro Rafa ir pro escritório no sábado. Ele tá todo arranhado. Não queria preocupar Rafa com isso, então pensei em ligar pro estacionamento e resolver. Eles devem ter registro dos carros, não é?
- Sábado? Ahh... bom, Lucilda eu não tenho não. Mas vou te passar pra minha “secretina” e ela te arruma isso aí, tá bem?
Lucila esperou até que a secretária arrumasse o telefone. Ficou olhando pro papel. Sabia que se Rafa tivesse mentido, ela teria que tomar uma atitude. Ligou pro estacionamento e deu os dados do carro de Rafa. Não havia registro do carro no sábado. Lucila se apegou na idéia de que Rafa poderia ter ido sem o carro. Sabia que isso era praticamente impossível, mas precisava ter essa esperança. Perguntaria pra ele assim que voltasse.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
CAPÍTULO 38
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terça-feira, 26 de maio de 2009
CAPÍTULO 37
Apesar da ansiedade em encontrar Marcelo Zacaro, Juca estava preocupado. Não entendia o que estava acontecendo consigo, mas sentia algo parecido com ciúmes e talvez por isso não quisesse que Marcelo aparecesse.
Juca e o agente da PF estavam sentados no escritório da Polícia Especial de Miami. O agente fazia ligações, acessava o computador, falava num inglês precário pelo rádio. Juca apenas observava. Não tinha muito o que fazer, a não ser esperar. Sempre que tinha autorização ia até a cela de Bruna. Eles conversavam, normalmente sobre o processo. Mas nunca tinham muito tempo. O permitido era no máximo vinte minutos.
Enquanto observava toda a agitação do lugar, notou um entusiasmo exacerbado do agente brasileiro, que imediatamente correu até Juca e disse:
- Pegamos o filho da puta!
Juca não comemorou. Estava com todos aqueles sentimentos confusos. Apenas sorriu e bateu nas costas do policial, o cumprimentado pela vitória. Logo depois perguntou:
- Posso contar à Bruna?
O agente quase se ofendeu:
- Não! Aliás, ninguém fala com a garota até segunda ordem!
O agente saiu e passou a orientação para os demais. Bruna ficaria um tempo sem receber visitas. A sua idéia era confrontá-los em testemunho, pois ao contrário de Juca, o agente desconfiava da inocência de Bruna.
Horas depois, Juca ainda esperava o retorno da equipe. Mas já tinha sido avisado que também não teria acesso à Marcelo. Então, resolveu sair da delegacia. Foi caminhando até o hotel, pediu indicação de um barbeiro e cortou os cabelos que estavam em total descuido. Fez a barba, comprou um casaco novo e de banho tomado, o vestiu. De novo parecia o antigo Juca: alinhado, charmoso, um gentleman.
Ao invés de voltar para delegacia, apenas ligou para saber se poderia ser útil. Não seria. Apenas o advogado de Bruna poderia participar das averiguações. Diante disso, saiu novamente do hotel afim de procurar um bom restaurante para comer. Assim que saiu do hotel foi interceptado por Antônio Carlos, seu antigo funcionário que junto com Dra. Joana se tornaram cúmplices de Marcelo e Waldemar Zacaro no esquema dos hospitais. Juca se assustou quando viu Antônio Carlos:
- Juca? Me desculpe, não queria te assustar.
- Mas assustou. O que você está fazendo aqui seu filho da mãe! ? – alterado, ficou vermelho e parecia querer agredir Antônio Carlos. Este, deu passou para trás e disse nitidamente apavorado:
- Desculpa! Me desculpe! Eu vim aqui para falar com você. Preciso da sua ajuda!
Juca riu debochado.
- Da minha ajuda? E porque você acha que eu iria ajudá-lo? Você é um desgraçado e por causa da sua ambição, acabou com a minha vida!
- Eu sei! Mas por favor, me escute! Eu vou me entregar! Eu conto tudo o que precisarem! Mas preciso de proteção.
- Proteção?
Antônio Carlos claramente tinha entrado no esquema de gaiato. Era óbvia a sua não vocação para este tipo de golpe. Era medroso, covarde e agora se parecia com uma criança assuntada. Gaguejando e olhando para os lados como se precisasse se certificar de que não era seguido, falou:
- Marcelo contratou um homem para nos matar. Ele matou Joana! Ela está morta. Morta!
Juca entendendo a gravidade da situação, o fez entrar no hotel. Subiram para o quarto. Juca lhe deu copo d’água e pediu para que ele se acalmasse. Depois falou:
- Agora me conta tudo desde o começo.
Antônio Carlos contou que quando o esquema fora descoberto e Waldemar preso, ele e Joana não conseguiam mais contato com Marcelo. Depois de um tempo foragidos, conseguiram localizar Marcelo em Miami. Ele também contou do acordo que os três fizeram e sobre o pedido de Marcelo para que eles saíssem de Miami e enviassem seus novos endereços para uma caixa postal. Dias depois do envio do endereço, Joana e Antônio Carlos tiveram a impressão de estarem sendo seguidos. Estavam certos. Um dia pela manhã, diferente de sua rotina habitual, Antonio Carlos acordou antes de Joana e resolveu ir até a padaria. Foi a sua sorte, pois quando voltou Joana já estava morta e seu assassino o esperava. Mas Antonio conseguiu fugir.
Juca ouvia tudo apavorado. Pensava em Bruna e que talvez ele tivesse sido agressivo com ela. Mas conseguiu retomar seu foco para o problema principal: o que fazer com Antônio Carlos? Tentou ligar para o agente da PF, mas não conseguiu falar. Ele deveria estar na apreensão de Marcelo. Juca então, decidiu que Antônio passaria a noite no hotel com ele. No dia seguinte ele mesmo o levaria para a delegacia.
Antônio estava tão cansado que depois do banho e de vestir as roupas emprestadas por Juca, desmaiou na cama. Arrependimento era mais do que uma palavra para descrever aquele homem que agora tinha medo da morte.
No dia seguinte, logo cedo, Juca contou ao agente o que havia acontecido. Foram para a delegacia. Antônio iria depor também. Mas desta vez, Juca não providenciaria nenhum advogado. Enquanto explicava isso ao agente, Marcelo entrou algemado e escoltado por dois policiais. Ele passou pelo corredor lateral da sala onde Juca estava. Cabeça erguida, andar imponente, nem parecia estar sendo preso.
Ele e Juca trocaram olhares e Marcelo ainda teve a empáfia de cumprimentá-lo com um balançar de cabeça. Juca se controlou para não voar em cima dele.
Logo depois, Juca voltou ao hotel a pedido do agente , que prometia ter respostas sobre a deportação dos três em poucos dias.
Juca e o agente da PF estavam sentados no escritório da Polícia Especial de Miami. O agente fazia ligações, acessava o computador, falava num inglês precário pelo rádio. Juca apenas observava. Não tinha muito o que fazer, a não ser esperar. Sempre que tinha autorização ia até a cela de Bruna. Eles conversavam, normalmente sobre o processo. Mas nunca tinham muito tempo. O permitido era no máximo vinte minutos.
Enquanto observava toda a agitação do lugar, notou um entusiasmo exacerbado do agente brasileiro, que imediatamente correu até Juca e disse:
- Pegamos o filho da puta!
Juca não comemorou. Estava com todos aqueles sentimentos confusos. Apenas sorriu e bateu nas costas do policial, o cumprimentado pela vitória. Logo depois perguntou:
- Posso contar à Bruna?
O agente quase se ofendeu:
- Não! Aliás, ninguém fala com a garota até segunda ordem!
O agente saiu e passou a orientação para os demais. Bruna ficaria um tempo sem receber visitas. A sua idéia era confrontá-los em testemunho, pois ao contrário de Juca, o agente desconfiava da inocência de Bruna.
Horas depois, Juca ainda esperava o retorno da equipe. Mas já tinha sido avisado que também não teria acesso à Marcelo. Então, resolveu sair da delegacia. Foi caminhando até o hotel, pediu indicação de um barbeiro e cortou os cabelos que estavam em total descuido. Fez a barba, comprou um casaco novo e de banho tomado, o vestiu. De novo parecia o antigo Juca: alinhado, charmoso, um gentleman.
Ao invés de voltar para delegacia, apenas ligou para saber se poderia ser útil. Não seria. Apenas o advogado de Bruna poderia participar das averiguações. Diante disso, saiu novamente do hotel afim de procurar um bom restaurante para comer. Assim que saiu do hotel foi interceptado por Antônio Carlos, seu antigo funcionário que junto com Dra. Joana se tornaram cúmplices de Marcelo e Waldemar Zacaro no esquema dos hospitais. Juca se assustou quando viu Antônio Carlos:
- Juca? Me desculpe, não queria te assustar.
- Mas assustou. O que você está fazendo aqui seu filho da mãe! ? – alterado, ficou vermelho e parecia querer agredir Antônio Carlos. Este, deu passou para trás e disse nitidamente apavorado:
- Desculpa! Me desculpe! Eu vim aqui para falar com você. Preciso da sua ajuda!
Juca riu debochado.
- Da minha ajuda? E porque você acha que eu iria ajudá-lo? Você é um desgraçado e por causa da sua ambição, acabou com a minha vida!
- Eu sei! Mas por favor, me escute! Eu vou me entregar! Eu conto tudo o que precisarem! Mas preciso de proteção.
- Proteção?
Antônio Carlos claramente tinha entrado no esquema de gaiato. Era óbvia a sua não vocação para este tipo de golpe. Era medroso, covarde e agora se parecia com uma criança assuntada. Gaguejando e olhando para os lados como se precisasse se certificar de que não era seguido, falou:
- Marcelo contratou um homem para nos matar. Ele matou Joana! Ela está morta. Morta!
Juca entendendo a gravidade da situação, o fez entrar no hotel. Subiram para o quarto. Juca lhe deu copo d’água e pediu para que ele se acalmasse. Depois falou:
- Agora me conta tudo desde o começo.
Antônio Carlos contou que quando o esquema fora descoberto e Waldemar preso, ele e Joana não conseguiam mais contato com Marcelo. Depois de um tempo foragidos, conseguiram localizar Marcelo em Miami. Ele também contou do acordo que os três fizeram e sobre o pedido de Marcelo para que eles saíssem de Miami e enviassem seus novos endereços para uma caixa postal. Dias depois do envio do endereço, Joana e Antônio Carlos tiveram a impressão de estarem sendo seguidos. Estavam certos. Um dia pela manhã, diferente de sua rotina habitual, Antonio Carlos acordou antes de Joana e resolveu ir até a padaria. Foi a sua sorte, pois quando voltou Joana já estava morta e seu assassino o esperava. Mas Antonio conseguiu fugir.
Juca ouvia tudo apavorado. Pensava em Bruna e que talvez ele tivesse sido agressivo com ela. Mas conseguiu retomar seu foco para o problema principal: o que fazer com Antônio Carlos? Tentou ligar para o agente da PF, mas não conseguiu falar. Ele deveria estar na apreensão de Marcelo. Juca então, decidiu que Antônio passaria a noite no hotel com ele. No dia seguinte ele mesmo o levaria para a delegacia.
Antônio estava tão cansado que depois do banho e de vestir as roupas emprestadas por Juca, desmaiou na cama. Arrependimento era mais do que uma palavra para descrever aquele homem que agora tinha medo da morte.
No dia seguinte, logo cedo, Juca contou ao agente o que havia acontecido. Foram para a delegacia. Antônio iria depor também. Mas desta vez, Juca não providenciaria nenhum advogado. Enquanto explicava isso ao agente, Marcelo entrou algemado e escoltado por dois policiais. Ele passou pelo corredor lateral da sala onde Juca estava. Cabeça erguida, andar imponente, nem parecia estar sendo preso.
Ele e Juca trocaram olhares e Marcelo ainda teve a empáfia de cumprimentá-lo com um balançar de cabeça. Juca se controlou para não voar em cima dele.
Logo depois, Juca voltou ao hotel a pedido do agente , que prometia ter respostas sobre a deportação dos três em poucos dias.
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quinta-feira, 21 de maio de 2009
CAPÍTULO 36
Conforme prometeu, Juca contratou um advogado para cuidar do caso de Bruna. Enquanto isso, a polícia especial de Miami e o agente da PF brasileiro procuravam Marcelo Zacaro.
Seguindo a dica dada por Bruna, o próprio Juca acompanhou o agente até a marina onde o iate de Marcelo estaria. Logo que chegaram lá descobriram que Marcelo tinha zarpado há alguns dias.
Os trâmites para organizar uma busca no Brasil são inúmeros e nem sempre se consegue o que se quer. Isso não acontecia em Miami. Foi só informar o acontecido que a guarda costeira de Miami foi acionada.
Bruna ainda estava sob custódia da polícia. Apesar de tecnicamente ser uma cela, não se parecia com uma. Pelo menos não na visão de uma brasileira. Era arejada, tinha cama confortável com lençóis limpos. Uma mesa com um abajur para leitura e um banheiro quase privativo. Bruna lia um livro que Juca havia lhe dado. Ela passava o tempo todo lendo ou dormindo. Mal comia o que lhe ofereciam. Esperava o tempo passar como se não tivesse pressa. Juca sempre que podia ia até lá. Às vezes junto com o advogado, outras não. Era o melhor momento do dia de Bruna ... e de Juca.
***************************
Lucila acordou antes de Rafa e entrou no chuveiro com a cabeça à mil. Sabia que tinha se rendido cedo demais aos encantos de Rafa. Lembrava-se de Bardot, que por causa de caprichos como este, ficou vinte anos longe do seu grande amor. Isso a deixava confiante de ter feito a coisa certa. Mas quando pensava em Ana e no que ela diria se soubesse de toda história, se arrependia.
Antes de acabar seu banho, foi surpreendida por Rafa que entrou no chuveiro para lhe dar “bom dia”. Lucila mais uma vez deixou de lado os pensamentos e de novo mergulhou na paixão que não a deixava raciocinar.
Os dois se arrumaram e Rafa a deixou no escritório. Lucila falava pouco, sentia uma espécie de culpa. Enquanto Rafa agia naturalmente, como se nada tivesse acontecido.
Ao chegar no escritório Lucila foi interceptada por sua chefe Bardot. Ela falava sem parar sobre seus planos para os pontos finais do projeto da joalheria que as duas tocavam juntas. Lucila não conseguia prestar atenção. Só reparava na vitalidade da chefe e se forçava a acreditar que era obra da felicidade de Bardot junto ao seu amor Luis Antônio.
- Lucila??? Alou??? – Bardot percebendo que a funcionária estava longe, chamou atenção de Lucila.
Lucila sem graça, não disfarçou:
- Desculpa Bardot. Estava te olhando. Você está tão cheia de energia, tão “pra cima”.
Antes de chegar onde queria, Lucila foi interrompida por Bardot que disse:
- Em momentos de pesadelo emocional, só o trabalho me salva.
Lucila não esperava esta resposta. Ao contrário, esperava ter uma motivação, um embasamento para continuar acreditando em Rafa. Precisava de uma força, um exemplo que assegurasse de que ela não estava errada.
Nesse momento a energia de Bardot desapareceu. Ela se sentou no canto da mesa e falou baixo para Lucila:
- Acabou, Lucila. Eu e Luiz. Acabou. Mas desta vez não vou me arrepender por não ter tentado, não é? Eu tentei, acreditei que ele tinha mudado, tinha amadurecido. Mas me enganei.
Lucila quase chorou. Vendo seu desespero, Bardot se apressou em dizer:
- Lucila! Calma! Cada caso é um caso. Não é uma regra. Você não pode se basear no fracasso da minha relação. Viva a sua vida.
Lucila sorriu, mas não foi o suficiente para se sentir confortada. Precisava de mais. Precisava de certezas que não tinha. Bardot pensando em desviar o assunto falou:
- Vamos trabalhar? Pegue suas plantas e vamos, ok?
Mesmo meio perdida em seus pensamentos, Lucila tentou se concentrar e acompanhou Bardot. Os clientes já a aguardavam na sala de reunião e estavam ansiosos pelas criações de Bardot.
A reunião foi um sucesso, apesar as total dispersão de Lucila. Os clientes ficaram satisfeitos e um novo projeto foi encomendado. Era um pedido especial do dono da joalheria: a sua casa da serra. Bardot não pegava mais este tipo de projeto, mas era sem dúvida um caso especial. Lucila ficaria responsável pelo projeto junto com o engenheiro que construiu a casa. Logo depois da reunião já marcaram de irem juntos ver o imóvel.
Lucila estava agradecida por ficar uns dias fora neste projeto. E Bardot sabia disso. De alguma maneira ela se sentia responsável por encorajar Lucila na relação com o ex namorado, e percebia que as coisas não iam tão bem.
Logo que voltou pra sua mesa, Rafa ligou. Lucila foi seca, estava estranha. Sabia que em algum momento teria que confrontar Rafa a respeito da cena do anel, que ele fingia não ter existido. Falaram rapidamente e Lucila contou que passaria dois dias fora e que hoje não o poderia vê-lo, pois teria que providenciar as coisas para a viagem.
Rafa sabia que era uma desculpa, mas também conhecia muito bem Lucila e sua esperança é que com o tempo ela voltasse ao normal.
Ao final do dia, Lucila passou na farmácia e comprou algumas coisas que precisaria para sua viagem. A casa do dono da joalheria ficava em Araras, na serra do Rio. Pelo que tinha combinado com Carlos Eduardo, o engenheiro, eles ficariam uns dois dias pelo menos e se hospedariam em uma pousada próxima à casa.
Depois de duas horas tentando fazer uma mala pelo menos razoável. Lucila desmaiou de cansaço. Estava exausta emocionalmente.
Conforme combinado, no dia seguinte às 8h da manhã o tal Carlos Eduardo estava em sua portaria. Lucila desceu e se apresentaram. Carlos Eduardo não era feio, mas estava longe de ser bonito. Com certeza era solteiro, pois sua camisa xadrez nada tinha a ver com sua calça meio cargo, de uma cor indefinida, provavelmente desbotada pelo tempo. Os cabelos meio compridos e totalmente desalinhados ainda reforçavam ainda mais sua imagem “casual”, quase “hippie”
A viagem era curta, cerca de uma hora e meia, mas parecia uma eternidade. Carlos Eduardo era uma das pessoas mais chatas que Lucila já havia conhecido. Queria ser engraçado, simpático em excesso. Aquela hora da manhã falava sem parar, enquanto Lucila só queria sossego.
Lucila só pensava que teria que agüentar aquela mala ainda mais dois dias. Ele e suas piadas e trocadilhos infames. Mas tudo bem, ela precisava ficar longe de Rafa. Mesmo que ele não saísse da sua cabeça.
Seguindo a dica dada por Bruna, o próprio Juca acompanhou o agente até a marina onde o iate de Marcelo estaria. Logo que chegaram lá descobriram que Marcelo tinha zarpado há alguns dias.
Os trâmites para organizar uma busca no Brasil são inúmeros e nem sempre se consegue o que se quer. Isso não acontecia em Miami. Foi só informar o acontecido que a guarda costeira de Miami foi acionada.
Bruna ainda estava sob custódia da polícia. Apesar de tecnicamente ser uma cela, não se parecia com uma. Pelo menos não na visão de uma brasileira. Era arejada, tinha cama confortável com lençóis limpos. Uma mesa com um abajur para leitura e um banheiro quase privativo. Bruna lia um livro que Juca havia lhe dado. Ela passava o tempo todo lendo ou dormindo. Mal comia o que lhe ofereciam. Esperava o tempo passar como se não tivesse pressa. Juca sempre que podia ia até lá. Às vezes junto com o advogado, outras não. Era o melhor momento do dia de Bruna ... e de Juca.
***************************
Lucila acordou antes de Rafa e entrou no chuveiro com a cabeça à mil. Sabia que tinha se rendido cedo demais aos encantos de Rafa. Lembrava-se de Bardot, que por causa de caprichos como este, ficou vinte anos longe do seu grande amor. Isso a deixava confiante de ter feito a coisa certa. Mas quando pensava em Ana e no que ela diria se soubesse de toda história, se arrependia.
Antes de acabar seu banho, foi surpreendida por Rafa que entrou no chuveiro para lhe dar “bom dia”. Lucila mais uma vez deixou de lado os pensamentos e de novo mergulhou na paixão que não a deixava raciocinar.
Os dois se arrumaram e Rafa a deixou no escritório. Lucila falava pouco, sentia uma espécie de culpa. Enquanto Rafa agia naturalmente, como se nada tivesse acontecido.
Ao chegar no escritório Lucila foi interceptada por sua chefe Bardot. Ela falava sem parar sobre seus planos para os pontos finais do projeto da joalheria que as duas tocavam juntas. Lucila não conseguia prestar atenção. Só reparava na vitalidade da chefe e se forçava a acreditar que era obra da felicidade de Bardot junto ao seu amor Luis Antônio.
- Lucila??? Alou??? – Bardot percebendo que a funcionária estava longe, chamou atenção de Lucila.
Lucila sem graça, não disfarçou:
- Desculpa Bardot. Estava te olhando. Você está tão cheia de energia, tão “pra cima”.
Antes de chegar onde queria, Lucila foi interrompida por Bardot que disse:
- Em momentos de pesadelo emocional, só o trabalho me salva.
Lucila não esperava esta resposta. Ao contrário, esperava ter uma motivação, um embasamento para continuar acreditando em Rafa. Precisava de uma força, um exemplo que assegurasse de que ela não estava errada.
Nesse momento a energia de Bardot desapareceu. Ela se sentou no canto da mesa e falou baixo para Lucila:
- Acabou, Lucila. Eu e Luiz. Acabou. Mas desta vez não vou me arrepender por não ter tentado, não é? Eu tentei, acreditei que ele tinha mudado, tinha amadurecido. Mas me enganei.
Lucila quase chorou. Vendo seu desespero, Bardot se apressou em dizer:
- Lucila! Calma! Cada caso é um caso. Não é uma regra. Você não pode se basear no fracasso da minha relação. Viva a sua vida.
Lucila sorriu, mas não foi o suficiente para se sentir confortada. Precisava de mais. Precisava de certezas que não tinha. Bardot pensando em desviar o assunto falou:
- Vamos trabalhar? Pegue suas plantas e vamos, ok?
Mesmo meio perdida em seus pensamentos, Lucila tentou se concentrar e acompanhou Bardot. Os clientes já a aguardavam na sala de reunião e estavam ansiosos pelas criações de Bardot.
A reunião foi um sucesso, apesar as total dispersão de Lucila. Os clientes ficaram satisfeitos e um novo projeto foi encomendado. Era um pedido especial do dono da joalheria: a sua casa da serra. Bardot não pegava mais este tipo de projeto, mas era sem dúvida um caso especial. Lucila ficaria responsável pelo projeto junto com o engenheiro que construiu a casa. Logo depois da reunião já marcaram de irem juntos ver o imóvel.
Lucila estava agradecida por ficar uns dias fora neste projeto. E Bardot sabia disso. De alguma maneira ela se sentia responsável por encorajar Lucila na relação com o ex namorado, e percebia que as coisas não iam tão bem.
Logo que voltou pra sua mesa, Rafa ligou. Lucila foi seca, estava estranha. Sabia que em algum momento teria que confrontar Rafa a respeito da cena do anel, que ele fingia não ter existido. Falaram rapidamente e Lucila contou que passaria dois dias fora e que hoje não o poderia vê-lo, pois teria que providenciar as coisas para a viagem.
Rafa sabia que era uma desculpa, mas também conhecia muito bem Lucila e sua esperança é que com o tempo ela voltasse ao normal.
Ao final do dia, Lucila passou na farmácia e comprou algumas coisas que precisaria para sua viagem. A casa do dono da joalheria ficava em Araras, na serra do Rio. Pelo que tinha combinado com Carlos Eduardo, o engenheiro, eles ficariam uns dois dias pelo menos e se hospedariam em uma pousada próxima à casa.
Depois de duas horas tentando fazer uma mala pelo menos razoável. Lucila desmaiou de cansaço. Estava exausta emocionalmente.
Conforme combinado, no dia seguinte às 8h da manhã o tal Carlos Eduardo estava em sua portaria. Lucila desceu e se apresentaram. Carlos Eduardo não era feio, mas estava longe de ser bonito. Com certeza era solteiro, pois sua camisa xadrez nada tinha a ver com sua calça meio cargo, de uma cor indefinida, provavelmente desbotada pelo tempo. Os cabelos meio compridos e totalmente desalinhados ainda reforçavam ainda mais sua imagem “casual”, quase “hippie”
A viagem era curta, cerca de uma hora e meia, mas parecia uma eternidade. Carlos Eduardo era uma das pessoas mais chatas que Lucila já havia conhecido. Queria ser engraçado, simpático em excesso. Aquela hora da manhã falava sem parar, enquanto Lucila só queria sossego.
Lucila só pensava que teria que agüentar aquela mala ainda mais dois dias. Ele e suas piadas e trocadilhos infames. Mas tudo bem, ela precisava ficar longe de Rafa. Mesmo que ele não saísse da sua cabeça.
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terça-feira, 19 de maio de 2009
CAPÍTULO 35
Lucila acordou e Rafa não estava na cama. Sentiu um alívio. Olhou em volta, foi até a sala e nada. Voltou para o quarto e viu que havia um bilhete no espelho:
Meu amor,
tive uma urgência no escritório. Deixei café pronto.
Te amo,
Rafa.
Lucila riu debochado. Mesmo assim achou melhor não ter que se encontrar com Rafa. Estava mal humorada e acordou sem a menor vontade de olhar pra cara do namorado. Beliscou alguma coisa na cozinha, se vestiu e foi embora. Precisava relaxar. No caminho, ligou para Carla que estava saindo da praia e indo para o Bracarense. – “Perfeito” – pensou Lucila. Passou em casa tirou o vestido de festa e foi se encontrar com Carla.
Carla estava numa mesa com Flávio e Tadeu. Marcos já tinha ido embora se encontrar com seu novo casinho. Além deles, estava também uma amiga de Carla que tinha acabado de se separar .
Lucila chegou sorrindo. Nem parecia que na noite anterior tinha achado um anel de mulher no banheiro do seu namorado. Mas ela era assim. Quanto mais chateada com um assunto, menos se prendia a ele. Pelo menos nos primeiros momentos. Agora ela só queria se divertir um pouco e quem sabe, deixar Rafa um pouco preocupado com um leve sumiço de sua namorada.
Então se sentou e logo pediu um chope. Não comentou nada sobre Rafa, apesar de perguntarem sobre ele. Apenas explicou que ele tinha ido trabalhar em pleno domingo. Falou sobre o casamento, omitindo a parte de que quase foi daminha de honra. Logo começou a ouvir a história da amiga de Carla, que como toda mulher que acaba de se separar, quer contar toooooda história para toooodo mundo.
Lucila sempre adorou ouvir e se meter na vida dos outros. Não tinha problemas em aconselhar sobre qualquer assunto. Na verdade, ela também era assim com a própria vida. Hoje, não comentou os acontecimentos pois nem ela mesma queria ouvir sobre o assunto. Mas sabia que quando superasse isso, a história seria contata para todos seus amigos, em tom de piada, rindo da própria situação. Esse era o jeito de Lucila. Assim, ela sempre tentava disfarçar os medos e seus pontos fracos. Rafa era um ponto fraco. Ele resistia ao tempo, ao temperamento vulnerável de Lucila e a sua inconstância geminiana. Ela continuava louca por ele.
Mais um chope e mais uma ligação de Rafa. Lucila tentava disfarçar que não estava atendendo ao namorado, mas era em vão. Todo viam a cara de satisfação a cada olhada no celular. Era como comemora um gol em torcida adversária – discreto, mas possível de perceber.
Depois de muito papo e muito conselho pra amiga de Carla, que a essas alturas acreditava que a vida de solteira era a mais divina da face da terra, Tadeu falou para Lucila:
- Então Lú, agora que só estamos nós, conta o que aconteceu com Rafa?
Lucila se fez de desentendida. Estava determinada a não assumir o possível fracasso do seu namoro. Não queria passar por aquilo mais um vez. Não merecia aquilo. Queria um tempo. Agora o álcool suavizava o peso do que tinha acontecido. Ela não queria pensar nisso agora. Dissimulada respondeu:
- Tudo bem, nem eu me entendo direito, Tadeu. Eu só sei que to adorando ficar sozinha hoje com meus amigos. Eu tava com saudade de vocês!
Todos se abraçaram desviando do assunto. Era o que Lucila esperava. Rafa já tinha deixado três recados e enviado dois sms. Lucila havia decidido não responder. Pelo menos até a noite não responderia. Também não o veria naquele domingo.
O chope se transformou em sono e com o tempo, todos começaram a se calar. Já eram quase dez horas da noite e eles tinham passado a tarde bebendo, comendo e papeando. Lucila amava esse tipo de programa, principalmente quando era precedido de uma prainha. Hoje, como havia acordado tarde, não conseguiu chegar a tempo pra praia, mas conseguiu o que queria: esvaziar sua cabeça.
Pediram a conta e Lucila foi pra casa. No caminho, mais um recado. Não ia responder agora, somente quando já estivesse em casa.
Embicou o carro na garagem e Rafa estava na porta. Com a cara fechada, encostado na grade. Quando Lucila parou, ele andou até o carro. Se abaixou e disse:
- Está tudo bem?
Lucila respondeu que sim. Não sabia muito como agir, não esperava em vê-lo. Rafa então falou:
- Era isso que eu queria saber. Se está tudo bem, fico mais tranqüilo. Boa noite, meu amor.
Ele deu um beijo estalado e saiu em direção a seu carro. Lucila não acreditou. Como ele não ia nem perguntar onde ela estava? Não agüentou e saltou do carro e fez sinal para que ele esperasse. Insatisfeita com a completa falta de ciúmes do namorado, falou:
- Está tudo bem sim, Rafa. Aliás está tudo ótimo. Eu não te atendi por que eu não quis! Entendeu? Eu não quis! Eu estava me divertindo e não queria falar com você. Está claro agora?
Rafa sorriu de leve como se achasse engraçado o desabafo da namorada meio bebunzinha. Ajeitou a alça do sutiã dela que aparecia sobre a blusa de Lucila e com uma voz carinhosa disse:
- Entendi, meu amor. Por isso que vou pra casa. Não é por que eu queira. Mas eu tenho que respeitar seu espaço.
Deu um beijo na testa de Lucila e entrou no carro, antes de arrancar prometeu ligar no dia seguinte. Lucila ficou parada vendo o carro se afastar. Estava ainda mais irritada! Que compreensão toda era essa? E o ciúme? E a insegurança? Rafa não tinha estes sentimentos? Era só ela que era atormentada por eles?
Ainda irritada subiu pro apartamento. O sono tranqüilo que achava que teria, foi embora. Lucila não agüentou mais do que trinta minutos. Ligou pra Rafa e pediu para que ele voltasse. Ele respondeu:
- Estou chegando, meu amor. E estou levando o jantar.
Rafa chegou com uma pizza. Lucila não se deu conta, mas pelo tempo e a temperatura da pizza, ele tinha certeza de que Lucila ligaria e provavelmente já havia encomendado a refeição antes mesmo dela ligar.
O constrangimento durou muito pouco. Rafa sabia exatamente como acabar com esse tipo de situação. E foi do seu modo mais “Rafa” de ser, que ele fez Lucila esquecer todos os “poréns” que a atormentavam horas antes. Os dois dormiram abraçadinhos depois de saborear uma pizza...já fria.
Meu amor,
tive uma urgência no escritório. Deixei café pronto.
Te amo,
Rafa.
Lucila riu debochado. Mesmo assim achou melhor não ter que se encontrar com Rafa. Estava mal humorada e acordou sem a menor vontade de olhar pra cara do namorado. Beliscou alguma coisa na cozinha, se vestiu e foi embora. Precisava relaxar. No caminho, ligou para Carla que estava saindo da praia e indo para o Bracarense. – “Perfeito” – pensou Lucila. Passou em casa tirou o vestido de festa e foi se encontrar com Carla.
Carla estava numa mesa com Flávio e Tadeu. Marcos já tinha ido embora se encontrar com seu novo casinho. Além deles, estava também uma amiga de Carla que tinha acabado de se separar .
Lucila chegou sorrindo. Nem parecia que na noite anterior tinha achado um anel de mulher no banheiro do seu namorado. Mas ela era assim. Quanto mais chateada com um assunto, menos se prendia a ele. Pelo menos nos primeiros momentos. Agora ela só queria se divertir um pouco e quem sabe, deixar Rafa um pouco preocupado com um leve sumiço de sua namorada.
Então se sentou e logo pediu um chope. Não comentou nada sobre Rafa, apesar de perguntarem sobre ele. Apenas explicou que ele tinha ido trabalhar em pleno domingo. Falou sobre o casamento, omitindo a parte de que quase foi daminha de honra. Logo começou a ouvir a história da amiga de Carla, que como toda mulher que acaba de se separar, quer contar toooooda história para toooodo mundo.
Lucila sempre adorou ouvir e se meter na vida dos outros. Não tinha problemas em aconselhar sobre qualquer assunto. Na verdade, ela também era assim com a própria vida. Hoje, não comentou os acontecimentos pois nem ela mesma queria ouvir sobre o assunto. Mas sabia que quando superasse isso, a história seria contata para todos seus amigos, em tom de piada, rindo da própria situação. Esse era o jeito de Lucila. Assim, ela sempre tentava disfarçar os medos e seus pontos fracos. Rafa era um ponto fraco. Ele resistia ao tempo, ao temperamento vulnerável de Lucila e a sua inconstância geminiana. Ela continuava louca por ele.
Mais um chope e mais uma ligação de Rafa. Lucila tentava disfarçar que não estava atendendo ao namorado, mas era em vão. Todo viam a cara de satisfação a cada olhada no celular. Era como comemora um gol em torcida adversária – discreto, mas possível de perceber.
Depois de muito papo e muito conselho pra amiga de Carla, que a essas alturas acreditava que a vida de solteira era a mais divina da face da terra, Tadeu falou para Lucila:
- Então Lú, agora que só estamos nós, conta o que aconteceu com Rafa?
Lucila se fez de desentendida. Estava determinada a não assumir o possível fracasso do seu namoro. Não queria passar por aquilo mais um vez. Não merecia aquilo. Queria um tempo. Agora o álcool suavizava o peso do que tinha acontecido. Ela não queria pensar nisso agora. Dissimulada respondeu:
- Tudo bem, nem eu me entendo direito, Tadeu. Eu só sei que to adorando ficar sozinha hoje com meus amigos. Eu tava com saudade de vocês!
Todos se abraçaram desviando do assunto. Era o que Lucila esperava. Rafa já tinha deixado três recados e enviado dois sms. Lucila havia decidido não responder. Pelo menos até a noite não responderia. Também não o veria naquele domingo.
O chope se transformou em sono e com o tempo, todos começaram a se calar. Já eram quase dez horas da noite e eles tinham passado a tarde bebendo, comendo e papeando. Lucila amava esse tipo de programa, principalmente quando era precedido de uma prainha. Hoje, como havia acordado tarde, não conseguiu chegar a tempo pra praia, mas conseguiu o que queria: esvaziar sua cabeça.
Pediram a conta e Lucila foi pra casa. No caminho, mais um recado. Não ia responder agora, somente quando já estivesse em casa.
Embicou o carro na garagem e Rafa estava na porta. Com a cara fechada, encostado na grade. Quando Lucila parou, ele andou até o carro. Se abaixou e disse:
- Está tudo bem?
Lucila respondeu que sim. Não sabia muito como agir, não esperava em vê-lo. Rafa então falou:
- Era isso que eu queria saber. Se está tudo bem, fico mais tranqüilo. Boa noite, meu amor.
Ele deu um beijo estalado e saiu em direção a seu carro. Lucila não acreditou. Como ele não ia nem perguntar onde ela estava? Não agüentou e saltou do carro e fez sinal para que ele esperasse. Insatisfeita com a completa falta de ciúmes do namorado, falou:
- Está tudo bem sim, Rafa. Aliás está tudo ótimo. Eu não te atendi por que eu não quis! Entendeu? Eu não quis! Eu estava me divertindo e não queria falar com você. Está claro agora?
Rafa sorriu de leve como se achasse engraçado o desabafo da namorada meio bebunzinha. Ajeitou a alça do sutiã dela que aparecia sobre a blusa de Lucila e com uma voz carinhosa disse:
- Entendi, meu amor. Por isso que vou pra casa. Não é por que eu queira. Mas eu tenho que respeitar seu espaço.
Deu um beijo na testa de Lucila e entrou no carro, antes de arrancar prometeu ligar no dia seguinte. Lucila ficou parada vendo o carro se afastar. Estava ainda mais irritada! Que compreensão toda era essa? E o ciúme? E a insegurança? Rafa não tinha estes sentimentos? Era só ela que era atormentada por eles?
Ainda irritada subiu pro apartamento. O sono tranqüilo que achava que teria, foi embora. Lucila não agüentou mais do que trinta minutos. Ligou pra Rafa e pediu para que ele voltasse. Ele respondeu:
- Estou chegando, meu amor. E estou levando o jantar.
Rafa chegou com uma pizza. Lucila não se deu conta, mas pelo tempo e a temperatura da pizza, ele tinha certeza de que Lucila ligaria e provavelmente já havia encomendado a refeição antes mesmo dela ligar.
O constrangimento durou muito pouco. Rafa sabia exatamente como acabar com esse tipo de situação. E foi do seu modo mais “Rafa” de ser, que ele fez Lucila esquecer todos os “poréns” que a atormentavam horas antes. Os dois dormiram abraçadinhos depois de saborear uma pizza...já fria.
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sexta-feira, 15 de maio de 2009
CAPÍTULO 34
Consuelo voltou dias depois para visitar Bruna, mas ela já não estava mais no hospital. Segundo o rapaz que alternava o turno com seu primo Ramirez, ela tinha tido alta e tinha sido levada por um carro da polícia. Consuelo assustada perguntou:
- Imigração?
O rapaz respondeu que não. Era um carro da polícia especial de Miami. Nem ele sabia dizer o nome da unidade.
Diante disso Consuelo não sabia o que fazer. Sendo ilegal no país não poderia procurar a patroa nas delegacias de Miami, muito menos nessa tal de polícia especial. Então, fez o que sempre fazia quando precisava de ajuda: rezou.
Bruna não parecia preocupada com seu destino. Ao contrário, sua apatia dava um ar de desdém a tudo que acontecia a sua volta. Chegou na delegacia acompanhada por dois indivíduos bem vestidos, de terno. Não pareceriam policiais se não fosse pelos distintivos pendurados no pescoço e as armas encaixadas numa espécie de coldre sobre o peito. Apesar do silêncio absoluto no carro, eles foram gentis todo o tempo. Assim que chegaram, um deles abriu a porta e ofereceu ajuda para que Bruna saísse do carro. A apoiou até a entrada e por todo percurso nos corredores do prédio. Parecia uma cena de um filme policial americano. Todos aqueles homens com seus copos de café, falando alto, às vezes rindo. Poucos sentados em suas mesas, a maioria de pé discutindo alguma coisa. Bruna chamou atenção do grupo quando entrou. Apesar do seu abatimento, era uma mulher bonita, que se destacava especialmente em um ambiente tão masculino quanto aquele.
O policial abriu a porta de uma sala onde havia uma mesa e duas cadeiras. Era ladeada por uma grande janela de espelho e apenas um bebedor. Bruna se sentou ali e recusou a água ou o café oferecidos. Havia passado alguns dias no hospital e já não ligava em não comer. Comia obrigada pelas enfermeiras, que diante da sua recusa intensificaram o mix de vitaminas. Não sentia nada na verdade. Nenhuma vontade, fome ou sono. Queria somente saber de Marcelo. Mas até isso ela já não queria tanto. Tinha medo de saber a verdade e talvez a ausência de pensamentos que se forçava a ter, a confortassem mais.
Bruna ficou um bom tempo sozinha na sala. Aguardando conforme o pedido do policial. Não sabia direito o que aconteceria com ela. Não se importava. De repente a porta da sala abriu. Era uma pequena fresta por onde entrou o outro policial. Ele era um homem mais velho, com um ar mais impaciente. Ele colocou a cabeça através da fresta da porta e disse em um inglês quase incompreensível:
- A senhora tem visita.
Bruna arregalou os olhos e pela primeira vez olhou para o policial. Ficou quieta observando ansiosamente o movimento da porta. Sabia que só poderia ser Marcelo. Finalmente ele viria levá-la pra casa, tirá-la daquele pesadelo.
A porta então abriu e alguém entrou. Bruna chegou a sorrir, era como se tivesse ensaiado mentalmente um sorriso para quando Marcelo viesse. Então o homem falou:
- Não achei que ficaria feliz em me ver.
Bruna caiu em si. Apesar da familiaridade daquela voz, agora bem mais áspera, não era quem ela esperava, então com um tom quase irônico respondeu:
- Juca? Talvez seja saudade. Quem sabe.
Bruna se virou de lado, olhando para a parede e deixando claro que não queria conversa com Juca. Mesmo assim, ele fechou a porta e se sentou a sua frente. Seu rosto queimava e ele sentia que suas mãos estavam trêmulas. Tinha sonhado muito com aquele momento em que poderia dizer tudo o que pensava para Bruna. Xingar, gritar e mostrar como ela o tinha feito sofrer. Apesar disso, Juca olhou para Bruna com pena. Ver seu olhar perdido no nada, a mão ainda sobre a barriga, as olheiras e o cabelo preso sem cuidado. Era nítido o quanto aquela mulher estava sofrendo. A dor de Bruna doeu em Juca. Ele não esperava sentir isso. Ao contrário pensava que sentiria um gosto de vingança em ver que ela também tinha tido o que merecia.
Bruna continuava olhando para o nada. Juca engoliu algo que poderia ser até um choro. Virou se para ela:
- Eu sinto muito. De verdade. Sinceramente não imaginava que sentiria tanto.
Bruna segurou a cabeça com as mãos. As lágrimas começaram a cair. Não queria chorar. Não queria sentir nada, mas agora sentia. Olhou para Juca e falou:
- Dói muito. Era meu filho. Meu filho! E agora? Agora acabou. O que eu vou fazer?
Juca quis abraçá-la, mas se conteve. Apenas segurou o choro. Bruna continuou:
- Minha vida mudou nos últimos meses mais do que qualquer coisa. Não sei se fiz as escolhas certas. Talvez não. Mas meu filho era uma escolha certa. Disso eu tenho certeza. E o que aconteceu com ele....
Bruna não conseguiu mais falar. Nesse momento entrou o policial mais jovem perguntando a Juca se estava tudo bem. Juca respondeu que sim e pediu lenços de papel.
Juca tinha sido avisado pela Polícia Federal que Marcelo havia sido encontrado em Miami e que Bruna estava em poder da polícia local e provavelmente seria deportada par ser julgada no Brasil. Marcelo tinha conseguido fugir, mas com avisos em todas as fronteiras, acreditavam que ele não iria muito longe. Juca não pensou duas vezes, aceitou acompanhar o agente da PF até Miami para ver de perto todo o processo. Ou melhor, para dizer poucas e boas para Bruna e Marcelo.
Mas não foi isso que aconteceu quando viu a fragilidade daquela que foi por tantos anos a mulher da sua vida. Juca havia desmontado. Sentia raiva por ter amolecido, mas não seria justo despejar em Bruna toda sua raiva num momento tão triste como este.
Os dois ainda ficaram alguns minutos sozinhos na sala, até que o agente brasileiro da PF entrou para explicar a situação em Bruna se encontrava:
- Boa tarde, Dona Bruna Andrade. Antes de mais nada gostaria de dar meus sentimentos pelo acontecido. Apesar deste momento dramático, não posso deixar de fazer meu trabalho.
Bruna suspirou, olhou para o agente e perguntou:
- O que o senhor quer de mim? É só falar. Eu respondo tudo o que o senhor quiser.
O agente olhou para Juca e continuou:
- Primeiro vamos cuidar da sua extradição. Estamos pedindo sua extradição para ser julgada no Brasil. A senhora tem direito a um advogado brasileiro para cuidar do seu caso.
Juca o interrrompeu:
- Eu cuido disso.
O agente não entendeu, mas prosseguiu:
- Dependendo da orientação do seu advogado ele pode dificultar o processo de extradição.
Bruna olhou pra Juca e disse:
- Eu quero voltar pro Brasil. Não interessa o que aconteça comigo. Eu quero voltar.
O agente sabia que talvez esta não fosse a melhor opção para Bruna, mas era de seu interesse e da sua corporação levar Bruna para o Brasil. Ainda ficou um tempo explicando alguns trâmites até que perguntou:
- Agora a senhora sabe da sua situação. Quando for julgada, existe condições que podem aliviar sua pena. Por exemplo, se nos ajudar a encontrar o Sr. Marcelo Zacaro. A senhora sabe onde ele está?
- Não.
- Se a senhora nos ajudar, isso também ajudará no seu processo. A senhora me entendeu?
- Entendi. Mas eu não sei onde ele está. E nem porque não veio saber como eu estava quando perdi nosso filho!
O agente percebeu que havia raiva naquele comentário e se aproveitou:
- A senhora me desculpe a franqueza, mas deve ser pelo mesmo motivo que ele colocou vários imóveis e bens em seu nome. Agora a senhora terá que nos explicar como conseguiu adquiri-los e não ele.
Bruna não acreditou no que ouvia. Tinha realmente assinado alguns papéis, mas nunca pensou que precisaria desconfiar de alguma coisa. O agente tentou mais uma vez:
- A senhora pensa com calma. Não existe nenhum lugar onde o Sr. Marcelo possa estar?
Bruna pensou por um tempo e teve um “estalo”:
- O barco! Vocês procuraram o barco?
- Não encontramos nenhum barco registrado em nome dele ou em seu nome.
- Não está registrado. Me lembro que Marcelo comentou que não iria registrar o iate. Ele colocou em nome de um amigo mexicano que trabalhava com ele no projeto da operadora de turismo.
O agente anotou o nome e todos os dados que Bruna sabia sobre o mexicano e saiu da sala agitado. Bruna e Juca se olharam. Por alguns instantes Bruna sentiu um arrependimento imenso. Mas depois pensou que não tinha feito tudo isso à toa, mesmo agora sendo tão difícil sentir o tamanho do amor que ela tinha por Marcelo.
Juca desviou o olhar, mesmo sem querer parar de olhar para Bruna.
- Imigração?
O rapaz respondeu que não. Era um carro da polícia especial de Miami. Nem ele sabia dizer o nome da unidade.
Diante disso Consuelo não sabia o que fazer. Sendo ilegal no país não poderia procurar a patroa nas delegacias de Miami, muito menos nessa tal de polícia especial. Então, fez o que sempre fazia quando precisava de ajuda: rezou.
Bruna não parecia preocupada com seu destino. Ao contrário, sua apatia dava um ar de desdém a tudo que acontecia a sua volta. Chegou na delegacia acompanhada por dois indivíduos bem vestidos, de terno. Não pareceriam policiais se não fosse pelos distintivos pendurados no pescoço e as armas encaixadas numa espécie de coldre sobre o peito. Apesar do silêncio absoluto no carro, eles foram gentis todo o tempo. Assim que chegaram, um deles abriu a porta e ofereceu ajuda para que Bruna saísse do carro. A apoiou até a entrada e por todo percurso nos corredores do prédio. Parecia uma cena de um filme policial americano. Todos aqueles homens com seus copos de café, falando alto, às vezes rindo. Poucos sentados em suas mesas, a maioria de pé discutindo alguma coisa. Bruna chamou atenção do grupo quando entrou. Apesar do seu abatimento, era uma mulher bonita, que se destacava especialmente em um ambiente tão masculino quanto aquele.
O policial abriu a porta de uma sala onde havia uma mesa e duas cadeiras. Era ladeada por uma grande janela de espelho e apenas um bebedor. Bruna se sentou ali e recusou a água ou o café oferecidos. Havia passado alguns dias no hospital e já não ligava em não comer. Comia obrigada pelas enfermeiras, que diante da sua recusa intensificaram o mix de vitaminas. Não sentia nada na verdade. Nenhuma vontade, fome ou sono. Queria somente saber de Marcelo. Mas até isso ela já não queria tanto. Tinha medo de saber a verdade e talvez a ausência de pensamentos que se forçava a ter, a confortassem mais.
Bruna ficou um bom tempo sozinha na sala. Aguardando conforme o pedido do policial. Não sabia direito o que aconteceria com ela. Não se importava. De repente a porta da sala abriu. Era uma pequena fresta por onde entrou o outro policial. Ele era um homem mais velho, com um ar mais impaciente. Ele colocou a cabeça através da fresta da porta e disse em um inglês quase incompreensível:
- A senhora tem visita.
Bruna arregalou os olhos e pela primeira vez olhou para o policial. Ficou quieta observando ansiosamente o movimento da porta. Sabia que só poderia ser Marcelo. Finalmente ele viria levá-la pra casa, tirá-la daquele pesadelo.
A porta então abriu e alguém entrou. Bruna chegou a sorrir, era como se tivesse ensaiado mentalmente um sorriso para quando Marcelo viesse. Então o homem falou:
- Não achei que ficaria feliz em me ver.
Bruna caiu em si. Apesar da familiaridade daquela voz, agora bem mais áspera, não era quem ela esperava, então com um tom quase irônico respondeu:
- Juca? Talvez seja saudade. Quem sabe.
Bruna se virou de lado, olhando para a parede e deixando claro que não queria conversa com Juca. Mesmo assim, ele fechou a porta e se sentou a sua frente. Seu rosto queimava e ele sentia que suas mãos estavam trêmulas. Tinha sonhado muito com aquele momento em que poderia dizer tudo o que pensava para Bruna. Xingar, gritar e mostrar como ela o tinha feito sofrer. Apesar disso, Juca olhou para Bruna com pena. Ver seu olhar perdido no nada, a mão ainda sobre a barriga, as olheiras e o cabelo preso sem cuidado. Era nítido o quanto aquela mulher estava sofrendo. A dor de Bruna doeu em Juca. Ele não esperava sentir isso. Ao contrário pensava que sentiria um gosto de vingança em ver que ela também tinha tido o que merecia.
Bruna continuava olhando para o nada. Juca engoliu algo que poderia ser até um choro. Virou se para ela:
- Eu sinto muito. De verdade. Sinceramente não imaginava que sentiria tanto.
Bruna segurou a cabeça com as mãos. As lágrimas começaram a cair. Não queria chorar. Não queria sentir nada, mas agora sentia. Olhou para Juca e falou:
- Dói muito. Era meu filho. Meu filho! E agora? Agora acabou. O que eu vou fazer?
Juca quis abraçá-la, mas se conteve. Apenas segurou o choro. Bruna continuou:
- Minha vida mudou nos últimos meses mais do que qualquer coisa. Não sei se fiz as escolhas certas. Talvez não. Mas meu filho era uma escolha certa. Disso eu tenho certeza. E o que aconteceu com ele....
Bruna não conseguiu mais falar. Nesse momento entrou o policial mais jovem perguntando a Juca se estava tudo bem. Juca respondeu que sim e pediu lenços de papel.
Juca tinha sido avisado pela Polícia Federal que Marcelo havia sido encontrado em Miami e que Bruna estava em poder da polícia local e provavelmente seria deportada par ser julgada no Brasil. Marcelo tinha conseguido fugir, mas com avisos em todas as fronteiras, acreditavam que ele não iria muito longe. Juca não pensou duas vezes, aceitou acompanhar o agente da PF até Miami para ver de perto todo o processo. Ou melhor, para dizer poucas e boas para Bruna e Marcelo.
Mas não foi isso que aconteceu quando viu a fragilidade daquela que foi por tantos anos a mulher da sua vida. Juca havia desmontado. Sentia raiva por ter amolecido, mas não seria justo despejar em Bruna toda sua raiva num momento tão triste como este.
Os dois ainda ficaram alguns minutos sozinhos na sala, até que o agente brasileiro da PF entrou para explicar a situação em Bruna se encontrava:
- Boa tarde, Dona Bruna Andrade. Antes de mais nada gostaria de dar meus sentimentos pelo acontecido. Apesar deste momento dramático, não posso deixar de fazer meu trabalho.
Bruna suspirou, olhou para o agente e perguntou:
- O que o senhor quer de mim? É só falar. Eu respondo tudo o que o senhor quiser.
O agente olhou para Juca e continuou:
- Primeiro vamos cuidar da sua extradição. Estamos pedindo sua extradição para ser julgada no Brasil. A senhora tem direito a um advogado brasileiro para cuidar do seu caso.
Juca o interrrompeu:
- Eu cuido disso.
O agente não entendeu, mas prosseguiu:
- Dependendo da orientação do seu advogado ele pode dificultar o processo de extradição.
Bruna olhou pra Juca e disse:
- Eu quero voltar pro Brasil. Não interessa o que aconteça comigo. Eu quero voltar.
O agente sabia que talvez esta não fosse a melhor opção para Bruna, mas era de seu interesse e da sua corporação levar Bruna para o Brasil. Ainda ficou um tempo explicando alguns trâmites até que perguntou:
- Agora a senhora sabe da sua situação. Quando for julgada, existe condições que podem aliviar sua pena. Por exemplo, se nos ajudar a encontrar o Sr. Marcelo Zacaro. A senhora sabe onde ele está?
- Não.
- Se a senhora nos ajudar, isso também ajudará no seu processo. A senhora me entendeu?
- Entendi. Mas eu não sei onde ele está. E nem porque não veio saber como eu estava quando perdi nosso filho!
O agente percebeu que havia raiva naquele comentário e se aproveitou:
- A senhora me desculpe a franqueza, mas deve ser pelo mesmo motivo que ele colocou vários imóveis e bens em seu nome. Agora a senhora terá que nos explicar como conseguiu adquiri-los e não ele.
Bruna não acreditou no que ouvia. Tinha realmente assinado alguns papéis, mas nunca pensou que precisaria desconfiar de alguma coisa. O agente tentou mais uma vez:
- A senhora pensa com calma. Não existe nenhum lugar onde o Sr. Marcelo possa estar?
Bruna pensou por um tempo e teve um “estalo”:
- O barco! Vocês procuraram o barco?
- Não encontramos nenhum barco registrado em nome dele ou em seu nome.
- Não está registrado. Me lembro que Marcelo comentou que não iria registrar o iate. Ele colocou em nome de um amigo mexicano que trabalhava com ele no projeto da operadora de turismo.
O agente anotou o nome e todos os dados que Bruna sabia sobre o mexicano e saiu da sala agitado. Bruna e Juca se olharam. Por alguns instantes Bruna sentiu um arrependimento imenso. Mas depois pensou que não tinha feito tudo isso à toa, mesmo agora sendo tão difícil sentir o tamanho do amor que ela tinha por Marcelo.
Juca desviou o olhar, mesmo sem querer parar de olhar para Bruna.
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terça-feira, 12 de maio de 2009
LUCILA 33 - CAPÍTULO 33
- Pode beijar a noiva.
Os noivos se beijaram. A cerimônia tinha sido emocionante. O nervosismo de André ao pé do altar, a emoção de Ana. As famílias não tiravam o sorriso no rosto, exceto quando as lágrimas de emoção não permitiam sorrir.
Apenas Lucila não havia se emocionado. Na verdade não ouviu absolutamente nada do que o padre havia dito. A tensão ainda não havia ido embora e ela não conseguia parar de pensar no que poderia ter acontecido de tão grave para que Rafa quase a transformasse em uma daminha. A raiva e a desconfiança se alternavam com o medo de estar sendo injusta. Agora finalmente a cerimônia havia acabado e ela saberia o que aconteceu.
Os cumprimentos foram demorados, na opinião de Lucila, é claro. E quando os padrinhos começaram a sair, Lucila quase corria pela igreja. Rafa tentava controlar seu ritmo, mas era quase impossível. Enfim, chegaram o lado de fora da igreja e Lucila continuou a correr, puxando Rafa até um canto. Quando ficaram a sós, ela perguntou incisiva:
- Então? O que aconteceu de tão importante?
Rafa, pegou sua mão com calma e sorrindo respondeu:
- Desculpa, meu amor. Realmente não queria te deixar tão nervosa. Mas depois te explico com calma, tá certo? – Com calma foi andando em direção ao estacionamento. Mas foi surpreendido por um grito histérico da namorada:
- Depois coisa nenhuma!!! Ou você me fala agora o que aconteceu ou nosso namoro acaba aqui e agora!
Rafa ficou assustando. Começou a suar. Sabia que não podia contar a verdade. Mas também tinha se prometido não mentir mais para Lucila. Se contasse o que houve, ela provavelmente terminaria com ele. Se não contasse também. Ele pensava rápido. Estava perturbado, não queria voltar a enganar a mulher da sua vida, mas Deus estava vendo que ele não tinha saída e seria só desta vez. Então respirou fundo, enxugou o suor da testa e respondeu:
- Eu sei que você vai ficar chateada com o que houve, mas prometi que não ia mais mentir pra você. Tive um problema com um processo e tive que ir ao escritório. Eu sei que tinha que prestar atenção no relógio, me desculpe. Mas acabei me envolvendo tanto que perdi a hora. Quando você me ligou ainda não tinha saído de lá e nem tinha pego meu fraque. Sei que estou errado, era importante pra você. Me perdoa, meu amor. Por favor, me perdoa.
Lucila ficou parada tentando analisar a expressão do namorado. Não sabia se acreditava naquela história, apesar de fazer sentido. Ela sabia que era comum que Rafa fosse chamado no escritório aos finais de semana. E sabia que ele esquecia da vida quando estava envolvido em seu trabalho. Ainda ficou um tempo avaliando a cara de Rafa, o que era em vão pois ela nunca soube identificar quando Rafa mentia ou não. Pensou em Ana, na festa de casamento. Pensou nela. Olhou pra Rafa e sentiu um arrepio. Não podia mais viver sem ele. E talvez ele também não pudesse mais viver sem ela. Enquanto divagava, Rafa se aproximou e disse quase chorando:
- Eu estraguei tudo de novo, não foi? Você não me merece, Lú. Você é mulher mais espetacular que eu conheço, não sei mais como ficar sem você. Me desculpa. Prometo não me distrair de novo e perder a hora de um compromisso nosso.
Ele a puxou e a abraçou. Um abraço forte, verdadeiro. Lucila sentia verdade naquele gesto. Olhou nos olhos dele e disse:
- Se você promete.
Rafa sorriu aliviado e lhe deu um beijo apaixonado. Então partiram para a festa.
************************************
Em Miami Consuelo, com ajuda de Ramirez, conseguiu entrar no quarto para visitar Bruna. Ela estava acordada. Absurdamente abatida, olhava para o teto. Um olhar triste e sem vida. Suas mãos seguravam sua barriga, agora oca. Consuelo achou ter visto um lágrima escorrendo. Era um cena angustiante. Ela bateu na porta e entrou dizendo:
- Com licença, Dona Bruna.
Bruna a olhou sem nenhuma expressão. Era como se ninguém tivesse entrado naquele quarto branco e frio. Consuelo se aproximou. Coração apertado. Segurou a mão da patroa e disse:
- Como a senhora está?
Bruna sacudiu os ombros. Voltou a olhar para as luzes no teto. Ficou olhando por alguns minutos. Consuelo não sabia o que dizer. De repente Bruna se virou bruscamente e olhou para Consuelo. Parecia ter acordado. Seus olhos eram quase de raiva e sua expressão assustou a empregada. Bruna perguntou:
- Cadê o Marcelo? Por que ele não veio me ver?
Consuelo engoliu o ar. Pobre coitada. Havia perdido o filho e o marido tinha sumido no mundo, sem nem se preocupar com ela. Tomando coragem, falou:
- Dona Bruna, a senhora precisa ficar calma. Tem que ficar boa logo.
Bruna gritou:
- Consuelo! Eu perguntei onde está meu marido? Eu perdi meu filho! Vou ser presa, sabia? Talvez seja deportada como uma delinqüente qualquer. E o Marcelo? Onde está o Marcelo?
O desespero tomou conta de Bruna que começou a soluçar. Um choro compulsivo. Consuelo tentou a acalmar e depois contou que havia ido até a mansão buscar suas coisas e que Marcelo não estava. Com cuidado disse que ele tinha levado algumas coisas e tentou amenizar:
- Ele deve estar preocupado com a senhora, mas deve ter seus motivos para não ter aparecido, Dona Bruna.
Bruna parou de chorar.
- Ele me deixou.
*************************************
Todos os padrinhos reunidos para a foto com os noivos. Lucila tentava disfarçar, mas ainda não estava totalmente recuperada do susto. Ana, apesar de ser só alegria, em um momento notou a tensão da amiga. Ana era assim. Nada escapava dela, era intuitiva e seu palpites sempre eram certeiros. Logo que a sessão de fotos terminou, pediu um foto com sua madrinha especial. As duas sorriram. Flash. Ana se virou para Lucila:
- O que Rafa aprontou?
Lucila primeiro se fez de desentendida, mas sabia que não convenceria Ana. Achou melhor contar a verdade, ou pelo menos parte dela:
- Ah, tivemos uma discussão, mas foi besteira minha. Está tudo bem agora.
Ana não acreditou, mas se permitiu fingir que acreditava. Hoje era seu dia. Nada poderia estragar isso.
A festa estava divina. DJ excelente, decoração de primeira. Animação na pista. Com alguma taças de prosseco até Lucila tinha esquecido o pequeno mal entendido. Rafa dançava com ela, buscava bebidas, dava-lhe toda atenção do mundo. De vez em quando roubava-lhe um beijo, sempre acompanhado da frase: - Você é a mulher mais linda da festa!
Os dois dançaram até a festa acabar. Quando só os noivos estavam no salão, já com as luzes acessas, eles decidiram ir embora. Foram pra casa rindo, relembrando os bons momentos da festa. Foram para o apartamento de Rafa. Mal entraram e Rafa foi logo tirando o vestido de Lucila. Ela pediu um tempo, precisava i ao banheiro e dar um fim a calcinha bizarra de cintura alta que usava pra não marcar no vestido.
Lucila estava meio tonta, então se apoiou na pia. Derrubou alguma coisa no chão. Procurou e viu que era um anel. Um anel de mulher com uma pedra azul. Atordoada pelo álcool, não conseguia raciocinar direito. Experimentou o anel. Estava apertado no seu dedo e não queria sair. Tentou com mais força, forçou, forçou e nada. Rafa chamava por ela:
- Meu amor, vem logo!
Lucila tentou passar sabonete, hidratante e nada. O anel não saía. Rafa bateu na porta:
- Lú? Está tudo bem? O que houve?
Lucila abriu a porta puta da vida e falou:
- Esta merda de anel, que como você pode ver, não é meu, prendeu no meu dedo. A vaca dona deste anel deve ser anã, não é?
- Anel? Não sei que anel é esse. Mas... seu dedo está ficando preto. Precisamos tirar isso daí. Vou pegar manteiga.
Lucila se sentou no vaso e começou a chorar. Rafa chegou com manteiga e começou a passar no dedo. De tanta força que vez que o anel pulou e caiu no ralo do boxe. Já tinha se passado mais de uma hora desde que chegaram. Lucila estava exausta até para discutir. Se jogou na cama e disse:
- Só quero dormir! Mais nada!
Rafa entendeu o recado.
Os noivos se beijaram. A cerimônia tinha sido emocionante. O nervosismo de André ao pé do altar, a emoção de Ana. As famílias não tiravam o sorriso no rosto, exceto quando as lágrimas de emoção não permitiam sorrir.
Apenas Lucila não havia se emocionado. Na verdade não ouviu absolutamente nada do que o padre havia dito. A tensão ainda não havia ido embora e ela não conseguia parar de pensar no que poderia ter acontecido de tão grave para que Rafa quase a transformasse em uma daminha. A raiva e a desconfiança se alternavam com o medo de estar sendo injusta. Agora finalmente a cerimônia havia acabado e ela saberia o que aconteceu.
Os cumprimentos foram demorados, na opinião de Lucila, é claro. E quando os padrinhos começaram a sair, Lucila quase corria pela igreja. Rafa tentava controlar seu ritmo, mas era quase impossível. Enfim, chegaram o lado de fora da igreja e Lucila continuou a correr, puxando Rafa até um canto. Quando ficaram a sós, ela perguntou incisiva:
- Então? O que aconteceu de tão importante?
Rafa, pegou sua mão com calma e sorrindo respondeu:
- Desculpa, meu amor. Realmente não queria te deixar tão nervosa. Mas depois te explico com calma, tá certo? – Com calma foi andando em direção ao estacionamento. Mas foi surpreendido por um grito histérico da namorada:
- Depois coisa nenhuma!!! Ou você me fala agora o que aconteceu ou nosso namoro acaba aqui e agora!
Rafa ficou assustando. Começou a suar. Sabia que não podia contar a verdade. Mas também tinha se prometido não mentir mais para Lucila. Se contasse o que houve, ela provavelmente terminaria com ele. Se não contasse também. Ele pensava rápido. Estava perturbado, não queria voltar a enganar a mulher da sua vida, mas Deus estava vendo que ele não tinha saída e seria só desta vez. Então respirou fundo, enxugou o suor da testa e respondeu:
- Eu sei que você vai ficar chateada com o que houve, mas prometi que não ia mais mentir pra você. Tive um problema com um processo e tive que ir ao escritório. Eu sei que tinha que prestar atenção no relógio, me desculpe. Mas acabei me envolvendo tanto que perdi a hora. Quando você me ligou ainda não tinha saído de lá e nem tinha pego meu fraque. Sei que estou errado, era importante pra você. Me perdoa, meu amor. Por favor, me perdoa.
Lucila ficou parada tentando analisar a expressão do namorado. Não sabia se acreditava naquela história, apesar de fazer sentido. Ela sabia que era comum que Rafa fosse chamado no escritório aos finais de semana. E sabia que ele esquecia da vida quando estava envolvido em seu trabalho. Ainda ficou um tempo avaliando a cara de Rafa, o que era em vão pois ela nunca soube identificar quando Rafa mentia ou não. Pensou em Ana, na festa de casamento. Pensou nela. Olhou pra Rafa e sentiu um arrepio. Não podia mais viver sem ele. E talvez ele também não pudesse mais viver sem ela. Enquanto divagava, Rafa se aproximou e disse quase chorando:
- Eu estraguei tudo de novo, não foi? Você não me merece, Lú. Você é mulher mais espetacular que eu conheço, não sei mais como ficar sem você. Me desculpa. Prometo não me distrair de novo e perder a hora de um compromisso nosso.
Ele a puxou e a abraçou. Um abraço forte, verdadeiro. Lucila sentia verdade naquele gesto. Olhou nos olhos dele e disse:
- Se você promete.
Rafa sorriu aliviado e lhe deu um beijo apaixonado. Então partiram para a festa.
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Em Miami Consuelo, com ajuda de Ramirez, conseguiu entrar no quarto para visitar Bruna. Ela estava acordada. Absurdamente abatida, olhava para o teto. Um olhar triste e sem vida. Suas mãos seguravam sua barriga, agora oca. Consuelo achou ter visto um lágrima escorrendo. Era um cena angustiante. Ela bateu na porta e entrou dizendo:
- Com licença, Dona Bruna.
Bruna a olhou sem nenhuma expressão. Era como se ninguém tivesse entrado naquele quarto branco e frio. Consuelo se aproximou. Coração apertado. Segurou a mão da patroa e disse:
- Como a senhora está?
Bruna sacudiu os ombros. Voltou a olhar para as luzes no teto. Ficou olhando por alguns minutos. Consuelo não sabia o que dizer. De repente Bruna se virou bruscamente e olhou para Consuelo. Parecia ter acordado. Seus olhos eram quase de raiva e sua expressão assustou a empregada. Bruna perguntou:
- Cadê o Marcelo? Por que ele não veio me ver?
Consuelo engoliu o ar. Pobre coitada. Havia perdido o filho e o marido tinha sumido no mundo, sem nem se preocupar com ela. Tomando coragem, falou:
- Dona Bruna, a senhora precisa ficar calma. Tem que ficar boa logo.
Bruna gritou:
- Consuelo! Eu perguntei onde está meu marido? Eu perdi meu filho! Vou ser presa, sabia? Talvez seja deportada como uma delinqüente qualquer. E o Marcelo? Onde está o Marcelo?
O desespero tomou conta de Bruna que começou a soluçar. Um choro compulsivo. Consuelo tentou a acalmar e depois contou que havia ido até a mansão buscar suas coisas e que Marcelo não estava. Com cuidado disse que ele tinha levado algumas coisas e tentou amenizar:
- Ele deve estar preocupado com a senhora, mas deve ter seus motivos para não ter aparecido, Dona Bruna.
Bruna parou de chorar.
- Ele me deixou.
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Todos os padrinhos reunidos para a foto com os noivos. Lucila tentava disfarçar, mas ainda não estava totalmente recuperada do susto. Ana, apesar de ser só alegria, em um momento notou a tensão da amiga. Ana era assim. Nada escapava dela, era intuitiva e seu palpites sempre eram certeiros. Logo que a sessão de fotos terminou, pediu um foto com sua madrinha especial. As duas sorriram. Flash. Ana se virou para Lucila:
- O que Rafa aprontou?
Lucila primeiro se fez de desentendida, mas sabia que não convenceria Ana. Achou melhor contar a verdade, ou pelo menos parte dela:
- Ah, tivemos uma discussão, mas foi besteira minha. Está tudo bem agora.
Ana não acreditou, mas se permitiu fingir que acreditava. Hoje era seu dia. Nada poderia estragar isso.
A festa estava divina. DJ excelente, decoração de primeira. Animação na pista. Com alguma taças de prosseco até Lucila tinha esquecido o pequeno mal entendido. Rafa dançava com ela, buscava bebidas, dava-lhe toda atenção do mundo. De vez em quando roubava-lhe um beijo, sempre acompanhado da frase: - Você é a mulher mais linda da festa!
Os dois dançaram até a festa acabar. Quando só os noivos estavam no salão, já com as luzes acessas, eles decidiram ir embora. Foram pra casa rindo, relembrando os bons momentos da festa. Foram para o apartamento de Rafa. Mal entraram e Rafa foi logo tirando o vestido de Lucila. Ela pediu um tempo, precisava i ao banheiro e dar um fim a calcinha bizarra de cintura alta que usava pra não marcar no vestido.
Lucila estava meio tonta, então se apoiou na pia. Derrubou alguma coisa no chão. Procurou e viu que era um anel. Um anel de mulher com uma pedra azul. Atordoada pelo álcool, não conseguia raciocinar direito. Experimentou o anel. Estava apertado no seu dedo e não queria sair. Tentou com mais força, forçou, forçou e nada. Rafa chamava por ela:
- Meu amor, vem logo!
Lucila tentou passar sabonete, hidratante e nada. O anel não saía. Rafa bateu na porta:
- Lú? Está tudo bem? O que houve?
Lucila abriu a porta puta da vida e falou:
- Esta merda de anel, que como você pode ver, não é meu, prendeu no meu dedo. A vaca dona deste anel deve ser anã, não é?
- Anel? Não sei que anel é esse. Mas... seu dedo está ficando preto. Precisamos tirar isso daí. Vou pegar manteiga.
Lucila se sentou no vaso e começou a chorar. Rafa chegou com manteiga e começou a passar no dedo. De tanta força que vez que o anel pulou e caiu no ralo do boxe. Já tinha se passado mais de uma hora desde que chegaram. Lucila estava exausta até para discutir. Se jogou na cama e disse:
- Só quero dormir! Mais nada!
Rafa entendeu o recado.
quinta-feira, 7 de maio de 2009
CAPÍTULO 32
Já eram quase duas horas da manhã, quando Bruna ouviu um barulho na porta. Correu até o pé da escada e viu que era Marcelo entrando trôpego. Bruna não acreditou. Primeiro voltou pro quarto e pensou em fingir que dormia. Mas o sangue quente não a deixou engolir as horas de preocupação, de ligações não antendidas, que Marcelo tinha a feito passar.
Bruna desceu a escada determinana, marchando. Logo que Marcelo olhou pra cima, ela falou:
- Não acredito que você não podia me dar ao menos um telefonema.
Marcelo sacodiu a cabeça como alguém que não queria ouvir toda aquela ladainha. Estava bêbado, o que dificultava sua fala, mas mesmo assim puxou ar dos pulmões e falou. Ou melhor gritou:
- Pode parar! Bruna! Bruna! Bruna! Pára! Eu durmo no sofá, é isso? Sem bronca! Não tenho saco pra isso não! Tá ouvindo? Saco... exxxposa. É isso! Dá nisso!
Apesar de enrolar a língua, sua voz era enfática, calaria qualquer um. Principalmente Bruna. Ela olhava e não entendia a cena, a voz, a atitude não era do homem da sua vida, do seu grande amor. Então um enjôo tomou conta de Bruna. Sua vista começou a escurecer. Se segurou com força no corrimão, no alto da escada. Suas mãos estavam frias e suadas. Lá embaixo só enxergava o vulto de Marcelo. Não conseguiu falar nada. Apenas desmaiou.
Todos os vizinhos olhavam das suas varandas o tumulto da casa 9. Carros de polícia, ambulância. Isso sem falar na fuga de todos os empregados pela janela dos fundos quando descobriram que o carro da polícia estava vindo pra casa 9. Todos eles eram ilegais e morriam de medo de serem deportados. Consuelo, apesar do pavor em ser deportada, não conseguiu fugir e deixar sua querida patroa sozinha ali no chão. Marcelo estava bêbado demais pra fazer qualquer coisa, por isso, sem pensar, ligou para ambulância.
Quando os paramédicos entraram, Bruna ainda estava desacordada. Marcelo sentando no último degrau da escada, cabeça baixa apoiada pelos braços. Estava tonto e agora sentia vontade de vomitar. Olhava para os paramédicos e via que eles perguntavam alguma coisa. Não conseguia entender. Consuelo entrou e respondeu todas as perguntas em seu inglês confuso.
A polícia entrou e Consuelo respirou fundo. Olhou para Marcelo que agora tentava se levantar. Uma dupla de policiais se apresentou a Marcelo que os olhava com cara de quem nada entendia. Um dos dois olhou para Consuelo e perguntou:
- Ele é o dono da casa?
Consuelo respondeu que sim e informou que ele acabava de chegar de uma festa e que quando chegou encontrou a esposa no chão e logo ligou chamando ajuda.
O policial mais alto fazia cara de quem não acreditava na história e olhava fixamente para aquele homem bêbado. Ele o conhecia de algum lugar. Seu parceiro, mais atencioso ouvia atentamente a história de Consuelo. Enquanto isso, Bruna era erguida em uma maca. Consuelo correu e perguntou:
- Pra onde vocês vão a levar? Seu Marcelo, pelo amor de Deus. O senhor precisa ir com ela. Dona Bruna não pode ir sozinha.
O policial bonzinho permitiu que Consuelo acompanhasse Bruna na ambulância. Sabia que o marido não tinha condições de ajudar em nada. Insistiu em ver os documentos de Marcelo que só apontou para o alto da escada. O policial bonzinho riu e achou melhor deixar pra lá. O outro não gostou. Pediu um minuto e subiu as escadas. Não achou a carteira de Marcelo, apenas a de Bruna.
- Brasileira? E pelo jeito ilegal.
Desceu com o documento na mão. Procurou em toda a sala os documentos de Marcelo, e nada. Queria deter Marcelo até que ele apresentasse alguma identificação. Mas seu parceiro recebeu uma emergência pelo rádio e saíram da casa ameaçando voltar.
O porre de Marcelo era maior do que a preocupação no retorno dos policiais. Marcelo se jogou no sofá e dormiu.
A ambulância voava na Ocean Drive. Consuelo segurava a mão da patroa e rezava. Rezava por ela, por Bruna e até por Marcelo. Tinha medo de ser deportada. Mas tinha ainda mais medo do sangue que manchava a camisola de Bruna.
Antes de chegarem ao hospital, Bruna acordou. Sentia dores e olhou com desespero para Consuelo que tentou a acalmar:
- Calma! Calma Dona Bruna. Está tudo bem, os doutores já vão cuidar da senhora, viu? Tá cheio de médico bacana aqui.
Bruna tentou falar, mas sentia uma pontada em sua barriga. Passava a mão sobre ela como se pudesse se certificar que estava tudo bem com o seu bebê. Mas não podia. Olhou em volta e não viu Marcelo. Então, veio a cabeça a última cena de que se lembrava: Marcelo bêbado e gritando com ela.
Chegaram ao hospital e Bruna foi levada. Consuelo respirou fundo. Sabia que não podia entrar. Enquanto ensaiava sua fuga, viu que era observada por um dos enfermeiros. Disfarçou mexendo na bolsa. O rapaz se aproximou e disse em bom castelhano:
- Olá! A senhora que é a acompanhante da gestante que foi para emergência?
Consuelo não sabia o que responder. O rapaz com sua prancheta na mão, prosseguiu:
- O hospital exige que se preencha uma ficha com os dados do paciente e acompanhante. A senhora trabalha pra ela?
Consuelo respondeu que sim. Ainda muito assustada prestava atenção no rapaz:
- Sei. Isso é exigido se a pessoa tiver um acompanhante. Como a senhora veio junto na ambulância não tenho como dizer na ficha dela que ela não tem acompanhante. A senhora me entende?
Mais um vez Consuelo respondeu que sim, sacudindo a cabeça. O rapaz colocou a mão no seu ombro e disse sorrindo:
- Mas os paramédicos são meus amigos. A gente dá um jeitinho. Só tem uma condição.
Consuelo se agitou e respondeu:
- Meu filho, eu tÔ aqui pra ganhar a vida. Você acha que se eu tivesse algum dinheiro estaria aqui?
O rapaz riu e a interrompeu:
- A condição não é essa, Dona Consuelo.
Consuelo se perguntou se havia tido seu nome àquele rapaz.
- A condição é que a senhora me dê um abraço. Não está me reconhecendo? Sou eu Ramirez, filho da sua prima Maria.
Consuelo não acreditou. Era muita sorte encontrar um parente querido, ainda mais numa situação como esta. Os dois se abraçaram e Ramirez conseguiu omitir a presença da prima nos relatórios do hospital. Consuelo permaneceu por perto e sabia noticiais da patroa pelo primo.
Umas duas horas depois, Ramirez apareceu com uma cara não muito boa. Consuelo sabia o que isso significava e logo perguntou:
- É o bebê? Ela perdeu o bebê?
Ramirez com um tom fúnebre respondeu que sim e disse:
- Sinto muito. Mas não é só isso prima. A sua patroa e o marido são procurados pela polícia do Brasil. A senhora sabia? Ela vai ser presa, assim que tiver alta. Acho melhor a senhora não ficar por perto. Sem Green Card e a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, né?
- Meu Deus. Pobre Dona Bruna. Ela tava tão feliz com seu bebê. Eu achava que tinha alguma coisa errada, mas não achava que era tão grave. Ramirez, vou até a casa tentar buscar minhas coisas. Já estou com seu telefone. Eu te ligo pra saber notícia da moça, tudo bem?
- A senhora vai pra onde? Tem onde ficar? Pode ficar lá em casa, prima. Vou te dar o endereço e avisar a minha esposa.
Consuelo foi até a mansão e levou um susto. A casa estava revirada e nenhum sinal de Marcelo. Ela subiu até o quarto do casal e o closet de Marcelo estava praticamente vazio, assim como não haviam quase papéis sobre a escrivaninha. Consuelo pegou suas coisas e saiu. Sabia que não veria mais o Dr. Marcelo.
Bruna desceu a escada determinana, marchando. Logo que Marcelo olhou pra cima, ela falou:
- Não acredito que você não podia me dar ao menos um telefonema.
Marcelo sacodiu a cabeça como alguém que não queria ouvir toda aquela ladainha. Estava bêbado, o que dificultava sua fala, mas mesmo assim puxou ar dos pulmões e falou. Ou melhor gritou:
- Pode parar! Bruna! Bruna! Bruna! Pára! Eu durmo no sofá, é isso? Sem bronca! Não tenho saco pra isso não! Tá ouvindo? Saco... exxxposa. É isso! Dá nisso!
Apesar de enrolar a língua, sua voz era enfática, calaria qualquer um. Principalmente Bruna. Ela olhava e não entendia a cena, a voz, a atitude não era do homem da sua vida, do seu grande amor. Então um enjôo tomou conta de Bruna. Sua vista começou a escurecer. Se segurou com força no corrimão, no alto da escada. Suas mãos estavam frias e suadas. Lá embaixo só enxergava o vulto de Marcelo. Não conseguiu falar nada. Apenas desmaiou.
Todos os vizinhos olhavam das suas varandas o tumulto da casa 9. Carros de polícia, ambulância. Isso sem falar na fuga de todos os empregados pela janela dos fundos quando descobriram que o carro da polícia estava vindo pra casa 9. Todos eles eram ilegais e morriam de medo de serem deportados. Consuelo, apesar do pavor em ser deportada, não conseguiu fugir e deixar sua querida patroa sozinha ali no chão. Marcelo estava bêbado demais pra fazer qualquer coisa, por isso, sem pensar, ligou para ambulância.
Quando os paramédicos entraram, Bruna ainda estava desacordada. Marcelo sentando no último degrau da escada, cabeça baixa apoiada pelos braços. Estava tonto e agora sentia vontade de vomitar. Olhava para os paramédicos e via que eles perguntavam alguma coisa. Não conseguia entender. Consuelo entrou e respondeu todas as perguntas em seu inglês confuso.
A polícia entrou e Consuelo respirou fundo. Olhou para Marcelo que agora tentava se levantar. Uma dupla de policiais se apresentou a Marcelo que os olhava com cara de quem nada entendia. Um dos dois olhou para Consuelo e perguntou:
- Ele é o dono da casa?
Consuelo respondeu que sim e informou que ele acabava de chegar de uma festa e que quando chegou encontrou a esposa no chão e logo ligou chamando ajuda.
O policial mais alto fazia cara de quem não acreditava na história e olhava fixamente para aquele homem bêbado. Ele o conhecia de algum lugar. Seu parceiro, mais atencioso ouvia atentamente a história de Consuelo. Enquanto isso, Bruna era erguida em uma maca. Consuelo correu e perguntou:
- Pra onde vocês vão a levar? Seu Marcelo, pelo amor de Deus. O senhor precisa ir com ela. Dona Bruna não pode ir sozinha.
O policial bonzinho permitiu que Consuelo acompanhasse Bruna na ambulância. Sabia que o marido não tinha condições de ajudar em nada. Insistiu em ver os documentos de Marcelo que só apontou para o alto da escada. O policial bonzinho riu e achou melhor deixar pra lá. O outro não gostou. Pediu um minuto e subiu as escadas. Não achou a carteira de Marcelo, apenas a de Bruna.
- Brasileira? E pelo jeito ilegal.
Desceu com o documento na mão. Procurou em toda a sala os documentos de Marcelo, e nada. Queria deter Marcelo até que ele apresentasse alguma identificação. Mas seu parceiro recebeu uma emergência pelo rádio e saíram da casa ameaçando voltar.
O porre de Marcelo era maior do que a preocupação no retorno dos policiais. Marcelo se jogou no sofá e dormiu.
A ambulância voava na Ocean Drive. Consuelo segurava a mão da patroa e rezava. Rezava por ela, por Bruna e até por Marcelo. Tinha medo de ser deportada. Mas tinha ainda mais medo do sangue que manchava a camisola de Bruna.
Antes de chegarem ao hospital, Bruna acordou. Sentia dores e olhou com desespero para Consuelo que tentou a acalmar:
- Calma! Calma Dona Bruna. Está tudo bem, os doutores já vão cuidar da senhora, viu? Tá cheio de médico bacana aqui.
Bruna tentou falar, mas sentia uma pontada em sua barriga. Passava a mão sobre ela como se pudesse se certificar que estava tudo bem com o seu bebê. Mas não podia. Olhou em volta e não viu Marcelo. Então, veio a cabeça a última cena de que se lembrava: Marcelo bêbado e gritando com ela.
Chegaram ao hospital e Bruna foi levada. Consuelo respirou fundo. Sabia que não podia entrar. Enquanto ensaiava sua fuga, viu que era observada por um dos enfermeiros. Disfarçou mexendo na bolsa. O rapaz se aproximou e disse em bom castelhano:
- Olá! A senhora que é a acompanhante da gestante que foi para emergência?
Consuelo não sabia o que responder. O rapaz com sua prancheta na mão, prosseguiu:
- O hospital exige que se preencha uma ficha com os dados do paciente e acompanhante. A senhora trabalha pra ela?
Consuelo respondeu que sim. Ainda muito assustada prestava atenção no rapaz:
- Sei. Isso é exigido se a pessoa tiver um acompanhante. Como a senhora veio junto na ambulância não tenho como dizer na ficha dela que ela não tem acompanhante. A senhora me entende?
Mais um vez Consuelo respondeu que sim, sacudindo a cabeça. O rapaz colocou a mão no seu ombro e disse sorrindo:
- Mas os paramédicos são meus amigos. A gente dá um jeitinho. Só tem uma condição.
Consuelo se agitou e respondeu:
- Meu filho, eu tÔ aqui pra ganhar a vida. Você acha que se eu tivesse algum dinheiro estaria aqui?
O rapaz riu e a interrompeu:
- A condição não é essa, Dona Consuelo.
Consuelo se perguntou se havia tido seu nome àquele rapaz.
- A condição é que a senhora me dê um abraço. Não está me reconhecendo? Sou eu Ramirez, filho da sua prima Maria.
Consuelo não acreditou. Era muita sorte encontrar um parente querido, ainda mais numa situação como esta. Os dois se abraçaram e Ramirez conseguiu omitir a presença da prima nos relatórios do hospital. Consuelo permaneceu por perto e sabia noticiais da patroa pelo primo.
Umas duas horas depois, Ramirez apareceu com uma cara não muito boa. Consuelo sabia o que isso significava e logo perguntou:
- É o bebê? Ela perdeu o bebê?
Ramirez com um tom fúnebre respondeu que sim e disse:
- Sinto muito. Mas não é só isso prima. A sua patroa e o marido são procurados pela polícia do Brasil. A senhora sabia? Ela vai ser presa, assim que tiver alta. Acho melhor a senhora não ficar por perto. Sem Green Card e a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, né?
- Meu Deus. Pobre Dona Bruna. Ela tava tão feliz com seu bebê. Eu achava que tinha alguma coisa errada, mas não achava que era tão grave. Ramirez, vou até a casa tentar buscar minhas coisas. Já estou com seu telefone. Eu te ligo pra saber notícia da moça, tudo bem?
- A senhora vai pra onde? Tem onde ficar? Pode ficar lá em casa, prima. Vou te dar o endereço e avisar a minha esposa.
Consuelo foi até a mansão e levou um susto. A casa estava revirada e nenhum sinal de Marcelo. Ela subiu até o quarto do casal e o closet de Marcelo estava praticamente vazio, assim como não haviam quase papéis sobre a escrivaninha. Consuelo pegou suas coisas e saiu. Sabia que não veria mais o Dr. Marcelo.
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segunda-feira, 4 de maio de 2009
CAPÍTULO 31
Ana acordou e não conseguia mais dormir. Na verdade mal dormiu durante a noite inteira excitada com a idéia que dentro de algumas horas seria uma mulher casada. Desistiu de rolar na cama e decidiu se levantar. Sua mãe também já estava de pé, na cozinha. Quando viu a filha, exclamou:
- Filha! Puxa você já levantou? Eu ia levar seu café na cama!
- Ai mãe, tô com olheiras? Eu mal consegui dormir.
- Não minha filha, você está linda! Ai meu Deus nem acredito! Minha pequenininha vai casar! Meu Deus! Você quer comer alguma coisa?
Ana não tinha apetite, mas não queria ficar fraca. Então se forçou a tomar café. Era muito cedo ainda. Faltavam duas horas para que ela e sua madrinha Lucila fossem para o hotel onde as duas iriam se arrumar. Era o conhecido dia da noiva. Massagens, piscina, hidromassagem, cabelo, maquiagem, tudo! E a noiva e sua madrinha estariam prontas para o grande momento.
Inicialmente Ana havia fechado uma pacote de dia da noiva para ela, Lucila e Bruna. Assim como foi no casamento de Bruna, as três passariam um dia juntas. Mas desta vez Bruna não estava. Ana não sabia nem se ela se lembraria que hoje era o dia de seu casamento. Um misto de tristeza e raiva fazia Ana ficar ainda mais agitada enquanto pensava nisso.
Não demorou muito e Lucila telefonou pra saber como estava a noiva. Combinaram a ida pro hotel e mais tarde foram pra lá.
O hotel era na beira do mar. Muitos gringos hospedados curtindo as belezas naturais e as mulatas cariocas. Lucila e Ana se divertiam em ver os branquelos à beira da piscina bêbados de caipirinha arriscando uns passos do que na cabeça deles, seria samba.
Em frente ao mar azul, a piscina e um bar. Elas sabiam que não poderiam beber. Se começassem àquela hora, a noiva certamente dormiria no altar. Ficaram com seus sucos apreciando a paisagem até dar a hora da massagem. O pai de Ana viria a buscar com o motorista às 19h. E Rafa buscaria Lucila um pouco antes.
Depois da massagem e uma rápida sauna, as duas subiram para o quarto. Era hora de tomar banho e começar a fazer maquiagem e cabelo. As duas riam por qualquer coisa, mas também com a mesma facilidade se irritavam. A cabeleireira e a maquiadora já estavam acostumadas com esse tipo de comportamento, era nervosismo natural de noiva e de sua melhor amiga.
Lucila volte e meia pensava se um dia ela vestiria um vestido como aquele pendurado no cabide. Um vestido de renda branco. Já estivera duas vezes na posição de madrinha e nas duas ocasiões sonhava com o seu casamento. E nas duas vezes sonhava em casar-se com Rafa.
Quando as duas já estavam maquiadas sentiram que precisavam de uma ajuda extra para se aclamarem. Então, o truque aprendido no dia de noiva de Bruna foi mais uma vez aplicado. Lucila ligou pra recepção e disse saber que quando os noivos chegassem da festa, teriam direito a uma garrafa de espumante. O recepcionista concordou e Lucila explicou que a noiva gostaria de receber esta garrafa agora, antes do casamento. Não foi difícil convencer o recepcionista, que ouvia os gritos da noiva que simulava uma crise nervosa. Lucila desligou o telefone e as duas rolaram de rir, se jogando na cama, pra desespero da cabelereira que temia que seus grampos se soltassem. No meio da gargalhada eufórica das amigas, Ana se virou pra Lucila e disse:
- Queria que Bruna estivesse aqui.
Lucila concordou com a cabeça. Apesar de tudo que ela fez, ainda fazia falta. Era Bruna que traria as duas para seus eixos, usando sua calma e tranqüilidade. Seria ela que ajudaria a vestir Ana, usando sua habilidade para roupas. As duas ficaram ainda um tempo deitadas olhando pro teto, até que a campainha tocou. Lucila correu para a porta e recebeu o balde de gelo com o espumante. Pegou duas taças e demorou mais do que o esperado para abrir a garrafa. Logo que conseguiu, serviu as duas e sugeriu um brinde:
- Á noiva mais linda de todos os tempos!
Ana sorriu e quase borrou a maquiagem. Uma emoção tomou conta das duas. Lucila pra desviar o foco, sentou-se ao lado de Ana e disse séria:
- Amiga, tem uma coisa que eu preciso lhe contar.
Ana preocupada fez sinal que ela continuasse. E Lucila prendendo o riso, falou:
- Não existe cegonha! – e riu alto como.
Ana gargalhou também e mais uma vez as duas tiveram um ataque de risos. Enquanto isso, a maquiadora fazia cara feia pensando nos retoques que teria que fazer naquelas duas malucas.
O tempo já passava mais rápido e o nervosismo já havia sido suavizado por algumas taças de espumante. Lucila estava pronta assistindo Ana se vestir. Ela estava linda! Quando fecharam o último botão de seu vestido, Ana parou em frente ao espelho. Parecia não acreditar no que estava vendo. Lucila correu e lhe entregou seu buquê, depois falou:
- Sra. Ana. A senhora está linda! Vamos? O fotógrafo já está lá embaixo.
As duas desceram para sessão de fotos de Ana. Fizeram fotos na escada do hotel, no jardim, na piscina. Junto com Ana haviam outras duas noivas que também posavam pelos cantos do hotel. Quando as noivas se cruzavam faziam uma espécie de cumprimento de noivas. Era engraçado ver as noivas entre os hóspedes, as pessoas as olhavam como se fossem artistas de cinema. E eram! Aliás, eram mais do que isso: eram protagonistas de seu próprio filme.
Já estava quase na hora de Rafa buscar Lucila. Então ela se lembrou de ficar com o celular na mão para quando ele ligasse. Enquanto isso acompanhava Bruna nas suas fotos. A sessão acabou e como Rafa ainda não tinha ligado, Lucila resolveu ligar. Ele custou a atender e foi logo falando em um tom baixo, quase sussurando:
- Oi Lucila, meu amor. Tive um problema. Acho melhor você ir direto pro casamento e que te encontro lá. Depois e te explico.
Lucila ficou sem ação. Duvidou primeiro da veracidade deste “problema”, mas depois achou que não era mentira e ficou preocupada. Contou a Ana que sugeriu então que Lucila fosse no mesmo carro que ela e seu pai. Lucila não aceitou, alegando que iam ficar apertados e que esse era um momento deles. Pediu na recepção que chamassem um táxi e foi sozinha para a igreja.
Lucila não estava feliz de ter que chegar sozinha ao casamento, mesmo que já tivesse feito isso inúmeras vezes em sua vida. Estava chateada e preocupada com Rafa. Logo que chegou, o procurou e não o viu. Cumprimentou a mãe de Ana e outros da família. Viu Juca sentando na ponta de um dos bancos, olhando pra cima como se nada visse. Percorreu a igreja e chegou até a sacristia onde os outros padrinhos esperavam a hora da formação. Rafa não havia chegado. Lucila estava com uma bolsa muito pequena onde nem seu celular cabia, então o carregava na mão para o caso de Rafa ligar. Avistou André e foi até ele. André logo perguntou:
- Cadê o Rafa?
Lucila não sabia se contava a verdade, mas não conseguiu inventar nada. André suspirou. Estava puto com o que tinha ouvido. Sacudiu a cabeça e virou de costas andando em direção aos outros padrinhos. Lucila conseguiu ouvi-lo praguejar:
- Se esse cara não aparecer, eu mato ele.
A reação de André a deixou ainda mais nervosa. Não tinha relógio. Perguntou às horas e faltavam dez minutos para a hora que Ana chegaria. Ligou pra Rafa. Ninguém antendeu.
Ficou andando de um lado para outro. Quando faltavam apenas três minutos, ela foi em direção a André que já a olhava com pior cara possível. Lucila sem jeito, falou:
- Temos um plano B?
André riu de nervoso. Olhou em volta e chamou a cerimonialista. A apresentou pra Lucila e disse:
- Hoje é meu casamento. Não vou me preocupar, ok? Resolvam aí vocês duas o que vão fazer já que um dos padrinhos fez o favor de ferrar com a nossa cerimônia.
Lucila teve vontade de chorar. Tentava de novo o telefone de Rafa e nada. Tocava, tocava e ele não atendia. A cerimonialista tentou a acalmar:
- Você é a melhor amiga de Ana, não é?
Lucila fez que sim. E ela continuou:
- Tenho certeza que Ana não iria me perdoar se você não estivesse no altar. Então vamos fazer o seguinte. – apontou para duas crianças que eram ajeitadas pelos pais – Está vendo o casal de dama e pajem? Você vai entrar com eles, ok? Não tem problema, não vai ficar feio ou esquisito. Vou avisar aos pais.
Lucila não acreditava que isso estivesse acontecendo. Ana odiaria a ver entrar com as crianças. Mas também sabia que a cerimonialista estava certa: Ana odiaria ainda mais não ver a amiga no altar.
Todos os padrinhos começaram a se formar junto aos seus pares seguindo a ordem da cerimonialista que dava orientações sobre qual lado do altar cada casal iria. Depois de orientar os adultos, chegou a vez das crianças. Lucila estava de mãos dadas com as crianças e ouvia as instruções em tom infantil. Pelo menos já tinha garantido um pirulito caso atravessasse a igreja bem bonitinha. Minutos antes, entregou seu celular para a cerimonialista e explicou que por favor não desligasse, pois seu namorado poderia ligar.
Padrinhos formados, Lucila com as crianças e a música começou a tocar. Ela seria a última a entrar, já que agora era uma daminha. Os casais começaram a entrar e Lucila já avistava o carro de Ana na entrada da igreja. Seu coração batia como uma bateria de escola de samba. Por uns instantes pensou que seria melhor se desmaiasse e não passasse por aquele mico. O penúltimo casal entrou e daminha resolveu se jogar no chão. Desesperada Lucila pediu ajuda. Não tinha o menor jeito com crianças. A mãe apareceu e fez uma chantagem qualquer com a menina. Deu certo. A criança parecia de novo um anjo. Lucila aguardava o sinal para entrar quando sentiu uma mão em sua cintura. Era Rafa:
- Me atrasei?
Pegando Lucila pela mão, os dois caminharam pelo tapete vermelho. Só na metade do percurso Lucila, orientada por um dos fotógrafos, conseguiu sorrir. Ela não sabia o quanto se arrependeria de não ter relaxado. Sua imagem no vídeo e nas fotos não seria das melhores.
- Filha! Puxa você já levantou? Eu ia levar seu café na cama!
- Ai mãe, tô com olheiras? Eu mal consegui dormir.
- Não minha filha, você está linda! Ai meu Deus nem acredito! Minha pequenininha vai casar! Meu Deus! Você quer comer alguma coisa?
Ana não tinha apetite, mas não queria ficar fraca. Então se forçou a tomar café. Era muito cedo ainda. Faltavam duas horas para que ela e sua madrinha Lucila fossem para o hotel onde as duas iriam se arrumar. Era o conhecido dia da noiva. Massagens, piscina, hidromassagem, cabelo, maquiagem, tudo! E a noiva e sua madrinha estariam prontas para o grande momento.
Inicialmente Ana havia fechado uma pacote de dia da noiva para ela, Lucila e Bruna. Assim como foi no casamento de Bruna, as três passariam um dia juntas. Mas desta vez Bruna não estava. Ana não sabia nem se ela se lembraria que hoje era o dia de seu casamento. Um misto de tristeza e raiva fazia Ana ficar ainda mais agitada enquanto pensava nisso.
Não demorou muito e Lucila telefonou pra saber como estava a noiva. Combinaram a ida pro hotel e mais tarde foram pra lá.
O hotel era na beira do mar. Muitos gringos hospedados curtindo as belezas naturais e as mulatas cariocas. Lucila e Ana se divertiam em ver os branquelos à beira da piscina bêbados de caipirinha arriscando uns passos do que na cabeça deles, seria samba.
Em frente ao mar azul, a piscina e um bar. Elas sabiam que não poderiam beber. Se começassem àquela hora, a noiva certamente dormiria no altar. Ficaram com seus sucos apreciando a paisagem até dar a hora da massagem. O pai de Ana viria a buscar com o motorista às 19h. E Rafa buscaria Lucila um pouco antes.
Depois da massagem e uma rápida sauna, as duas subiram para o quarto. Era hora de tomar banho e começar a fazer maquiagem e cabelo. As duas riam por qualquer coisa, mas também com a mesma facilidade se irritavam. A cabeleireira e a maquiadora já estavam acostumadas com esse tipo de comportamento, era nervosismo natural de noiva e de sua melhor amiga.
Lucila volte e meia pensava se um dia ela vestiria um vestido como aquele pendurado no cabide. Um vestido de renda branco. Já estivera duas vezes na posição de madrinha e nas duas ocasiões sonhava com o seu casamento. E nas duas vezes sonhava em casar-se com Rafa.
Quando as duas já estavam maquiadas sentiram que precisavam de uma ajuda extra para se aclamarem. Então, o truque aprendido no dia de noiva de Bruna foi mais uma vez aplicado. Lucila ligou pra recepção e disse saber que quando os noivos chegassem da festa, teriam direito a uma garrafa de espumante. O recepcionista concordou e Lucila explicou que a noiva gostaria de receber esta garrafa agora, antes do casamento. Não foi difícil convencer o recepcionista, que ouvia os gritos da noiva que simulava uma crise nervosa. Lucila desligou o telefone e as duas rolaram de rir, se jogando na cama, pra desespero da cabelereira que temia que seus grampos se soltassem. No meio da gargalhada eufórica das amigas, Ana se virou pra Lucila e disse:
- Queria que Bruna estivesse aqui.
Lucila concordou com a cabeça. Apesar de tudo que ela fez, ainda fazia falta. Era Bruna que traria as duas para seus eixos, usando sua calma e tranqüilidade. Seria ela que ajudaria a vestir Ana, usando sua habilidade para roupas. As duas ficaram ainda um tempo deitadas olhando pro teto, até que a campainha tocou. Lucila correu para a porta e recebeu o balde de gelo com o espumante. Pegou duas taças e demorou mais do que o esperado para abrir a garrafa. Logo que conseguiu, serviu as duas e sugeriu um brinde:
- Á noiva mais linda de todos os tempos!
Ana sorriu e quase borrou a maquiagem. Uma emoção tomou conta das duas. Lucila pra desviar o foco, sentou-se ao lado de Ana e disse séria:
- Amiga, tem uma coisa que eu preciso lhe contar.
Ana preocupada fez sinal que ela continuasse. E Lucila prendendo o riso, falou:
- Não existe cegonha! – e riu alto como.
Ana gargalhou também e mais uma vez as duas tiveram um ataque de risos. Enquanto isso, a maquiadora fazia cara feia pensando nos retoques que teria que fazer naquelas duas malucas.
O tempo já passava mais rápido e o nervosismo já havia sido suavizado por algumas taças de espumante. Lucila estava pronta assistindo Ana se vestir. Ela estava linda! Quando fecharam o último botão de seu vestido, Ana parou em frente ao espelho. Parecia não acreditar no que estava vendo. Lucila correu e lhe entregou seu buquê, depois falou:
- Sra. Ana. A senhora está linda! Vamos? O fotógrafo já está lá embaixo.
As duas desceram para sessão de fotos de Ana. Fizeram fotos na escada do hotel, no jardim, na piscina. Junto com Ana haviam outras duas noivas que também posavam pelos cantos do hotel. Quando as noivas se cruzavam faziam uma espécie de cumprimento de noivas. Era engraçado ver as noivas entre os hóspedes, as pessoas as olhavam como se fossem artistas de cinema. E eram! Aliás, eram mais do que isso: eram protagonistas de seu próprio filme.
Já estava quase na hora de Rafa buscar Lucila. Então ela se lembrou de ficar com o celular na mão para quando ele ligasse. Enquanto isso acompanhava Bruna nas suas fotos. A sessão acabou e como Rafa ainda não tinha ligado, Lucila resolveu ligar. Ele custou a atender e foi logo falando em um tom baixo, quase sussurando:
- Oi Lucila, meu amor. Tive um problema. Acho melhor você ir direto pro casamento e que te encontro lá. Depois e te explico.
Lucila ficou sem ação. Duvidou primeiro da veracidade deste “problema”, mas depois achou que não era mentira e ficou preocupada. Contou a Ana que sugeriu então que Lucila fosse no mesmo carro que ela e seu pai. Lucila não aceitou, alegando que iam ficar apertados e que esse era um momento deles. Pediu na recepção que chamassem um táxi e foi sozinha para a igreja.
Lucila não estava feliz de ter que chegar sozinha ao casamento, mesmo que já tivesse feito isso inúmeras vezes em sua vida. Estava chateada e preocupada com Rafa. Logo que chegou, o procurou e não o viu. Cumprimentou a mãe de Ana e outros da família. Viu Juca sentando na ponta de um dos bancos, olhando pra cima como se nada visse. Percorreu a igreja e chegou até a sacristia onde os outros padrinhos esperavam a hora da formação. Rafa não havia chegado. Lucila estava com uma bolsa muito pequena onde nem seu celular cabia, então o carregava na mão para o caso de Rafa ligar. Avistou André e foi até ele. André logo perguntou:
- Cadê o Rafa?
Lucila não sabia se contava a verdade, mas não conseguiu inventar nada. André suspirou. Estava puto com o que tinha ouvido. Sacudiu a cabeça e virou de costas andando em direção aos outros padrinhos. Lucila conseguiu ouvi-lo praguejar:
- Se esse cara não aparecer, eu mato ele.
A reação de André a deixou ainda mais nervosa. Não tinha relógio. Perguntou às horas e faltavam dez minutos para a hora que Ana chegaria. Ligou pra Rafa. Ninguém antendeu.
Ficou andando de um lado para outro. Quando faltavam apenas três minutos, ela foi em direção a André que já a olhava com pior cara possível. Lucila sem jeito, falou:
- Temos um plano B?
André riu de nervoso. Olhou em volta e chamou a cerimonialista. A apresentou pra Lucila e disse:
- Hoje é meu casamento. Não vou me preocupar, ok? Resolvam aí vocês duas o que vão fazer já que um dos padrinhos fez o favor de ferrar com a nossa cerimônia.
Lucila teve vontade de chorar. Tentava de novo o telefone de Rafa e nada. Tocava, tocava e ele não atendia. A cerimonialista tentou a acalmar:
- Você é a melhor amiga de Ana, não é?
Lucila fez que sim. E ela continuou:
- Tenho certeza que Ana não iria me perdoar se você não estivesse no altar. Então vamos fazer o seguinte. – apontou para duas crianças que eram ajeitadas pelos pais – Está vendo o casal de dama e pajem? Você vai entrar com eles, ok? Não tem problema, não vai ficar feio ou esquisito. Vou avisar aos pais.
Lucila não acreditava que isso estivesse acontecendo. Ana odiaria a ver entrar com as crianças. Mas também sabia que a cerimonialista estava certa: Ana odiaria ainda mais não ver a amiga no altar.
Todos os padrinhos começaram a se formar junto aos seus pares seguindo a ordem da cerimonialista que dava orientações sobre qual lado do altar cada casal iria. Depois de orientar os adultos, chegou a vez das crianças. Lucila estava de mãos dadas com as crianças e ouvia as instruções em tom infantil. Pelo menos já tinha garantido um pirulito caso atravessasse a igreja bem bonitinha. Minutos antes, entregou seu celular para a cerimonialista e explicou que por favor não desligasse, pois seu namorado poderia ligar.
Padrinhos formados, Lucila com as crianças e a música começou a tocar. Ela seria a última a entrar, já que agora era uma daminha. Os casais começaram a entrar e Lucila já avistava o carro de Ana na entrada da igreja. Seu coração batia como uma bateria de escola de samba. Por uns instantes pensou que seria melhor se desmaiasse e não passasse por aquele mico. O penúltimo casal entrou e daminha resolveu se jogar no chão. Desesperada Lucila pediu ajuda. Não tinha o menor jeito com crianças. A mãe apareceu e fez uma chantagem qualquer com a menina. Deu certo. A criança parecia de novo um anjo. Lucila aguardava o sinal para entrar quando sentiu uma mão em sua cintura. Era Rafa:
- Me atrasei?
Pegando Lucila pela mão, os dois caminharam pelo tapete vermelho. Só na metade do percurso Lucila, orientada por um dos fotógrafos, conseguiu sorrir. Ela não sabia o quanto se arrependeria de não ter relaxado. Sua imagem no vídeo e nas fotos não seria das melhores.
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